Um grupo de médicos, universitários e outros profissionais da área de saúde realizou uma manifestação na Praça Deodoro, no dia 06/7 (sexta-feira). Inicialmente organizados na rede social via Facebook, o movimento “Nas ruas. Saúde” tomou também as ruas e a praça. Reivindicaram mais atenção à pediatria de nossa cidade.
Os manifestantes informaram à população a situação gritante do atendimento pediátrico em São Luís: fechamento dos setores de urgência e emergência pediátricos dos hospitais Português, Centro Médico, Aliança; desrespeito dos planos de saúde para com os direitos garantidos às crianças; superlotação; a situação é difícil tanto no setor público quanto no setor privado.
O setor privado não deve ser referência alguma de garantia de saúde. A lógica, como de todo negócio, é ganhar dinheiro e ter lucro. Pelo visto, atendimento pediátrico não está entre os setores lucrativos a prestar serviços.
O setor público é uma maquiagem só no Maranhão. Seja o Hospital Universitário, em vias de privatização pela EBSERH, empresa constituída pelo Governo Federal para gerir os hospitais federais; sejam as UPA´s entregues às “ONG´s/Organizações sociais”, privatizando também a gestão destas unidades (nada de concurso público para profissionais, contratação precária, nada de direito à sindicalização etc); ou os 72 prometidos hospitais (fantasmas) do melhor governo da vida de Roseana...
Ante esse caos, no meio do caminho ficam aqueles que investiram suas economias na contratação de planos de saúde. Esse tipo de negócio cresce diretamente proporcional ao aumento do emprego formal no País. Há em torno de 1.098 operadoras de planos de saúde médico-hospitalar que “atendem” a 48 milhões de consumidores. Veja bem o dado da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar): CON-SU-MI-DO-RES, não cidadãos... Em média, esses consumidores pagam R$ 113,00 pelos serviços dos planos de saúde.
No Maranhão, existem 282 operadoras de planos de saúde. Pela pobreza do estado, os maranhenses estão entre os que menos contratam planos, menos de 5% de cobertura, juntando-se ao grupo dos primos pobres Pará, Tocantins, Piauí, Paraíba, Acre e Roraima. Há em torno de 80 mil consumidores de planos de saúde no Maranhão, só tem menos beneficiários que o Piauí, com pouco mais de 20 mil.
Em todos os planos, um dado salta aos olhos: as crianças (até 10 anos) são maioria nos planos individuais (ANS, Informe Saúde Suplementar, março de 2012). Eis a questão: vende-se um serviço que não é prestado!
Pais correm com seus filhos ao serviço público, onde não têm atendimento. Contratam plano de saúde, que não pagam justamente os médicos e hospitais, que fecham seus serviços de atendimento ou, aqueles que ainda aceitam os planos, estão superlotados. E o futuro não parece promissor à saúde de nossas crianças. Os estudantes de Medicina em formação são influenciados pela lógica de especializar-se para a área de que dá dinheiro. E lá se vão para a cirurgia plástica, dermatologia, anestesiologia, radiologia... pediatria, nem pensar!
Diante disso, caro leitor, cara leitora: A quem recorrer? Nem para a TV Globinho, a fim de deixar a criança estática diante de uma televisão, não dá mais! Agora, só tem Encontro com Fátima Bernardes...
O Movimento “Nas ruas. Saúde” dá a pista: devemos recorrer a nós mesmos, a nossa mobilização!
É preciso gritar desde já, expor essa situação, levá-la a debate público, reivindicar nossos direitos, exigir uma saúde pública, lutar pela valorização do trabalho dos profissionais da saúde, denunciar o descaso do Governo do Estado com as condições de funcionamento do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, da Prefeitura em relação aos Conselhos Tutelares, atuar junto ao Ministério Público. Ou se faz isso, ou veremos nossas crianças minguarem por falta de atendimento pediátrico. Essa dura realidade que já atinge as crianças pobres do interior do estado, agora chega às crianças da classe média da capital e da dita “nova classe média”... Ao invés de colocar uma contra a outra, deve-se unificá-las nessa luta.
Não podemos é nos conformar, achar isso tudo natural, que não tem jeito. Devemos pensar como nos ensinou o poeta e dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956): NADA DEVE PARECER IMPOSSÍVEL DE MUDAR!
Em tempo:
Começou oficialmente a campanha eleitoral de 2012. Em Imperatriz, 78% dos eleitores que votaram contra Roseana, em 2010, estão “órfãos”, após o acordo do prefeito tucano Sebastião Madeira com a oligarquia. Em São Luís, há três eleitores “órfãos” em disputa: (1) o eleitorado antissarney do falecido ex-governador Jackson Lago (PDT); (2) os eleitores do PT que não engolem a aliança Lula-Sarney e que queriam votar no deputado estadual Bira do Pindaré para Prefeito; e (3) o eleitorado de esquerda de Flávio Dino (PCdoB), que abdicou de disputar a eleição para a Prefeitura da capital. Friso: nos dois maiores colégios eleitorais do Maranhão, estão órfãos os eleitores livres, não a militância orgânica ou acomodada em cargos públicos. Portanto, dos candidatos colocados lá e cá, quem conquistará esse voto livre no dia 7 de outubro? É esperar para ver.
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 08/07/2012, página 16)
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