domingo, 19 de agosto de 2012

VAI TOMAR BANHO, SARNEY!


  Franklin Douglas 
(*) 

Disse-me o amigo Wagner Baldez que, nos idos de 1950/60, o povo de São Luís divertia-se tomando banho de mar na Ponta d´Areia, seguindo da Beira-Mar até lá em canoa. Cansada do Centro, a elite de São Luís expandiu a cidade para o São Francisco.
A Ponta d´Areia, então, popularizou-se. Rumo a seu banho de mar, a elite seguiu para a praia de São Marcos. E, nos últimos 50 anos, a cada vez que o “povão farofeiro” alcançava sua praia, ia mais à frente: Calhau; depois Caolho; em seguida Olho d´Água; Praia do Meio; Araçagy... praticamente, nesse período, deu a volta na ilha e retornou à Ponta d´Areia, rebatizando-a equivocadamente de Pensínsula da Ilha.
A elite da elite tomou um naco do município da Raposa só pra si, Curupu – a ilha que Sarney diz ser sua, mas que pertence à União... Encontrar com o povão, só mesmo a cada eleição, e olhe lá; nas praias, nunca!
Talvez por isso, o artigo do velho oligarca, em seu jornal (O Estado do MA, 12/08/2012, capa – São Luís polui o Atlântico), ao invés de ser levado a sério, produziu uma infinidade de piadas nas redes sociais, como a em torno da máxima “Vai tomar banho Sarney”, compartilhada a centenas, a partir do facebook do professor Francisco Gonçalves.
Que esperar de argumentos tão fúteis, que parecem apenas servir para flagelar a inteligência do maranhense? A exemplo de:
1. São Luís não tem como contaminar (o “imortal das letras” usou o termo errado, poluir...) o Oceano Atlântico, pois “Essa lâmina d'água, que de seis em seis horas vai e vem, é poluída por uma população de 200 mil habitantes que é a que no máximo habita a área das praias”... e para onde vai o esgoto dos demais 800 mil habitantes da ilha? E esse dejeto todo deixa de ser produzido quando das seis horas que a água vai?
2.  A culpa é dos laboratoristas, uma vez que, para ele, “Alguma coisa está errada. Ou a medição do Oceano Atlântico ou a medição dos nossos laboratórios. São Luís tem uma média de tratamento de esgoto de 10%. A cidade inteira. A média das capitais do Nordeste é de 8%”, ludibria Zé Sarney.
Para infortúnio do oligarca, estudo do Instituto Trata Brasil sobre o “Ranking do Saneamento das 100 maiores cidades do Brasil”, publicado na última quinta-feira (confira matéria do Jornal Pequeno, de 18/8/2012, p. 5: “São Luis cai 29 posições em ‘ranking’ de saneamento”), divulga a todo o País a situação na qual a CAEMA deixou nossas praias: ÚLTIMA COLOCAÇÃO ENTRE AS CAPITAIS DO NORDESTE!
São Luís está entre as 20 piores cidades em termos de saneamento. Dentre as capitais nordestinas, perde para todas: Salvador (BA) – 32ª posição no ranking/empresa pública estadual EMBASA; Fortaleza (CE) – 41ª/CAGECE; Aracaju (SE)– 56ª/DESO; João Pessoa (PB) – 64ª/CACEPA; Recife (PE) – 68ª/COMPESA; Natal (RN) – 78ª/CAERN; Maceió (AL) – 85ª/CASAL; Teresina (PI) – 86ª/AGESPISA; São Luís (MA) – 87ª/CAEMA.
No ranking das 10 melhores cidades em saneamento: 04 têm seu tratamento de água e esgoto gestado por empresas públicas estaduais; 03 por serviços municipais autônomos; 02 por empresas privadas; e 01 por parceria entre serviço público e empresa privada. Ou seja, comprova-se que em, mais de 70%, o serviço é exitoso quando sob controle do poder público comprometido em investir na área, alcançando até 98% de tratamento do esgoto.
Eis a mentira de Sarney desmontada pelas estatísticas do saneamento básico no País. Não responsabilizem nossos laboratoristas pela situação de nossas praias. A culpa é da má gestão da CAEMA!
3. O morubixaba apenas enxerga mais uma campanha sórdida das oposições contra o Maranhão: “Agora, são as praias ‘poluídas, impróprias para banho’. O próximo cartaz (...) dirá: ‘Não vá ao Maranhão, praias transmitem doenças’”... Reconhecer que as praias ficaram assim por responsabilidade de seu domínio sobre o Maranhão nos últimos 50 anos, nem perto!
Como bem informa o PSOL e seu candidato à Prefeitura de São Luís, Haroldo Saboia, no panfleto VEJA COMO CASTELO, TADEU E ROSEANA SARNEY DEIXARAM NOSSAS PRAIAS:  “O Governo do Estado foi obrigado pelo Ministério Público a colocar placas em toda a orla marítima alertando a população de que as nossas praias estão IMPRÓPRIAS para banho”.  As placas lá estão por obrigação legal imposta pela justiça a partir de ação do Ministério Público, órgão independente de governou ou oposição.
Como se vê, ao contrário do que afirma o “nosso Coronel Ramiro” da vida real maranhense, não tem nada daquela história de que, nesse debate da qualidade de nossas praias, “Isso é um jabuti trepado no pau. Ou é coisa de gente ou de enchente”... Tem mesmo é camaleão disfarçando as consequências de quase 50 anos de mando de sua oligarquia. Daqui a pouco, dão um jeito das placas “PRAIAS IMPRÓPRIAS PARA BANHO” sumirem... e tudo terá voltado ao normal, não passou de época de eleição. Vai tomar banho, Sarney!


        

(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 19/08/2012, página 16)

Um comentário:

Anônimo disse...

Longe de ser consolo, mas a estória parece a mesma do Rio, de saudosa lembrança. A elite farofeira do centro foi para o Flamengo, Glória, Botafogo, Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra, Jacarepaguá e já perdi a conta. Após depredarem cada bairro, meio que uma versão tupiniquim do "slash and burn" norte americano, se mudavam mais pra frente, enquanto o bairro depredado era ocupado por farofeiros de menor poder aquisitivo, mas igualmente fascinados por morar em bairro "chic".
Com a sinergia proporcionada pelos especuladores da construção civil, o Rio, sem bairrismo, uma das cidades mais lindas do mundo, se transformou no pesadelo atual.
Tive por uns anos esperança de que São Luís pudesse ter aprendido com o exemplo negativo do Rio e São Paulo. Mas tudo indica que caminhamos celeremente para o mesmo precipício, graças a uma monumental falta de preparo, sabedoria, honestidade e espírito público. "Política" se assemelha mais à crime oprganizado...