sexta-feira, 22 de maio de 2009

FLAGELO NO MARANHÃO, URUCUBACA NOS LEÕES

Por Haroldo Saboia

Em sua edição de ontem, quinta-feira, o jornal O Estado de São Paulo, com o título “Nordeste recebe menos auxílio do que SC” (leia aqui) denuncia:

“Comparando números da tragédia de novembro do ano passado em Santa Catarina com da que acontece agora em nove Estados do Nordeste, devastados por chuvas desde abril, parece que ocorrem em países diferentes.”

A matéria assinada pelo jornalista Rodrigo Brancatelli traça um paralelo das ações em Santa Catarina, ano passado, e no Nordeste hoje:

“Santa Catarina teve 63 cidades afetadas, 137 mortes, 51 mil desalojados e 27 mil desabrigados. No total, a estrutura de suporte para lidar com as enchentes contou com 24 helicópteros e 4 aviões da Força Aérea. Doações da sociedade totalizaram R$ 34 milhões e o governo federal e o Congresso Nacional prometeram a liberação de R$ 360 milhões.” – afirma.

E prossegue:

“Apesar de registrar um número menor de mortos até o momento, 45, o Nordeste tem 299 cidades afetadas, 200 mil desalojados e 114 mil desabrigados. Mesmo assim, com um número 4 vezes maior de pessoas que precisam urgentemente de ajuda, só 3 helicópteros e 3 aviões atuam na região. E as doações não alcançam R$ 4 milhões”.

O jornal francês Le Monde que chega às bancas nesta sexta (leia aqui-versão original em francês), registra em sua edição eletrônica, ontem, o mesmo número de mortos, 45, mas anuncia aumento significativo de desabrigados (já próximos aos 400 mil) e 407 cidades já atingidas.

Impossível avaliar qual o flagelo maior, se as fortes e incessantes chuvas ou a omissão, o despreparo, o pouco caso governamental, em especial nas esferas federal e estadual.

Citemos como exemplo desse descaso e incompetência, duas matérias da primeira página do jornal de propriedade da governadora de quatro votos.

“Maranhão tem maior número de desabrigados: Estado contabiliza 124 mil e quinhentas pessoas fora das casas...”. Na matéria logo abaixo “Governo Federal envia alimentos a municípios: pelo menos 2 mil cestas deverão ser montadas pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros e ser enviadas às cidades nos próximos dias”

Vejamos bem: duas mil cestas para 124 mil pessoas. Em outras palavras, uma cesta para cada 62 pessoas. Isto é um escárnio! Um governo propagandeando, feliz, as migalhas que ainda vai distribuir. Na realidade, os oligarcas retornados não têm a mínima noção da dimensão do drama vivido pelos maranhenses. É uma realidade que não lhes comove.

Ora distribuem alimentos em cidades não afetadas pelas enchentes, como em Igarapé Grande e Lago do Junco. Ora mobilizam a principal secretaria, a de Infraestrutura, para recuperar as estradas de Ribamar e da Maioba, obra importantíssima, é verdade, mais absolutamente adiável face ao drama que destruiu lavouras e desalojou mais de cem mil dos nossos conterrâneos.

Eles, os sarneys-murads, não têm noção de prioridades. Trata-se de uma questão humanitária que já repercute em todo o mundo; basta ler a matéria do enviado especial do The New York Times (leia aqui). Aferrados ao poder e ao patrimônio que acumularam (bem sabe Deus- e o povo - como) reduzem a política às ambições familiares. Dizem que estão cada vez mais supersticiosos; Roseana convencida que o próprio Palácio dos Leões estaria impregnado de urucubacas e ziquiziras. Não só a esfera do público desaparece tragada pelo espaço privado, como parece que o próprio juízo cede lugar a desrazão.

“As chuvas podem ser culpa do aquecimento global, do acaso, do mau humor de São Pedro. Mas seus efeitos são de responsabilidade humana, demasiado humana...” escreveu na terça o colunista Luis Fernando Viana, da Folha de São Paulo (aqui-só assinantes), a propósito das enchentes no Maranhão. Sarney vestiu a carapuça e, logo, em termos arrogantes, protestou em carta publicada na quarta (aqui-só assinantes).

Perdeu uma oportunidade de calar, tal a eloqüência das palavras de Clovis Rossi, ontem no jornal paulista (também aqui-só assinantes):

“Outro governista que revela pobreza incrível de argumentação é o presidente do Senado, José Sarney, na carta em que procura rebater a irrebatível coluna de Luiz Fernando Vianna sobre o Maranhão. Diz Sarney que "alguns índices sociais [do Maranhão] são péssimos, mas iguais ou melhores do que os de favelas em São Paulo e no Rio".

Meu Deus do céu, se tudo o que há para festejar no reinado da família no Maranhão é a sua transformação em uma imensa favela, não é melhor ficar quieto?

Note-se que é argumento de político com vastíssima quilometragem rodada e que já ocupou todos os cargos eletivos relevantes no Estado e no país, além de escritor guindado à Academia Brasileira de Letras. Se esse é seu nível de argumentação, poupem-me das teses do chamado baixo clero.”

E o mais grave é que se as chuvas persistirem poderão transformar o terrível drama de hoje numa tragédia sem proporções amanhã. É hora de agir.

2 comentários:

jonas disse...

Haroldo,tu já está ultrapassado,ninguém nem sabe mas quem tu és,fraco,fraco...sai dessa que não dá mais para ti.

Anônimo disse...

Jonas,você por acaso é do "Blog do$ Independente$" do Ricardo Murad? Não tem preparo para fazer críticas de conteúdo aos artigos do Haroldo Saboia e parte para ofensas pessoais. E a liberdade de pensamento?
Enfin,este é o modo independente/miranteano de fazer política,como o blog do Muwrad.