Neste
finalzinho do mês de setembro e início de outubro o mundo político fervilhou.
Dois partidos foram criados, o Pros e o Solidariedade. Este último liderado por
Paulinho da Força, ex-pedetista que há muito trabalha para sabotar o governo
Dilma. Marina e seu (ou sua) Rede (é um partido, é uma Ong?) “nem de direita,
nem de esquerda” deram com os burros n’água, deixando a pré-candidata à
presidência em difícil situação para quem se diz contra “tudo o que está aí”,
mas que ao mesmo tempo uniria num hipotético (e esquisito) governo, petistas e
tucanos!
No
Maranhão, o PT ganhou o noticiário da imprensa e dos blogues por conta da saída
do Deputado Estadual Bira do Pindaré de suas fileiras. Uma surpresa para muitos
e estranho para a maioria pelas circunstâncias e rapidez dos acontecimentos, em
pleno PED (Processo de Eleições Diretas das direções do PT) e aos 44 do segundo
tempo para encerrar-se o prazo das filiações ou trocas de partido junto à
Justiça Eleitoral. A decisão seria motivada por grotesca e surreal carta (http://www.blogjorgevieira.com/2013/09/deputado-bira-do-bira-sai-do-pt.html?spref=fb)
assinada por Raimundo Monteiro, presidente estadual do partido, de cunho
autoritário onde de fato Bira é convidado a sair. É negado a Bira
unilateralmente espaço no programa partidário em resposta à solicitação do
próprio deputado. Mais que isso, “sua permanência [de Bira] na legenda vem se
tornando difícil e, mais recentemente, insuportável”. Evidentemente Monteiro se
refere à oposição que Bira tem feito ao governo do Estado, do qual o PT faz
escassa e vexatoriamente parte através do vice-governador, Washington Oliveira.
Governo que, diga-se apenas de passagem, é um completo fracasso social, um
modelo de descaso em todas as áreas públicas. A carta seria resposta a pedido
de Bira de “acesso ao horário destinado ao programa partidário no rádio e na
TV”. Note-se, a notícia da carta, assinada em 26 de setembro, surge
simultaneamente à notícia da desfiliação de Bira.
Na continuidade dos
acontecimentos, Valter Pomar, dirigente nacional da AE e candidato à
presidência nacional do PT pela chapa A Esperança é Vermelha, ao postar a nota
no facebook, recebe do vice-governador WO o seguinte comentário: “Aos companheiros Da Articulação de
Esquerda informo que a nota assinada (infelizmente) pelo Presidente Estadual do
PT, Raimundo Monteiro foi redigida pelo
Próprio Dep. Bira. Foi um acordo entre os dois em vista do interesse do
Deputado em sair do partido sem perder o mandato...”. O comentário é confirmado
por Monteiro em novo comentário feito no mesmo post, gerando polêmica sobre um
suposto jogo combinado para forjar um pretexto adequado que beneficiaria os
dois lados. Bira sairia com a garantia do mandato e Monteiro, candidato a
reeleição no PT, se livraria de um dos mais importantes apoiadores da
candidatura do principal oponente, Augusto Lobato, apoiado pela Resistência
Petista.
Soa realmente estranho um trecho em
particular da carta. Senão vejamos: “Assim, o Partido dos Trabalhadores reconhece
serem razoáveis os seus motivos, e comunicamos que o partido anui e
concorda de forma irrevogável com a sua pretensão de desfiliação partidária
sem que disso resulte qualquer prejuízo no exercício o mandato de deputado
estadual” (grifo nosso). Como assim? Que “motivos” “razoáveis” são esses e que
“pretensão de desfiliação” é essa com a qual “o partido concorda”, conhecidos
de antemão por Monteiro, supondo-se que a carta foi a provocadora da saída?
Como alguém, e principalmente um parlamentar, supõe que deva sair por ser
convidado por uma única pessoa, por mais importante ela seja dentro do partido?
Imagine se o presidente quiser tirar todos os desafetos do partido. Bastaria
convidá-los a sair? Ora, se o presidente tivesse esse poder, não existiria mais
Resistência Petista.
O motivo é insuficiente. Não se sabe
de nada parecido no PT, e talvez em qualquer outro partido. Talvez por isso
Bira tenha se esforçado por elencar outros em sua “Carta ao povo do Maranhão”,
de 01 de outubro, Bira resgata sua história pessoal de atuação nos movimentos e
no Partido dos Trabalhadores, e a certa altura diz das perseguições e ataques
que sofrera dentro e fora do PT, a mando da oligarquia, concluindo: “Mais recentemente, o vice-governador tornou público o
convite para que os dissidentes da aliança com o PMDB se retirassem. Não fosse
o suficiente, negaram expressamente o direito a minha participação na
propaganda partidária, preterindo a mim em relação a outros, em clara
discriminação. Tudo isso agora oficializado em carta assinada pelo presidente
do Partido”.
O mesmo se diga a
respeito do Dep. Federal Domingos Dutra, muito mais calejado, perseguido, mas
que acumulou muito mais mandatos. Tanto Dutra – que saiu antes para construir o
Rede e agora ingressa no Solidariedade (e já é o vice-presidente) – quanto Bira
– que optou pelo PSB, partido de Roberto Rocha (ex-PSDB)
e Eduardo Campos, que ora deixa a base do governo federal em busca de alianças
à direita (tucanos, peemedebistas e até demistas), recebendo inclusive afagos
da mídia –, ambos os parlamentares reconhecedores dos avanços do governo federal
e até há pouco membros da esquerda petista, campo marcadamente ideológico e
socialista, abraçam pela direita o pragmatismo. Se os parlamentares pretendem
manter exatamente a mesma posição no parlamento, por acaso acham que deixarão
de ser perseguidos pela oligarquia? Se pretendem apoiar a candidatura de Flávio
Dino (e eu rogo que o façam), o que os impediria de fazê-lo dentro do PT? Em
2010 foi o que fez toda a Resistência Petista e é o que fará agora, algo
perfeitamente possível graças ao acúmulo de contradições, erros e
desmoralização do campo petista no governo. Sem falar no momento de total
defensiva do governo Roseana e seu candidato 10%, percentual precisamente o
mesmo atingido por WO, na capital, em 2012! Momento em que há 4 candidaturas à
presidência estadual do PT, duas das quais dissidentes do grupo de WO.
Confirmada a vitória de Flávio Dino, novas possibilidades não só para o
Maranhão, mas também para o PT, com o grupo governista atual deslocado.
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