domingo, 25 de março de 2012

Artigo - Silvio Bembem e João de Deus: O PT de São Luís/MA: entre a submissão à oligarquia e a resistência histórica

Sílvio Bembem (*)
João de Deus Castro (**)


25 de março. Eis a data fatídica de realização das prévias indiretas de escolha dos 220 delegados do PT de São Luís que escolherão, em encontro no dia 15 de abril, o candidato do partido a prefeito da cidade. É certo que o partido terá candidatura própria e todos os olhares voltam-se para o PT da capital maranhense num momento crucial, que dará o rumo para, dentre outras coisas, o pleito para o governo do estado em 2014. Dois nomes disputam a indicação: o deputado estadual Bira do Pindaré contra o vice-governador Washington Oliveira. Seis chapas disputam os votos dos mais de 2500 filiados/as aptos a votar.


O partido segue polarizado entre as duas direções que o dividem pelo menos desde 2010: de um lado, a saída pela esquerda, representada pelo campo Resistência Petista, liderado pelo dep. Bira, que apoiou Flávio Dino ao governo do estado; de outro, a servidão do PT à oligarquia mais longeva do Brasil, liderada pelo vice-governador WO. Aliás, e isso é impressionante, esta última pré-candidatura não saiu de dentro do PT, mas foi inventada nas hostes da oligarquia Sarney, se é que não foi ideia do próprio chefe de família depois de várias tentativas infrutíferas com nomes mais tradicionais do clã.

Está em jogo a democracia partidária e o exercício da liberdade de escolher o candidato do PT sem interferência do Palácio dos Leões. Segundo algumas análises, a candidatura do vice-governador WO a prefeito é uma jogada da oligarquia para aniquilar o PT do Maranhão, e impedir uma possível aliança com os partidos do campo democrático-popular (PCdoB, PSB, PDT...), evitando a possibilidade de estarem juntos em 2014 em apoio à candidatura de Flávio Dino a governador, e, claro, demovendo uma candidatura competitiva como a do dep. Bira a prefeitura de São Luís.


Mais uma vez, vários petistas históricos como Manoel da Conceição, dep. Dutra, Jomar Fernandes, Terezinha Fernandes, Sílvio Bembem, Augusto Lobato, Márcio Jardim, Salvador Fernandes, Luís Carlos Cintra, Prof. Francisco Gonçalves, Joseane Gamba, Joan Botelho, Carlito Reis, Creuzamar de Pinho, Marlon Botão, Ed Wilson, Luís Pedrosa, Ivaldo Coqueiro e tantos outros, unem-se do mesmo lado, apoiando a candidatura do dep. Bira. A outra pré-candidatura tem seu apoio mais firme no Palácio dos Leões, de onde não poupa recursos para cooptação e compra de posições políticas em troca de cargos, empregos e melhoria de vida, aproveitando-se inclusive da vulnerabilidade sócio-econômica de muitos companheiros petistas, mas também da venalidade de outros.


O vice-governador é conhecido em São Luís, mas, nunca tendo sido eleito a nada, virou a casaca e sucumbiu diante do poder oligárquico, alegando uma obscura estratégia de reforçar a governabilidade no nível federal. Estratégia que, a nosso ver, só tem sentido se paralelamente fortalecermos a esquerda nas localidades. Do contrário, cedo ou tarde, o governo petista seria engolido pela direita. E é claro, a sarneyzada, nessa situação, retornaria a seu lugar natural na esfera federal, o retrocesso, de onde aliás nunca saiu, já que a influência programática que esse setor tem sobre o governo nunca foi boa, daí o incômodo permanente. É fundamental derrotarmos a oligarquia aqui, como se deu em outros locais, a bem da própria governabilidade, de mais avanços sociais no Brasil e da mudança do quadro de calamidade de São Luís e do Maranhão. Mas o vice-governador não tem mais essa preocupação, e seu grupo se conforma docilmente em poucos e inexpressivos cargos, enquanto a ação de governo do estado reproduz o de sempre, ou seja, enriquecimento de poucos e empobrecimento da maioria de nosso povo. O Maranhão, que segue com altos índices de desempregados, analfabetos ou subalfabetizados, onde o latifúndio campeia e a democracia passa ao largo, é terreno fértil para que o dinheiro tenha um peso maior que as ideias, as ideologias e os sonhos por dias melhores para todos.


É Inegável que, apesar de ser o 16º PIB do país, com o segundo maior porto do mundo, com grandes (mas poucas) empresas no estado gerando riquezas (para o capital internacional), o Maranhão ainda seja o estado mais pobre da federação e que qualquer avanço social do país esbarre em suas fronteiras, mesmo que o grupo no poder tenha tido todo apoio de cima, cargos federais e verbas, o que só serviu para preservar o apartheid social que vem caracterizando nosso estado há tanto tempo. Neste sentido, o grande desafio é derrotar esse modelo de capitalismo oligárquico periférico de mais de quatro décadas instalado no território maranhense e lutar pela superação das desigualdades, da pobreza e da concentração de renda.


O PT, ao se aproximar da oligarquia Sarney e de setores do grande capital, se afasta da classe trabalhadora. E por isso é importante para Sarney tê-lo sob seu controle no Maranhão. A banda do PT na condição de servidão voluntário ao governo do Estado, com cargos na estrutura, mas sem protagonismo, tem feito um bom serviço de rebaixamento da política.


A sorte está lançada aos filiados/as. É hora de não ter medo da mudança e votar contra o entreguismo e a submissão representada pelo vice-governador. É hora de Bira prefeito de São Luís pelo Partido dos Trabalhadores. Ou isso ou o PT da capital estará sepultando seu futuro enquanto partido de esquerda, de massas, de base e dos trabalhadores/as.


(* ) Administrador, especialista em Sociologia (Uema), mestrando em Ciências Sociais da PUC/SP. E membro do Diretório Estadual do PT/MA.
(**) Ex-secretário de Juventude do PT/MA e servidor público do MPF/SP

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