Franklin Douglas (*)
O assassinato do jornalista Décio
Sá foi covarde, bárbaro, violento. Não se deseja uma morte dessas ao pior
inimigo. Foi a expressão máxima de que a pistolagem impera no Maranhão, não tem
respeito sequer pela elite política oligárquica que, com leniência, deixou que
ela florescesse.
Ligado diretamente a Fernando
Sarney, a Ricardo Murad e muito bem quisto pelo patriarca da oligarquia e por
sua filha-governadora, a pistolagem não tomou conhecimento dessas ligações: ousou
matar Décio Sá, cuja oligarquia que ele tanto defendeu sequer conseguiu
protegê-lo.
Conheci Décio no curso de
Comunicação Social. Embora um ano a minha frente, formamos na mesma turma. Na UFMA,
posicionávamos em grupos estudantis diferentes, contudo, ambos sob influência
das teses progressistas da esquerda forjada na universidade. Era essa a cultura
política predominante na UFMA dos anos 1990. Fora do espaço de resistência da
universidade, a cultura política hegemônica era o clientelismo, o
patrimonialismo, o mandonismo. Ao invés de resistir, inclusive por sua origem
de classe, Décio optou por tornar-se um orgânico militante da classe dominante
maranhense. Viu por esse caminho a via mais rápida para ascender no jornalismo,
primeiro na Folha de São Paulo, depois n´O Estado do Maranhão.
Pioneiro na blogosfera, incorporou
a lógica da produção noticiosa da internet e postava freneticamente, o que lhe
deu público crescente, ainda que isso custasse a reputação de muitos, a
intimidação de alguns (a exemplo do que fez com a reportagem da Folha quando
esta veio verificar denúncias de compra de votos nas eleições de 2010) ou a
exposição da vida privada de outros. Seu único limite era o núcleo da família
Sarney-Murad ao qual se vinculou.
Fruto dessa formação social à
qual se submeteu, Décio Sá imaginou-se intocável. Por isso, sob o interesse de
seu grupo, foi a ponta de lança da oposição midiática aos governos Zé Reinaldo
e Jackson Lago, enfrentou a Vale, denunciou empresários playboys, lideranças
periféricas do sarneismo que foram e voltaram – a quem rotulou de “balaios” –, juízes,
desembargadores, alguns crimes de pistolagem...
Nossas divergências com a opção
política de Décio não impediram de evitar que ele levasse uma surra da turma do
atual vice-governador, num encontro do PT, em 2005. Enfurecido pelos textos que
Décio publicava das ramificações do escândalo do mensalão com seu grupo no PT
maranhense, Washington expulsou-lhe do auditório do Hotel Praiamar,
insultando-lhe de “imprensa marron” ao microfone, o que levou a formar no meio
do auditório uma espécie de corredor polonês que Décio só escapou graças à
intervenção de Augusto Lobato, Márcio Jardim e nossa lhe retirando do recinto –
os mesmos que ele não poupou em “detonar”, como dizia, em seus textos. Com seus
erros e acertos, era de carne e osso, nem santo, nem demônio...
Só a forte cobrança da opinião
pública maranhense obrigará o sistema de segurança pública a dar resposta ao
assassinato do jornalista Décio Sá, tal como ocorreu no caso "Stênio
Mendonça", na década de 1990.
Independe da qualidade e da opção
ideológica do jornalismo feito por Décio, é obrigação de todos nós a exigência
pela elucidação do crime, pois se trata de uma vida humana barbaramente ceifada,
do direito à liberdade de expressão (de todos! E não apenas da liberdade da
imprensa poder falar), de encorajar jornalistas a não calarem e afastar deles –
e da sociedade – a cultura do medo, de silenciar por receio de represálias.
Só a cobrança da sociedade,
repito, obrigará a oligarquia a cortar na própria carne, como foi obrigada a
fazer na CPI do Narcotráfico/Crime Organizado. Sobretudo porque a violência é
estrutural, criada e incorporada ao sistema político pela elite política que o
conformou nos últimos 50 anos. Ontem foi o líder quilombola Flaviano Pinto (em
São João Batista) e trabalhador rural Raimundo Alves “Cabeça” (de Buriticupu),
hoje o jornalista Décio Sá... amanhã poderá ser qualquer um, se os maranhenses
se calarem.
O que está na berlinda é a
política de segurança pública do “melhor governo da vida” de Roseana, onde a
pistolagem e a impunidade reinam à solta: só neste mês de abril foram 53
homicídios na ilha de São Luís. Praticamente dois assassinatos por dia!
Pautar um falso debate sobre
“gorilas diplomados” é querer levantar uma cortina de fumaça diante da falta de
aparelhagem/estrutura/pessoal da Polícia para chegar ao mandante do crime...
As metralhadoras da oligarquia
deveriam mirar a investigação sobre o mandante do crime, ao invés da defesa
truculenta da mesma, que quer tutelar a OAB, impondo quem deve e quem não deve
dirigir suas comissões internas, ou quer impedir até o direito de opinião dos
que não concordam com sua visão do Maranhão.
Não é a cidadania maranhense que
está em xeque, tampouco a mulher ou o homem de bem, como você caro leitor, cara
leitora. Quem está em xeque é a oligarquia!
Não à pistolagem!! Não à
impunidade!!!
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(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 29/04/2012, página 16)
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 29/04/2012, página 16)
Um comentário:
Quando Sarney bota a mão no ombro de alguém ele está com uma "faca" na outra mão.
Se a polícia do MA não fosse de Sarney, assim como o Poder Judiciário do MA, certamente as investigações iriam provar que este jornalista foi boi de piranha da família Sarney.
Eu fui espancado em Praça Pública a mando da família Sarney em São Luís-MA, tive que sair para não morrer e a família Sarney mandou seu capanga Lucas da Cova no RS atrás de mim e ele foi filmado e está na mão do MP. Favor veja links de meus blogs. Tudo isto porque não concordei em dar parte do que tenho a receber de direito autoral para eles.
Roberto Milán
www.robertomrmilan.blogspot.com/
http://atribunaderobertomilan.blogspot.com.br/
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