domingo, 18 de março de 2012

PROFESSOR: PROFISSÃO LUTADOR

Franklin Douglas (*)


Na semana passada, o movimento dos professores tomou ruas, praças, redes sociais e turmas de escolas e faculdades. Defendem para a categoria o que já devia ser considerado direito líquido e certo: melhores salários, condições de trabalho e mais verbas para a Educação.
Profissional responsável pela formação de todos os demais profissionais da sociedade, o professor vê sua dedicação, vocação e labuta diária cada vez mais desprestigiadas e mal valorizadas. Profissão ícone e objeto de desejo até bem pouco tempo atrás, já não encanta os jovens em busca de um lugar ao mercado de trabalho.
Mal pago, o professor brasileiro, comparado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) a docentes de 38 outros países, só tem salário superior a dos professores em início de carreira no Peru e na Indonésia. O salário médio do professor brasileiro durante um ano é metade do que recebem seus colegas na Argentina e no Uruguai. Um sexto do que recebe o professor na Suíça. A luta é por garantir ao professor brasileiro o piso salário nacional de R$ 1.451,00 pela jornada de 40 horas semanais.
Sem condições de trabalho, no Brasil as classes são mais cheias, com mais aluno por professor, demandando dele mais tempo e atenção. Ainda de acordo com a Unesco, no Ensino Médio brasileiro, o número de alunos por professor é de 38,9 – é a maior razão encontrada em 33 países dos 38 pesquisados pela instituição. O clamor em alguns municípios maranhenses chega a ser absurdo: é por quadro, giz, carteiras e escola de tijolo e telhado – não de taipa coberta por palha...
Com pouco investimento na Educação, tem-se inviabilizada uma estratégia efetiva de desenvolvimento. No Brasil, apenas 3,9% de seu PIB (Produto Interno Bruto) é investido em Educação. Para se ter ideia, nos Estados Unidos, país de filosofia (neo)liberal e de minimização do Estado, investe-se 7,4% do PIB na área educacional. Na Bolívia, país com menos recursos que o Brasil, o investimento em educação equivale a 6,4% do PIB daquele país. A África do Sul investe 5,4%. Cuba, em condições imensamente desfavoráveis a sua economia, investe 9,1% do PIB em Educação. A reivindicação dos educadores é que o Brasil destine 10% de seu PIB para o investimento em Educação.
Sem salário digno, condições de trabalho e recursos para a educação, a vida do professor é cada vez mais parecida, qualquer que seja seu espaço:
- na educação indígena, onde os professores advindos das etnias não são respeitados em seus direitos no Maranhão;
- na creche, na alfabetização ou no ensino fundamental, onde os professores de São Luís, em greve, reivindicam reforma nas escolas e reajuste salarial. E a população, muitas das vezes, substituindo a obrigação da Prefeitura por escolas comunitárias que lutam arduamente para garantir a alfabetização às crianças dos bairros de nossa cidade;
- no ensino médio, onde os professores lutam pelo respeito ao piso salarial nacional no Maranhão, além de um plano de carreira e um estatuto do magistério;
- na prática desportiva, onde os profissionais da Educação Física sequer têm instrumentos, quadras, ginásios para lecionarem (O Castelinho míngua, o ginásio Marista abandonado, as quadras das escolas estaduais deterioram-se...);
- no ensino da música, onde a escola de música Lilah Lisboa está prestes a cair, por falta de reforma no prédio... Os professores tiveram que suspender suas atividades (mas R$ 10 milhões para a Beija-Flor, têm...);
- no ensino de idiomas, onde nas escolas públicas é precaríssimo e todo o esforço do professor mal dá para os alunos saberem o “the books on the table...”;
- no ensino dos cursinhos, onde o corre-corre do professor pulando de um a outro, a fim de garantir o salário que minimamente dê um pouco mais do que o necessário para pagar a prestação do carro e a gasolina, reduz-se seu trabalho à quantidade de acertos nas questões do ENEM;
- no ensino privado, onde as condições são um pouco melhores, nas escolas de ponta, o professor é quase que um profissional 24 horas, sem tempo à vida pessoal;
- no ensino superior privado, onde docentes vendem sua hora-aula a valores irrisórios, sem direito a fazer pesquisa e extensão, apenas “cuspe” e quadro branco, quando não veem suas notas vendidas inescrupulosamente;
- no ensino superior federal e estadual, onde o Governo Dilma privatiza sua aposentadoria, superlota as salas de aula, nivela a qualidade da produção científica ao produtivismo no qual o docente vale pelo número de artigos que publica; ou no “melhor governo da vida de Roseana”, onde a UEMA, com parcos recursos, tem seus campi do interior sem quaisquer condições de funcionamento...
Como se vê, caro leitor, cara leitora, em todos os espaços da docência, nos tempos atuais, o professor mata um leão por dia, como nas arenas de antigamente. A professora, em condição pior ainda pelo acúmulo de suas tarefas como mulher, mãe, dona de casa, esposa...Mas do que nunca, professores e professoras, são uns lutadores!!


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(*) Franklin Douglas - 
jornalista e professor, e
screve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 10.03.2012, p. 16)

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