Franklin Douglas (*)
As notícias foram muitas e
diversas nos últimos dias, quase que a nos anestesiar para a compreensão da
realidade na qual vivemos.
A polêmica principal foram os
factoides, de ambos os lados, da Prefeitura de São Luís e do governo do Estado,
quanto ao financiamento e gestão da saúde pública na capital maranhense. Um
finge querer ajuda; o outro finge querer ajudar; e ambos fingem que só não
estabeleceram um "pacto por São Luís" por culpa do outro. Enquanto
isso, nos corredores dos "Socorrões", a população que depende dos
hospitais públicos não tem como fingir a dor do abandono...
Por conta do calendário momesco,
o cancelamento do carnaval de passarela pela Prefeitura de São Luís foi a outra
grande polêmica. Em função das alegadas dificuldades financeiras (ainda não se
sabe a quem se deve, quanto se deve, a quem Castelo pagou no apagar das luzes,
o quanto pagou e se o pagamento foi por serviço realmente feito), a população
deu um crédito à Prefeitura: melhor investir em saúde que em festa. No combate
à "pilantrização" de escolas e blocos carnavalescos, o perigo aqui é
jogar a criança junto com a água suja da bacia! Quem gostou mesmo foram os
Murads da Santa Casa: o milhão do carnaval foi parar na conta do Hospital Santa
Casa de Misericórdia, administrada por Abdon Murad, "eterno"
presidente do Conselho Regional de Medicina.
Por fim, do que vimos, a terceira
polêmica do noticiário foi o endividamento do Estado: agora, trata-se de um
bilhão de reais tomados do BNDES, de R$ 3,8 bi autorizados a contratar.
Dinheiro e muito para... asfaltar estradas e construir alguns daqueles
prometidos 72 hospitais! Enquanto isso, com menos de 20% desse bilhão de reais,
seria possível concluir os 3.500 apartamentos do PAC-Rio Anil (até hoje só
foram entregues 832 apartamentos pelo Governo Estadual: 96 na gestão Jackson
Lago e 736 por Roseana Sarney).
Isso, para não tratarmos da
violência que campeia, da energia elétrica que fica menos cara, esperemos que
também no Maranhão do ministro Edison Lobão, do bloqueio das contas do
ex-prefeito João Castelo...
Nesse emaranhado de notícias, uma
parece emergir como daquelas muito boas: "UFMA ABRIRÁ CONCURSO PÚBLICO
PARA O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO - Concurso selecionará 3.500 novos servidores,
segundo o reitor da instituição, Natalino Salgado..." (O Estado do
Maranhão, 19/01/2013, capa)...
Doce ilusão, para não dizer
salgada mentira!
Prossegue a matéria: "A
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que administra o Hospital
Universitário do estado (HUUFMA), informou que, por causa da assinatura de
contrato entre a reitoria da UFMA e a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (EBSERH) para parceria na administração dos hospitais
universitários federais, no dia 17 deste mês, está autorizada a realização de
concurso público para o ingresso de 3.500 novos funcionários na unidade
hospitalar. - 'Trata-se do maior
concurso público já realizado na história do Maranhão...' "(O
Estado do Maranhão, 19/01/2013, p. 5), aumenta a patranha Natalino Salgado, em
seu triplo e questionável exercício do cargo de reitor (dedicação exclusiva),
membro do conselho consultivo da EBSERH (12 horas) e também, na prática, diretor do H.U...
Cara leitora, caro leitor (e cara
concurseira, caro concurseiro!), NÃO
HAVERÁ CONCURSO PÚBLICO! NÃO SERÃO 3.500 NOVOS SERVIDORES FEDERAIS!! NÃO
SERÃO EFETIVADOS NO H.U!!!
Não haverá concurso público ao
H.U, mas sim um processo seletivo simplificado. Não serão vinculados ao Hospital
Universitário da UFMA, mas contratados pela empresa pública de direito privado EBSERH.
Não serão estáveis no Serviço Público, mas contratados por tempo limitado. Não
serão funcionários públicos estatutários, mas empregados públicos celetistas.
Qual a diferença?
O concurso público, conforme o
artigo 37 - inciso II da Constituição Federal, é a única forma de investidura
em cargo ou emprego público, mediante provas ou provas e títulos. Ele traz consigo
a estabilidade no serviço público e direitos trabalhistas regidos pelo Regime
Jurídico dos Servidores Públicos, portanto, estatutários.
No seletivo simplificado, a
contratação mediante provas sem a mesma objetividade prevista pela
Constituição, seleciona uma categoria de empregado público cujo tempo de
contrato terá no máximo quatro anos de duração (dois anos mais dois anos de
renovação e, excepcionalmente, caso dos H.U´s, podendo haver mais um ano de
prorrogação. Ou seja, no máximo um contrato de trabalho de até 5 anos).
Não serão servidores, mas 3.500
empregados públicos, por conseguinte, regidos pela CLT (sem estabilidade, sem
algumas garantias salariais e direitos reservados aos servidores públicos),
contratados não pela autarquia Universidade Federal do Maranhão, mas pela
empresa EBSERH, à qual estarão juridicamente vinculados.
Além disso, esse seletivo está em
questão porque a EBSERH está sob questionamento do Ministério Público Federal,
através de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN 4895) ajuizada pelo
procurador-geral da Repúblicas, Roberto Gurgel. Está em questão porque a
reunião do Conselho do H.U que autorizou a assinatura do contrato entre a UFMA
e a EBSERH está sob ação judicial local. O movimento dos professores, dos
estudantes, dos trabalhadores e usuários, reunidos na Fórum em Defesa da Saúde,
mantém a resistência à privatização do H.U.
Nesse amontoado de notícias
ruins, não caia você também no engodo da manchete "do maior concurso
público já realizado na história do Maranhão". Ela é tão danosa à
população quanto as demais.
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 17/01/2013, página 13)
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