domingo, 5 de outubro de 2014

A LÓGICA (DA MANIPULAÇÃO) DAS PESQUISAS ELEITORAIS NO MARANHÃO



Franklin Douglas (*) 


Em setembro de 2006, no artigo “Quem inventa defunto para ganhar eleição não manipula pesquisa de opinião?” (Jornal Pequeno, 29/9/2006), alertávamos as oposições, naquele ano, sobre a prática da oligarquia com as pesquisas nas eleições de 1994. Para tanto, expúnhamos as palavras do próprio oligarca-mor sobre o tema:
“ ‘O maior eleitor das eleições é a pesquisa. Ela desperta a visão de qualidades dos concorrentes, provoca ondas de adesão e conduz o eleitorado indeciso a uma decisão que, pela dinâmica das coisas, tende para votar no vencedor’. Nestas palavras, José Sarney expressa claramente o entendimento que tem sobre as pesquisas eleitorais. Publicou esta opinião em seu jornal – O Estado do Maranhão, no dia 14 de agosto de 1994, na Coluna do Sarney.
Em seu artigo ‘O lado oculto das pesquisas’, Sarney revela a sua astúcia em ‘bem’ utilizar as pesquisas. Elas servem para legitimar a votação, mas também manipulações. No caso, bem orquestradas pela oligarquia maranhense. Essa ‘estratégia’ foi bastante usada em 1994”.
A lógica do uso e abuso das pesquisas é, dizíamos:
“Pesquisas que atribuem votos. Supostos votos que justificam liderança nas pesquisas. Liderança nas pesquisas que justificam mais votos. Mais votos que justificam crescimento e, por fim, vitória eleitoral...
Em 1994, o IBOPE se prestou a este serviço [...]. No primeiro turno daquelas eleições, o IBOPE realizou cinco sondagens [...], registradas nas capas d´O Estado do Maranhão:
1ª pesquisa – em 12 de agosto de 94: ‘Roseana dispara na corrida às urnas – IBOPE revela que a candidata da Frente Popular pode vencer no primeiro turno’. O IBOPE dava a Roseana 47% dos votos, contra 32% para Cafeteira e 10% para Jackson;
2ª pesquisa – em 26 de agosto de 94: ‘IBOPE: Roseana sobe, Cafeteira desaba’. O instituto de pesquisa projetava 50% dos votos para Roseana, contra 24% para Cafeteira e 11% para Jackson;
3ª pesquisa – em 09 de setembro de 94: ‘Roseana vence no primeiro turno, diz IBOPE’. Roseana obteria 50% dos votos. Cafeteira, 26%. Jackson, 9%;
4ª pesquisa – em 23 de setembro de 94: ‘IBOPE: dá Roseana no primeiro turno’. Roseana ficaria com 51%, enquanto Cafeteira com 26% e Jackson com 10%;
5ª pesquisa (a de boca-de-urna) – em 04 de outubro de 94: ‘IBOPE faz pesquisa de boca-de-urna e aponta vitória de Roseana Sarney’. Eleição decidida no primeiro turno ficando Roseana com 40% dos votos e Cafeteira com 22% e Jackson com 13%.
Não faltou, ainda, a Econométrica para apontar 57% dos votos para Roseana, às vésperas das eleições: ‘Econométrica dá vitória a Roseana’ (OEST-02/10/1994-capa).
Mas, qual foi o resultado mesmo do primeiro turno das eleições de 1994? Para desespero de Roseana (“ ‘Segundo turno não me perturba’, diz Roseana” – OEST-09/10/1994), o TRE totalizava os votos da eleição com um resultado que nenhuma pesquisa do IBOPE ou da Econométrica anteriormente divulgara: segundo turno!
Roseana teria que enfrentar Cafeteira, tendo contra si mais de 52% de votos: a soma dos votos dados a Cafeteira - 30,79%, Jackson - 20,79% (que nas pesquisas nunca superara os 11%!!) e Francisco das Chagas (PSTU) – 1,83%. Para ganhar a eleição, Roseana precisava de um milagre. Foi mais fácil para Sarney inventar um defunto...” (Jornal Pequeno, 29/9/2006)
Nesse contexto, o milagre de Sarney que deu a vitória a Roseana foi o defunto Reis Pacheco, um suposto assassinato de um ferroviário a mando de Cafeteira que, mesmo desmentido às vésperas do segundo turno, não foi suficientemente desmontado para evitar a derrota do candidato da oposição.
Em 2006, o mesmo método:
“Pesquisas confirmam a vitória de Roseana no primeiro turno” (O Estado do MA, 30/09/2006, p. 3), reportando às pesquisas que davam ampla vantagem a Roseana Sarney sobre as oposições: Econométrica – Roseana, 56,5% x Jackson, 30,4% x Vidigal, 11% x demais candidatos, 2,1%; Escutec - Roseana, 57,7% x Jackson, 26,3% x Vidigal, 11,1% x demais candidatos, 4,9%...
O resultado daquela eleição, no primeiro turno, foi: Roseana Sarney (PFL) – 47,20% dos votos, Jackson Lago (PDT) – 34,35%, Edson Vidigal (PSB) – 14,26%, Aderson Lago (PSDB) – 3,44%, demais candidatos (Antonio Aragão-PSDC, Carlos Saturnino-PSOL, João Bentivi-PRONA, Ribamar Pedrosa-PCO e Marcos Silva-PSTU) – menos de 1% dos votos.
No segundo turno, enquanto Ibope apontava o empate (Jackson, 50% x Roseana, 50%) e Brasmarket a vitória de Roseana (Roseana, 52,8% x Jackson, 47,2), o resultado foi a eleição de Jackson Lago com 51,81% dos votos, contra Roseana Sarney, com 48,18%.
 Jackson Lago, possivelmente venceu aquela eleição por diferença até maior. A madrugada do dia da eleição foi tensa, com a constatação de fraude eleitoral na própria urna eletrônica, como comprovara técnicos da oposição junto à justiça eleitoral. Alertado, às 3 da manhã, sobre o fato, o cálculo de Jackson Lago foi exato: não havia o que fazer. Não se tinha instrumentos para denunciar e muito menos desmobilizar o processo eleitoral àquela altura. Só restava aguardar. Mantenho minha avaliação da época: a oligarquia errou no cálculo da fraude! Fraudou menos votos do que supunha, por suas pesquisas reais, do que seria a diferença pró-Jackson.
De tão repetitiva em seus métodos, a oligarquia possibilitou também à oposição consentida aprender a manipular pesquisas. Com os seus institutos (Exata, Amostragem, DataM), ela também usa e abusa do mesmo método: pesquisas que atribuem votos; supostos votos que justificam liderança; liderança nas pesquisas que justificam mais votos; mais votos que justificam crescimento e, por fim, vitória eleitoral!
Tal como José Sarney, Flávio Dino também crê que o maior eleitor das eleições é a pesquisa. Eis aqui um viés pelo qual podemos demonstrar que, nesta reta final da eleição, a oposição consentida configura-se, concretamente, numa “nova” restauração do poder oligárquico no Maranhão.
Alerta, caro(a) (e)leitor(a)! Não se deixe enganar por pesquisas. Em eleição de dois turnos, no primeiro turno vota-se no candidato que o eleitor(a) acredita ser o melhor; no segundo, naquele que lhe resta como o menos pior. Não se submeta à lógica da manipulação de sua vontade: o que vale é sua consciência e o seu voto na urna!

(*) Franklin Douglas -  jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 21/9/2014, opinião


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