quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Despedida do trema

Enviado por Deíla Maia

"Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o  trema.
 
Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.
 
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu
simplesmente tô fora.

Fui expulso pra sempre do dicionário.
 
Seus  ingratos!

Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...
 
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio...
 
A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela.
 
Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto  eles ficam em pé.

Até o sinal gráfico cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra.

E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I.

Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo
um bico de reticências, mas ele se negou, sempre encerrando logo todas as
discussões.

Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?...

A verdade é que estou fora de moda.

Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W, "Kkk" pra cá, "www" pra lá. Até o jogo da velha, para quem ninguém nunca ligou, virou  celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER.

Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências!

Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo.

Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. 

Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!... nos veremos nos livros antigos.
 
Saio da linguística para entrar na história.
 
Adeus,
 
Trema"
 

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