Em 1995, São Luís sediou a 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A partir deste domingo (22/7), a cidade volta a receber a principal reunião de cientistas do país. Após 17 anos, há muitas semelhanças e poucas diferenças entre as duas reuniões anuais da SBPC.
A principal das semelhanças trata-se da promessa de redenção da UFMA por conta da realização da SPBC. Em 1995, falava-se em conclusão de prédios, auditórios que seriam edificados e, após a reunião, deixariam a UFMA estruturada para receber qualquer evento de grande porte, haveria a ampliação de bolsas de pesquisa, recursos para reformar turmas, melhoria de laboratórios, ampliação de projetos de extensão, maior apoio à pós-graduação, que se iniciava com os mestrados de Políticas Públicas e de Educação. Enfim: a UFMA daria o seu grande salto rumo aos anos 2000.
Outras semelhanças também se apresentam entre as UFMA´s separadas no tempo por quase 20 anos: tal como em 1995, a UFMA de hoje segue autoritária em seus processos decisórios (ainda se elege reitor sob uma desigual proporção do peso de voto entre professores, alunos e técnicos-administrativos), o Conselho Universitário segue sob total controle do reitor de plantão; assim como antes, o orçamento da universidade é uma caixa-preta, seu estatuto anti-democrático, a participação da comunidade universitária na decisão dos rumos da instituição é mínima; da mesma forma que em 95, a SBPC fora antecedida por uma forte greve de professores...
Se nas diferenças temos a troca dos indivíduos que personificam o poder na UFMA e uma reunião que se tornou, nesse espaço de tempo, um mega-evento festivo e pouco crítico, há outro dado que evidencia que a situação piorou: em 1995, havia uma Comissão Democratizando a Ciência, pela qual se aproximava a SBPC dos movimentos populares, dos que estavam do lado de fora dos muros invisíveis da UFMA. Hoje, os muros e portais de entrada milionários estão em concreto, materializando a separação entre universidade e sociedade. No debate da temática da pobreza a que se propõe a reunião de 2012, os pobres (e quilombolas... e sem-terras... e indígenas...) não figuram como protagonistas das mesas de debate.
Em 1995, a SPBC aconteceu mesmo sem prédios concluídos, mesmo com auditórios feitos de tendas, mesmo sob terrenos mal preparados (mas deu-se a sorte de não ter chovido!), mesmo sob protestos de professores e estudantes... e mobilizou o povo de São Luís. Ao invés de ir ao único shopping center à época, o Tropical, tornou-se “febre” na cidade ir ao campus circular na SBPC: era passeio obrigatório.
Em 2012, deve se repetir o fenômeno, com um agravante: ante o crescimento desordenado e sem sustentabilidade do campus e da cidade, os 20 mil inscritos na SBPC são orientados a deixar carros no Ceprama e seguir a pé até UFMA... cientistas e pesquisadores percorrerem a barragem do Bacanga, sob o sol escaldante do meio-dia, certamente será um Deus-nos-acuda!
Com professores em greve, sem prédios concluídos e em auditórios de tendas, a SBPC ocorrerá em 2012. O show não pode parar. Porque, do reitor Aldy Mello (1992-1996) a Natalino Salgado (desde 2007), passando por Othon Bastos (1996-2003), José Américo Barroqueiro (2003) e Fernando Ramos (2003-2007) – para ficar neste período entre a 47ª e a 64ª Reunião da SBPC –, a UFMA vem sendo comandada pelo mesmo grupo que une o setor acadêmico vinculado à oligarquia, a dissidência castelista universitária, o braço estudantil do PMDB na direção do DCE (pasmem!) e o apoio ativo dos comunistas do PCdoB...
E para todos, com maior ou menor ênfase, ciência é isso: UMA GRANDE FESTA!
Em tempo:
O “melhor governo da vida” de Roseana anunciou esta semana investimentos de R$ 124 milhões em estação de tratamento de esgoto. A governadora Sarney não fez isto durante os 12 anos que já esteve à frente do governo estadual. A promessa de Ricardo Murad de tratar 90% do esgoto de São Luís lembra máxima de João Alberto, de que seu governo foi 90% honesto. Ambas 100% mentira!
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 22/07/2012, página 16)
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