domingo, 6 de outubro de 2013

DURO DE MATAR: O MITO DE DERROTAR A OLIGARQUIA COM AS ARMAS DA OLIGARQUIA

A "nova oposição": Raimundo Cutrim e José Vieira...
Mudar para que tudo fique como está!


Franklin Douglas (*) 


É possível vencer a oligarquia com os próprios "métodos" da oligarquia? E, uma vez vencendo com as armas da própria oligarquia, valerá a pena ganhar assim?
A história parece nos ensinar o caminho.
Pelo golpe judiciário não. A oligarquia opera nessa instância com o uso de 50 anos de influência, local e nacional, pelo exercício da Presidência da República que o destino lhe deixou cair no colo.
Pela via parlamentar e com o apoio de prefeitos, sobretudo dos pequenos municípios, menos ainda. Como dizia o ex-governador Jackson Lago, às vésperas de sua cassação pelo TSE, em 2009, ante a quase ausência de deputados e prefeitos a seu lado para fazer a resistência ao golpe, "esses prefeitos e deputados são como passarinho, se tem alpiste, vêm aos montes, quando acaba o alpiste, vão todos embora!".
A resistência ao golpe judiciário de 2009, ainda que por poucos dias, só foi possível pela determinação de Jackson Lago em fazê-la e pelo apoio de setores dos movimentos sociais em levá-la às ruas. Não ganhou a proporção almejada pelos erros do secretariado que o pedetista nomeou sob os acordos de campanha, e devido a boa parte desses secretários terem repetido as mesmas práticas administrativas que condenavam quando a oligarquia exercia o governo (nepotismo, corrupção, concentração de poder etc.). O desgaste com policiais civis e professores foi exemplo maior, mas a influência dos setores mais conservadores presentes no governo neutralizou a participação popular efetiva na gestão, que virou um balcão de grandes (e pequenos) negócios entre as dissidências oligárquicas que participaram da eleição de 2006,  na Frente de Libertação do Maranhão.
Se não é pelo judiciário ou pelo parlamento, por onde, então, vencer a oligarquia?
Pelo seu ponto mais fraco: a mobilização e organização do povo.
Nas manifestações de junho, o que não se viu na mídia foi que, a palavra de ordem "Sem partido! Sem partido!", puxada nas passeatas e nas praças pela juventude do PMDB (observemos que não era a massa da juventude, mas um setor querendo manipulá-la), era sufocada pelo grito "SARNEY LADRÃO, DEVOLVE O MARANHÃO!"
Foi somente com a mobilização popular que a oligarquia sofreu derrotadas no Maranhão. Foi assim na CPI do Crime Organizado, em 1999, que obrigou a oligarquia a cortar na própria carne para entregar os anéis e preservar os dedos, ante o desbaratamento da quadrilha com raízes dentro da família Sarney. Deputados foram cassados, bandidos presos, roubo de cargas parcialmente desbaratado.
Desconsiderar essa lição da História é repetir erros que só podem levar a tragédias.
Nesse cenário, a oposição consentida, ao colocar-se para a disputa buscando a vitória com as mesmas armas do adversário não escreve mais do que a crônica antecipada de sua derrota. Que sentido, por exemplo,  tem a filiação do deputado estadual Raimundo Cutrim (ex-DEM, ex-PFL) ao PCdoB?
Perdem discurso: não poderão mais levantar qualquer crítica à política de segurança da oligarquia, pois ela é fruto de vários anos de atuação do próprio Raimundo Cutrim, quando secretário de Segurança Pública do governo oligárquico.
Perdem credibilidade junto intelectuais da academia e apoios de importantes personalidades e setores da luta por direitos humanos.
Perde o sentido de antagonismo inconciliável no embate, único mecanismo pelo qual o povo compreende a diferença entre oligarquia e oposição e se torna ativo, tomando posição nas ruas e nas urnas para derrotar a família Sarney. Acaso contribuiu para esse cenário a adesão de velhas raposas oligárquicas como o José Vieira?
Vencer a oligarquia com seus métodos, com suas dissidências, já vimos ser erro. E errar uma vez é humano, mas repetir o erro...
Como costumava dizer o ex-deputado Luís Vila Nova, nas reuniões do PT, o mais besta ali montava um relógio com as mãos com luvas de boxe, pois lá tinha todo tipo de animal, menos um: o burro. Na oligarquia, tem camaleão (como diz o deputado federal Domingos Dutra), tem canguru (como analisou o professor Wagner Cabral), tem gato de sete vidas... só não tem burro. Subestimá-la achando que se pode vencê-la com suas armas, mesmos recursos, factoides e marketing trata-se de um mito que já deveria ter sido superado.
Uma vez mais, alertamos: o sarneismo sem Sarney não é o horizonte da esperança e nem das transformações políticas desejadas pela maioria do sofrido povo maranhense.


(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 22/09/2013, p. 12 - e republicado, nesta versão atualizada, na edição de 06/10/2013, p.12)

Nenhum comentário: