quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cor da camisa de Holanda Júnior é ponta do iceberg...


Há uma certa razão na crítica à nova roupagem do candidato do Partido Trabalhista Cristão (PTC), Holanda Júnior, que passou a usar com mais ênfase camisas vermelhas, destoando dos tons azuis e cinzas que usava antes. Mas a cor da camisa é apenas a ponta do iceberg...



De fato, se o visual não fosse significante, Lula, por exemplo, não teria trocado a barba mal feita e o macacão de operário da campanha de 1989, pelo visual "Lulinha paz e amor", de ternos Armani de corte italiano, em 2002.


Ocorre que a mudança de visual em Lula veio junto com a conversão política: o Lula radical de 89 deu lugar ao Lula da "Carta ao Povo Brasileiro", onde se comprometeu com a banca financeira do País e sua política econômica.


Com Holanda Júnior, de fato, o que parece mudar é apenas a cor da camisa. Mas, e se voltar a vestir camisas de outra cor, está tudo bem?


CANDIDATURA DE HOLANDA NÃO REPRESENTA CAMPO DE ESQUERDA... e caminha para sequer representar o campo progressista


Não basta o Partido COMUNISTA do Brasil (PCdoB) como fiador da candidatura de Holanda Júnior, para torná-la progressista. O caráter de mudança que se quer à candidatura não tem encontrado eco no candidato.


Analisemos três fatores:


a) coligação: o PCdoB sequer figura na chapa majoritária. O PDT veio rachado, numa evidente negociata entre seu presidente municipal, Weverton Rocha, e o mandato de federal do candidato, que não precisaria se licenciar para cuidar da campanha. Lembremos que, em 2008, Flávio Dino não abriu mão de um único dia de seu mandato de deputado federal para ser candidato a prefeito. O PSB veio sob uma intervenção já devidamente difamada pelo ex-governador José Reinaldo: teve dedo do Sarney e promessa de filiação de Holandinha ao PSB após a eleição... A não ser tempo de televisão, o vice dá à candidatura um caráter mais conservador ainda: o ex-tucano Roberto Rocha, até outro dia chamado de coronel da mídia pelos comunistas hoje aliados (pelo controle de rádios e TV´s que possui no Maranhão), traz consigo a desconfiança de sua posição nas últimas eleições, de 2010 - quando forçou uma candidatura a senador que, ao final, só serviu para aumentar a divisão das oposições, facilitando a eleição de Lobão e João Alberto ao senado. Embora neodilmista, ideologicamente não é Rocha que garante o caráter popular, participativo, transparente à chapa. Vide sua declaração de bens: alguém acredita que RR tenha um patrimônio de apenas 90 mil reais? nada de fazenda, nada de rádios, nada de TV´s, nada de cabeças de gado... o PCdoB é apenas a cereja vermelha da coligação do PTC, considerado um nanico de aluguel em Brasília.


b) o programa: já é de desconfiar do programa cujo candidato recorre ao reitor Natalino Salgado, castelista de carteirinha e recém-queridinho da oligarquia (basta ler o editorial de O Estado do Maranhão - "Uma revolução da UFMA", de 11/7/2012, p.4). Em visita à UFMA, Holanda Júnior pediu ajuda ao reitor na elaboração de seu programa de governo. Sequer solidarizou-se com os professores em greve, nem na tribuna da Câmara, nem na visita à UFMA. Deste ponto, contudo, não se pode dizer muito, afinal, o programa registrado pelo candidato junto à justiça eleitoral só possui uma página... mas, pelas digitais, espere-se um programa salgado à descentralização-participação-transparência dos recursos, se a diretriz for a gestão da UFMA.


c) o candidato: sem trânsito junto a setores progressistas da cidade, Edivaldo Holanda Jr teve dificuldade já em sua primeira polêmica em agenda de campanha - ir à Parada do Orgulho Gay, como o fez o PSOL e a própria UJS (braço juvenil do PCdoB), ou à igreja, como fez  PT e PSDB? Nenhum, nem outro. Escondeu-se. Se por suas convicções pessoais, o candidato tem dificuldade de dialogar com um setor da cidade que mobiliza 300 mil pessoas, com uma temática polêmica e necessária de ser tratada como a homofobia, terá a mesma dificuldade ante outros temas? Por exemplo, reforma urbana - deixará de ir a uma ocupação de sem-tetos para não enfrentar os grandes especuladores imobiliários? democratização da comunicação - chamará seu próprio vice à razão, pedindo que seja exemplo às rádios comunitárias da ilha, declarando-se contra a perseguição da ABERT e ANATEL a elas? educação - sendo dono de empreendimento privado de educação, quais serão seus compromissos com a educação pública e de qualidade? transportes - como vereador, não foi qualquer empecilho aos interesses dos donos de empresas de ônibus, como prefeito terá autoridade para propor políticas que tornem o sistema de transporte efetivamente público? enfrentará o governo do Estado, propondo a municipalização da gestão de águas e esgotos, como está fazendo o PSOL?


São esses os entraves da candidatura e do candidato do PTC. A cor da camisa importa menos, mas revela a ponta de um iceberg que, em sua parte submersa, pode fazer naufragar qualquer titanic eleitoral!





Drops do Abaporu* (Coluna Abaporu - Ano II - número 11)
Abaporu é  a tela brasileira mais valorizada no mundo (1,5 milhão de dólares). Pintada em óleo sobre tela em 1928 por Tarsila do Amaral, é um símbolo do movimento modernista, que propunha  deglutir a cultura estrangeira e adaptá-la à realidade brasileira. O nome vem do tupi e significa aba(homem), pora (gente) e ú (comer): o "o homem que come gente".

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