segunda-feira, 15 de junho de 2009

Até Noblat: "SAI SARNEY!"

Até Ricardo Noblat acredita que a única saída para Sarney é sua renúncia à Presidência do Senado. Por que até Noblat?

Porque Noblat é, digamos assim, um dos jornalistas da grande imprensa admiradores do velho oligarca (por aqui também tem uns "independentes" que nutrem o sarneismo).

É de Noblat o "Sarney é bom com ph...", escrito quando o senado amapo-maranhense foi à disputa do Senado, em 2 de janeiro de 2009:

"Acordou, Sarney?

Pelo que lhe conheço você não deve ter dormido direito. Eu também não. Fui deitar depois das 4h e aqui estou a aborrecê-lo.

Imagino você, que tenta ser presidente do Senado pela terceira vez dos anos 90 para cá.

Vai, levanta da cama, pede o café e os jornais.

(...) Hoje será seu grande dia, Sarney - para o bem ou para o mal.
Não basta vencer.

No caso de uma vitória apertada, seus desafetos dirão que você será incapaz de comandar o Senado com pulso firme, que todos os seus atos serão contestados, que sua saúde fraquejará, etc e tal...

É bobagem, eu sei, mas eles dirão isso. Começaram a dizer.
Se vencer com uma razoável margem de votos, aí, sim, terá mais é que sair para o abraço, abrir as portas da casa para receber os amigos, agradecer a Deus antes de ir dormir e se permitir dizer baixinho antes de cair no sono para só você escutar: "Eu sou bom mesmo". Bom com ph.

Passará os próximos dois anos pontificando do alto da cadeira que acomodou nádegas ilustres ainda na época do Império.

Se quiser, ainda terá a chance de renovar o mandato por mais dois anos.
Estará na foto oficial da posse do futuro presidente da República seja ele quem for. E o coitado ainda será forçado a comer direitinho em sua mão."

A postagem de hoje às 8h no Blog do Noblat, durante o período da manhã, recebeu quase 170 comentários!

É... a coisa tá ficando feia para o lado do senador José de Ribamar Costa!


Sai, Sarney!
Por Ricardo Noblat - 15/6/2009

Vez por outra lemos a respeito de político japonês que se matou depois de ter sido acusado de corrupção.

O mais recente foi Toshikatsu Matsuoka, ministro da Agricultura, em maio de 2007. Ele aceitou suborno de um empresário e pediu reembolso de despesas que sempre foram cobertas por seu gabinete.

A ser processado e talvez preso, preferiu se enforcar. O próximo domingo será um dia tristemente histórico para a Inglaterra. Pela segunda vez, um presidente da Câmara dos Comuns, o equivalente à nossa Câmara dos Deputados, renunciará ao cargo, acusado de má conduta. O primeiro a renunciar foi Sir John Trevor em 1695. Seu crime? Ter embolsado grana de um comerciante em troca do apoio à aprovação de uma lei.

Michael Martin, 63 anos, presidente da Câmara dos Comuns há quase dez, não se vendeu a ninguém nem tirou vantagens ilícitas do cargo. Mas foi conivente com os colegas que tiraram.

Deputados com direito a verba para bancar moradia em Londres conseguiram reembolso por gastos para consertar quadras de tênis, limpar fossas, comprar cadeiras de massagem e aparelhos de televisão de tela plana. Os mais ousados cobraram até pelo aluguel de filmes pornográficos.

O cordato Martin avalizou os desmandos. Uma vez que eles foram descobertos pela imprensa, tentou encobri-los. Como a tarefa se revelou impossível, pediu ajuda à polícia para identificar as fontes de informações dos jornalistas. A polícia nem se mexeu.

Por fim, Martin se rendeu. Seguirá o exemplo dado por Trevor há 314 anos.
Aqui já assistimos a renúncia de presidentes da Câmara e do Senado enrolados em denúncias de quebra de decoro. Foi o caso de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara. E de Jader Barbalho, Antonio Carlos Magalhães e Renan Calheiros, presidentes do Senado.

Diferentemente de Trevor no passado, e agora de Martin, eles não abandonaram os cargos premidos pelo sentimento de vergonha. Renunciaram para não ser cassados. Foi um ato sem vergonha. Assim puderam preservar os direitos políticos e voltar ao Congresso reeleitos.

José Sarney está no olho do furacão que varre o Senado desde que ele foi eleito em fevereiro último para presidi-lo pela terceira vez. A primeira foi em 1995.

O que existe de podre no Senado não é obra exclusiva dele. Um presidente do Senado não pode tudo, muito menos sozinho.

Mas é um escárnio Sarney continuar fingindo que nada tem a ver com a crise mais grave da história do Senado. Não apenas tem a ver: Sarney é o principal responsável por ela. A semente da crise foi plantada no primeiro mandato dele como presidente do Senado.

“Eu só tenho a agradecer ao Dr. Agaciel Maia pelos relevantes serviços que ele prestou”, disse Sarney ao se despedir do ex-diretor-geral do Senado, defenestrado da função devido à crise.

Agaciel foi nomeado por Sarney. Ao longo de 14 anos, acumulou poderes e cometeu toda a sorte de abusos com a concordância explícita ou velada de Sarney e dos que o sucederam no comando do Senado.

Na semana passada, ao som da música do filme “O Poderoso Chefão”, Agaciel casou a filha Mayanna sob as bênçãos de Sarney, Renan Calheiros e de dois outros ex-presidentes do Senado – Garibaldi Alves e Edison Lobão.

Para lá do inchaço do quadro de funcionários do Senado, do pagamento de horas extras não trabalhadas, da criação de diretorias fantasmas, da homologação de licitações suspeitas e da assinatura de decretos secretos, há fatos que dizem respeito diretamente a Sarney e que o deixam mal na foto.

Dono de imóvel em Brasília e inquilino da mansão destinada ao presidente do Senado, Sarney recebeu durante mais de um ano auxílio-moradia de R$ 3.800,00 mensais reservada a senadores sem teto.

Flagrado, primeiro negou que recebesse. Depois se apropriou do mote de Lula e disse que não sabia.

Um neto de 22 anos de Sarney assessorou durante mais de um ano o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). Foi a maneira que Cafeteira encontrou, segundo admitiu, de agradecer ao pai do rapaz por tê-lo reaproximado de Sarney.

Há uma sobrinha de Sarney lotada no ex-gabinete da filha dele no Senado, Roseana Sarney, atual governadora do Maranhão. E há outra empregada no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MTS) em Campo Grande. Essa ganha sem trabalhar.

É possível acreditar que o pai da crise esteja de fato empenhado em resolvê-la? Ou que reúna condições para tal? E quem disse que seus pares estão interessados em refundar o Senado?

A essa altura, uma só coisa depende de fato de Sarney: a renúncia à presidência do Senado para atenuar as nódoas recentes de sua biografia.

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