domingo, 5 de outubro de 2014

A LÓGICA DAS CAMPANHAS MILIONÁRIAS DO MARANHÃO



Franklin Douglas (*) 


Os ricos do Maranhão reúnem pouco mais de 5.700 famílias. Representam 2,9% do total de 6.851.000 (seis milhões oitocentos e cinquenta e um mil) maranhenses.
Das famílias multimilionárias do Maranhão, a mais conhecida é a Sarney, cuja fortuna visível já foi avaliada em 125 milhões de reais pela Revista Veja. A família Sarney, como as famílias Murad, Lobão, Fecury, Cutrim, Ribeiro, Castelo, Rocha, dentre outras, encontram-se no ponto mais alto do topo de pirâmide social do miserável estado do Maranhão.
Essa conformação social de altíssima concentração de renda se repete na configuração político-partidária. São variados os exemplos de candidatos a deputado cujo patrimônio pessoal é multimilionário. E cujas campanhas também estão orçadas em volumosos milhões de reais. O que leva à “naturalização” de uma ideia de que estes serão os eleitos. Regra instituída tanto nos partidos da oligarquia quanto nas agremiações da oposição consentida.
Participa, se candidata e ganha eleição quem tem milhões para gastar!
Estamos frente a mais gritante PLUTOCRACIA do país. Aqui, a DEMOCRACIA DOS RICOS, a plutocracia maranhense, não só concentra riqueza e poder como busca interditar qualquer alternativa que possa surgir fora desse nefasto eixo de financiamento de campanhas.
Financiamento este que, na prática, já é público, pois, o que não são os 70 MILHÕES DE REAIS, conforme o Diário Oficial do Estado de 2/7/2014, transferidos fundo a fundo do orçamento da Secretaria de Saúde do Estado para os municípios, que não o início do grande financiamento da fraude da vontade eleitoral do povo maranhense nestas eleições?
Nas campanhas ao Senado Federal, então, o escárnio plutocrático é mais evidente ainda.
Dos seis candidatos, dois deles estimam seus gastos de campanha em estratosféricos milhões de reais: Gastão Vieira – 20 MILHÕES DE REAIS, o equivalente a 49 vezes mais do que o seu patrimônio pessoal declarado à justiça eleitoral; e Roberto Rocha – 10 MILHÕES DE REAIS, 65 vezes mais que o patrimônio declarado ao Tribunal Regional Eleitoral. Por sinal, outra zombaria: como um dono de fazenda, emissoras de televisão, terrenos, cabeças de gado, filho de ex-governador, etc, possui apenas R$ 152 mil de patrimônio?
Caro (e)leitor, cara eleitor(a), você sabe quanto um candidato ao Senado em São Paulo pretende gastar na campanha eleitoral para conquistar o voto da maioria dos quase 32 milhões de eleitores paulistas?
Em São Paulo, o atual senador Eduardo Suplicy, para alcançar a reeleição, pretende gastar 15 milhões de reais. Seu principal adversário, José Serra, planeja gastar R$ 30 milhões. Isso, no Estado mais rico do país, cujo PIB (Produto Interno Bruto) é quase 30 vezes superior ao PIB maranhense e que possui o principal colégio eleitorado do país, sete vezes maior que o do Maranhão.
Gastão Vieira e Roberto Rocha, juntos, pretendem gastar o dobro que o senador da República por São Paulo estima para se reeleger. PENSEM EM CANDIDATURAS QUE NÃO TRAZEM MUDANÇA ALGUMA!
No Maranhão, o rompimento com essa lógica plutocrática de campanhas milionárias, especialmente ao Senado, vem sendo crescentemente assumida pelos cidadãos e cidadãs maranhenses:
a) Em 1998, o candidato petista Haroldo Saboia alcançou 390 mil votos (11,65% do eleitorado – para uma vaga em disputa);
b) Em 2002, o mesmo candidato somou 474 mil votos (23,3% do eleitorado – para duas vagas em disputa);
c) Em 2006, o petista Bira do Pindaré totalizou 557 mil votos (21,58% do eleitorado – para uma vaga);
Mesmo em 2010, quando inexistiu uma autêntica candidatura de esquerda ao Senado nas coligações oposicionistas (então divididas entre o ex-governador José Reinaldo Tavares (727.602 votos) e os tucanos Edison Vidigal (502.600 votos) e Roberto Rocha – 642.853 votos), por fora da lógica das campanhas milionárias e sem qualquer estrutura de campanha, o desconhecido professor Adonilson Lima somou 226 mil votos.
O que se vê, portanto, é que há espaço político e social para candidaturas que rompam com a lógica plutocrática. Para tanto, é preciso POLITIZAR O PROCESSO ELEITORAL, e não sucumbir à lógica das milionárias campanhas que anulam e silenciam a opção por uma nova política. Um de seus desafios nessas eleições de 2014, caro(a) (e)leitor(a)!


(*) Franklin Douglas -  jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 24/8/2014, opinião

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