Wagner Baldez (*)
A população cordina
despertou de alma festiva, ao ter notícia da visita que o dr. Henrique de La Rocque
faria a essa urbe sertaneja.
Seria a oportunidade das
pessoas conhecê-lo pessoalmente: desejo este nutrido há tempo, por tratar-se de
um ilustre conterrâneo, cujo serviço prestado à nação – principalmente na era Vargas
-, tornou-se o motivo de sua consagração como homem público.
Tão logo anoitecera, a
sala de nossa residência encontrava-se completamente ocupada pelas pessoas
ansiosas em cumprimentá-lo, inclusive declarando apoio à sua candidatura.
Nesse ambiente de
cordialidade, tivemos a satisfação da presença, recém-chegada, de José Maria
Uchôa, remanescente do fundador da cidade.
Ressaltamos, por
oportuno e necessário, não se tratar apenas de tão significativo fato
histórico, mas também pela dimensão de suas excelsas virtudes, inspirando-nos à
produzir um breve comentário a respeito de sua pessoa: Uchôa era um desses
viventes dotado de uma admirável cultura livre; sendo por nós outros tratado
por filósofo. De bengala a sustentar-lhe o peso da idade avançada, dava
aparência de Diógenes, sábio e filósofo grego; sobretudo nas noites, em que
conduzia o seu lampião, o qual lhe facilitava na labuta de localizar e capturar
insetos que infestavam a vegetação às margens do rio Corda. Citado produto era
remetido para as instituições cientificas em São Paulo, sendo modestamente
remunerado.
Jamais estendia as mãos
à caridade pública. Só recebia oferta quando feita espontaneamente por amigos e
admirados. Em tais ocasiões, tinha por hábito agradecer com palavras bastante
sugestivas:
“Deus te livre do mal
vizinho; da poeira do caminho e do nocivo efeito provocado pelo capitalismo!”.
Pois bem ... no momento
em que se aproximava do Dr. La Rocque, saiu-se com esta tirada: “se cá me
encontro é com o único desejo de conhecer o deputado suro – expressão que
causou espanto geral entre os que se encontravam no recinto, por não entenderem
o significado da mensagem! Alguns até admitiram tratar-se de falta de cortesia
ou fina crítica; aliás, normal no procedimento do filósofo em algumas
circunstâncias...
A partir desse instante,
o silêncio instalou-se de forma sepulcral!
O autor da expressão,
sentindo o clima desconfortável, apoderar-se dos circunstantes, procurou, de
imediato, reverter a situação, usando da seguinte explicação: “se assim me manifestei,
é por não ter ele “rabo” em condições
suficientes que possa alguém segurá-lo na intenção de incriminá-lo. Basta
o conceito que lhe é atribuído ao nível nacional como sendo um personagem sem
jaça, isento dos vícios da corrupção cultivadas pela maioria dos políticos de
nosso estado e alhures”.
Mediante consubstanciado
informe, ouviu-se o prorromper de palmas aclamando ambos os personagens.
Em breve pronunciamento,
o Dr. La Rocque agradeceu carinhosamente a presença dos que ali se encontravam;
palavras que se tornaram hóspedes das lembranças de seus inúmeros admiradores.
(*) Wagner
Baldez - Funcionário Público Aposentado, é membro da Comitê de Defesa
da Ilha e fundador do Instituto Maria Aragão. Integra a Direção Estadual
do PSOL/MA.
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