O debate sobre Desenvolvimento que nem Lobão Filho nem Flávio Dino querem... |
Sequestram o povo
do debate sobre o modelo de desenvolvimento para o Maranhão.
Como? Simples:
ocultando, ignorando, silenciando aqueles que ousam questionar o modelo
instaurado no país desde a Ditadura Militar (anos 1960-1980) e reforçado pelo
governos civis que a sucederam (de Sarney a Dilma, passando por Collor, Itamar,
FHC e Lula – anos 1990 até hoje).
Nesse modelo, resta
ao país o papel de fornecedor primário de insumos e matérias-primas aos países
industrialmente desenvolvidos. Nessa economia de “enclave”, vão-se o minério de ferro, o alumínio, o nióbio,
dentre outros de nossos minerais, a preços ridículos; voltam-nos produtos
manufaturados a preços exorbitantes. Trata-se da reiteração da lógica do velho
pacto colonial existente entre Brasil e Portugal, entre os séculos XVI e XVIII.
Mudamos apenas de metrópole.
Denuncia o
professor Aluísio Leal (UFPA):
“- Em 30 anos,
retirou-se 50 milhões de toneladas de manganês do Amapá, deixaram lá apenas uma imensa cratera cercada
de mato;
- Uma tonelada de minério custa 1.500 dólares, uma tonelada de
avião custa 50 mil dólares e uma tonelada de satélite custa 5 milhões de
dólares: o Brasil só produz o minério...
- O Brasil continua se especializando em produzir gado, soja
(para consumo de animal criado na Europa) e minério, um país
primário-exportador;
- Nossa Amazônia foi apenas mais um espaço do saque. Nenhuma
perspectiva de desenvolvimento efetivo para a região... Os projetos minerais
são pensados para durar, no máximo, três ou quatro décadas e, depois disso, as
multinacionais vão embora”.
Na ponta de lança
desse modelo está o Maranhão: mero fornecedor primário-exportador. É esse o
desenvolvimento, que vigora nos últimos 50 anos, que queremos ao Maranhão?
Eis a pergunta que
incomoda oligarquia e oposição consentida.
As duas
candidaturas da estrutura oligárquica maranhense não querem esse debate. Pois a
mínima reflexão sobre ele evidencia que as duas forças se equivalem na defesa
de um mesmo modelo: o modelo de desenvolvimento maranhense capitaneado pelo
tripé monocultura da soja-agronegócio/mínero-metalúrgico-Alumar e Vale/energético-Refinaria
Petrobras e Termelétrica Eike Batista.
Nem a candidatura
Lobão Filho nem a candidatura Flávio Dino rompem com esse modelo devastador de
nossas riquezas naturais.
Não por acaso
nenhum dos candidatos se fez presente no Seminário Internacional Carajás
30 anos, que reuniu mais de 1.000 pessoas, de diversos países (Canadá, Itália,
França, Argentina, Colômbia, Peru, Moçambique, etc.), os principais grupos de
pesquisa da academia nessa temática (grupos da UFMA, UFPA, UEMA, IFMA, etc.), diversas
nações indígenas (Awãs, Krikatis, Guajajaras, etc.), dezenas de organizações
populares (MST, Justiça nos Trilhos, Fórum Carajás etc.) , organismos da Igreja
Católica (Cáritas, CPT, CIMI etc.), estudantes, professores e militantes
sociais. A ausência dos dois pré-candidatos explicita que eles querem que esse
debate seja IGNORADO na agenda política de 2014.
Saudado por todos
os bispos do Maranhão e pela CNBB, repercutido em órgãos internacionais dos
países que estiveram no Maranhão, entre 5 e 9 de maio, para cobrir o seminário,
o debate sobre o Projeto Carajás não mereceu uma linha na imprensa tradicional
maranhense; uma imagem nos telejornais da capital; um segundo no radiojornalismo
maranhense. Esse debate não VALE ser pautado. É preciso que ele seja OCULTADO
da esfera pública de discussão.
Mas, e a
blogosfera, o campo supostamente mais democrático da rede mundial de
computadores? Dividida entre sarneyzistas, dinistas e seus satélites, também
nela o debate foi INTERDITADO, para não causar embaraços a seus candidatos.
E, assim, NÃO VALE
DEBATER O FUTURO DO MARANHÃO, que não seja sob a lógica oligarquia Sarney versus anti-oligarquia Sarney. Só interessa que o povo
assimile os adjetivos, não questione os substantivos da política maranhense.
E o que se busca
SILENCIAR nesse debate? Almeja-se desconhecer esta realidade:
“O Seminário
Internacional Carajás 30 Anos [...], após todos os debates, reflexões,
articulações e mobilizações que fizemos ao longo do processo, incluindo os
Seminários Preparatórios realizados em Imperatriz, Santa Inês, Marabá e Belém,
afirmamos que:
- O extinto Programa Grande Carajás, cujas
continuidades, hoje, são comandas pela Vale e seus parceiros, impôs um modelo
de desenvolvimento que trouxe enormes prejuízos sociais, econômicos, políticos,
culturais, artísticos, ambientais à Amazônia oriental. Mineração, exploração
ilegal de madeira, indústrias poluidoras, pesca predatória, monocultivos,
pecuária extensiva, especulação imobiliária no campo e na cidade, obras de
infraestrutura provocam profundas alterações nas paisagens e nos modos de vida.
- Vivemos sob uma economia de enclaves,
controlada por grandes corporações de alcance internacional e, assim como em várias
partes do mundo, somos submetidos a: descomunal concentração de terras (a maior
do país); poluição; destruição dos ecossistemas; concentração de renda;
violência e assassinatos no campo e na cidade; trágicos conflitos fundiários;
precarização do trabalho; trabalho escravo e infantil; desmonte da legislação
trabalhista, ambiental e territorial; processos compulsórios de migração;
aumento da miséria; genocídios de povos e comunidades tradicionais;
desigualdade de gênero; marginalização da juventude e velhos.
- [...] chamamos a sociedade da Amazônia, do
Brasil e internacional a refletir e resistir contra o desenvolvimento imposto
pelo capital e a lutar por: soberania dos povos; democracia popular; reforma
agrária; demarcação de territórios indígenas, quilombolas e de populações
tradicionais; direito à moradia; soberania alimentar; conservação do ambiente; respeito às culturas
e tradições; Enfim, lutar pela vida.” (CARTA DE SÃO LUÍS).
Chico de Oliveira reflete que,
em 60 anos de experiência democrática, o Brasil teve 35 anos de ditadura
(Getúlio Vargas – 1930 a 1945; e Militar – 1964 a 1984). Lembremos que nos últimos 60
anos de estrutura oligárquica (de Vitorino Freire a José Sarney), imperou no
Maranhão a lógica que ignora, oculta, silencia, interdita a participação do
povo no debate sobre os rumos de nosso estado.
No Brasil e no Maranhão, o que
se tem de debate democrático na esfera pública foi conquistado pela luta dos
movimentos populares, por aqueles que nunca foram considerados na cena política.
Aqueles que se esquivam dessa
realidade, desse debate, mantêm um SILÊNCIO NADA INOCENTE que reforça a ideia
de que ao povo só cabe o voto, no dia da eleição, e nada mais!
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 18/05/2014, opinião - p. 03
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