domingo, 29 de abril de 2012

NO ASSASSINATO DE DÉCIO SÁ, A OLIGARQUIA ESTÁ EM XEQUE


Franklin Douglas (*)


O assassinato do jornalista Décio Sá foi covarde, bárbaro, violento. Não se deseja uma morte dessas ao pior inimigo. Foi a expressão máxima de que a pistolagem impera no Maranhão, não tem respeito sequer pela elite política oligárquica que, com leniência, deixou que ela florescesse.
Ligado diretamente a Fernando Sarney, a Ricardo Murad e muito bem quisto pelo patriarca da oligarquia e por sua filha-governadora, a pistolagem não tomou conhecimento dessas ligações: ousou matar Décio Sá, cuja oligarquia que ele tanto defendeu sequer conseguiu protegê-lo.
Conheci Décio no curso de Comunicação Social. Embora um ano a minha frente, formamos na mesma turma. Na UFMA, posicionávamos em grupos estudantis diferentes, contudo, ambos sob influência das teses progressistas da esquerda forjada na universidade. Era essa a cultura política predominante na UFMA dos anos 1990. Fora do espaço de resistência da universidade, a cultura política hegemônica era o clientelismo, o patrimonialismo, o mandonismo. Ao invés de resistir, inclusive por sua origem de classe, Décio optou por tornar-se um orgânico militante da classe dominante maranhense. Viu por esse caminho a via mais rápida para ascender no jornalismo, primeiro na Folha de São Paulo, depois n´O Estado do Maranhão.
Pioneiro na blogosfera, incorporou a lógica da produção noticiosa da internet e postava freneticamente, o que lhe deu público crescente, ainda que isso custasse a reputação de muitos, a intimidação de alguns (a exemplo do que fez com a reportagem da Folha quando esta veio verificar denúncias de compra de votos nas eleições de 2010) ou a exposição da vida privada de outros. Seu único limite era o núcleo da família Sarney-Murad ao qual se vinculou.
Fruto dessa formação social à qual se submeteu, Décio Sá imaginou-se intocável. Por isso, sob o interesse de seu grupo, foi a ponta de lança da oposição midiática aos governos Zé Reinaldo e Jackson Lago, enfrentou a Vale, denunciou empresários playboys, lideranças periféricas do sarneismo que foram e voltaram – a quem rotulou de “balaios” –, juízes, desembargadores, alguns crimes de pistolagem...
Nossas divergências com a opção política de Décio não impediram de evitar que ele levasse uma surra da turma do atual vice-governador, num encontro do PT, em 2005. Enfurecido pelos textos que Décio publicava das ramificações do escândalo do mensalão com seu grupo no PT maranhense, Washington expulsou-lhe do auditório do Hotel Praiamar, insultando-lhe de “imprensa marron” ao microfone, o que levou a formar no meio do auditório uma espécie de corredor polonês que Décio só escapou graças à intervenção de Augusto Lobato, Márcio Jardim e nossa lhe retirando do recinto – os mesmos que ele não poupou em “detonar”, como dizia, em seus textos. Com seus erros e acertos, era de carne e osso, nem santo, nem demônio...
Só a forte cobrança da opinião pública maranhense obrigará o sistema de segurança pública a dar resposta ao assassinato do jornalista Décio Sá, tal como ocorreu no caso "Stênio Mendonça", na década de 1990.
Independe da qualidade e da opção ideológica do jornalismo feito por Décio, é obrigação de todos nós a exigência pela elucidação do crime, pois se trata de uma vida humana barbaramente ceifada, do direito à liberdade de expressão (de todos! E não apenas da liberdade da imprensa poder falar), de encorajar jornalistas a não calarem e afastar deles – e da sociedade – a cultura do medo, de silenciar por receio de represálias.
Só a cobrança da sociedade, repito, obrigará a oligarquia a cortar na própria carne, como foi obrigada a fazer na CPI do Narcotráfico/Crime Organizado. Sobretudo porque a violência é estrutural, criada e incorporada ao sistema político pela elite política que o conformou nos últimos 50 anos. Ontem foi o líder quilombola Flaviano Pinto (em São João Batista) e trabalhador rural Raimundo Alves “Cabeça” (de Buriticupu), hoje o jornalista Décio Sá... amanhã poderá ser qualquer um, se os maranhenses se calarem.
O que está na berlinda é a política de segurança pública do “melhor governo da vida” de Roseana, onde a pistolagem e a impunidade reinam à solta: só neste mês de abril foram 53 homicídios na ilha de São Luís. Praticamente dois assassinatos por dia!
Pautar um falso debate sobre “gorilas diplomados” é querer levantar uma cortina de fumaça diante da falta de aparelhagem/estrutura/pessoal da Polícia para chegar ao mandante do crime...
As metralhadoras da oligarquia deveriam mirar a investigação sobre o mandante do crime, ao invés da defesa truculenta da mesma, que quer tutelar a OAB, impondo quem deve e quem não deve dirigir suas comissões internas, ou quer impedir até o direito de opinião dos que não concordam com sua visão do Maranhão.
Não é a cidadania maranhense que está em xeque, tampouco a mulher ou o homem de bem, como você caro leitor, cara leitora. Quem está em xeque é a oligarquia!
Não à pistolagem!! Não à impunidade!!!

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(*) Franklin Douglas - 
jornalista e professor, e
screve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 29/04/2012, página 16)

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando Sarney bota a mão no ombro de alguém ele está com uma "faca" na outra mão.
Se a polícia do MA não fosse de Sarney, assim como o Poder Judiciário do MA, certamente as investigações iriam provar que este jornalista foi boi de piranha da família Sarney.
Eu fui espancado em Praça Pública a mando da família Sarney em São Luís-MA, tive que sair para não morrer e a família Sarney mandou seu capanga Lucas da Cova no RS atrás de mim e ele foi filmado e está na mão do MP. Favor veja links de meus blogs. Tudo isto porque não concordei em dar parte do que tenho a receber de direito autoral para eles.

Roberto Milán

www.robertomrmilan.blogspot.com/
http://atribunaderobertomilan.blogspot.com.br/