domingo, 24 de março de 2013

HUGO CHÁVEZ E O MARANHÃO


 Franklin Douglas (*) 

Hugo Chávez entrou para a História pela porta da frente. Como mito, igualou-se no imaginário coletivo latino-americano a Che Guevara. E alcançou esse patamar pela coragem em desafiar não só a principal economia imperialista de seu tempo, os Estados Unidos, mas o sistema de exploração de um homem por outro homem que resulta em desigualdade, miséria de uma imensa maioria ante a riqueza de uma mínima minoria, mercantilização da vida e crescente destruição ambiental de nosso planeta. Certa vez, discursou Chávez na Cúpula sobre as mudanças climáticas: querem salvar o planeta, ouçam o que dizem os jovens nas ruas - não mudem o clima, mudem o sistema!
A imensa multidão de venezuelanos às ruas para despedir-se de Chávez nos faz lembrar ao que vimos, no Brasil, quando da morte de Airton Senna. Mas, a cobertura extremamente parcial da Rede Globo oculta esse carinho do povo da Venezuela por Chávez, trata como mera comoção social, não em respeito, em opção que esse povo tomou ao ser colocado em movimento na política de seu país.
A ideologização da Rede Globo apresenta Hugo Chávez como um ditador, mais um caudilho que se foi... acaso um ditador, após sofrer um golpe articulado pelas forças mais retrógradas do país, retornaria ao cargo por conta da mobilização do povo? Um "ditador" submeter-se-ia democraticamente a 15 eleições/referendos/plebiscitos no espaço de 14 anos no poder?
Chávez governou durante 14 anos a Venezuela. No Maranhão, o mesmo grupo oligárquico governa há 48 anos, dos quais 20 deles foi sem o direito de eleições livres. Para que tenhamos a noção do feito chavista na Venezuela, basta que comparemos alguns elementos de nossa realidade local com os daquele país. Por exemplo:
1) analfabetismo - em dois anos, Chávez erradicou, transformou a Venezuela num território livre do analfabetismo; no Maranhão, em quase 50 anos, à oligarquia não se interessou em acabar com o analfabetismo do povo maranhense, mantendo um dos maiores índices do país: por volta dos 20% de analfabetos;
2) miséria - Chávez reduziu em 50% a miséria em seu país. No Maranhão, em quase cinco décadas, a oligarquia levou o estado à condição de, proporcionalmente, maior concentração de pessoas em condições de miséria do País;
3) mortalidade infantil - em 14 anos, o chavismo reduziu à metade os índices de mortalidade infantil na Venezuela; no Maranhão, temos a segunda maior taxa de mortalidade infantil do País: 37,9 crianças mortas no primeiro ano de vida, em mil nascidas;
4) saúde - para enfrentar de imediato as péssimas condições de saúde do povo venezuelano, o governo trouxe 15 mil médicos cubanos ao país, enquanto financia fortemente a formação de jovens venezuelanos em Medicina. Essa ação reduziu drasticamente os indicadores de saúde venezuelanos; no Maranhão, não só faltam médicos (temos uma das menores médias de médicos por habitante do Brasil, 0,68!), como a oligarquia não conseguiu melhorar a saúde do povo. Ainda hoje reduzem sistema de saúde pública à promessa de construir 72 hospitais, o que não fizeram em 50 anos de poder!
Eis porque Hugo Chávez é acentuadamente querido em seu país. Terá José Sarney o mesmo reconhecimento do povo maranhense?
Por essas e outras, o senador amapo-maranhense foi um dos ferrenhos adversários de Chávez no Senado Federal, opondo-se à entrada da Venezuela no Mercosul. Mas sofismava que por lá não tinha democracia. Certamente Sarney dá ao mundo o exemplo de democracia que pratica no Maranhão: uma só família no poder!
Não devemos subestimar as dificuldades da Venezuela e de sua economia sem Chávez. Não devemos endeusar o próprio Chávez. Foi um ser humano, com erros e acertos. Contudo, procurou acertar mais que errar, ao encorajar seu povo à luta. Buscou ativar a massa de despossuídos, pobres e miseráveis, dando-lhes dignidade em vida.
Em seu projeto próprio, ou internacionalista da Revolução Bolivariana, ou estratégico da unidade da América do Sul, ou comercial de entrada da Venezuela no Mercosul, ele poderia calar-se ante à miséria maranhense... Não o fez!
Hugo Chávez, em 27 de março de 2008, não só veio ao Maranhão como, do Palácio dos Leões, prestou seu apoio a Jackson Lago, ao MST e conclamou o povo a se organizar, colocando a Venezuela à disposição para ajudar o Maranhão a sair do analfabetismo e das péssimas condições de saúde.
Enfrentou o velho oligarca em sua própria terra.
Mesmo que isso colocasse praticamente em xeque a entrada da Venezuela no Mercosul, que aquela época dependia de aprovação do Senado brasileiro, sob oposição de José Sarney, Chávez preferiu ficar ao lado do povo maranhense do que se submeter à chantagem no Senado!
Entrou também para a história maranhense.
Contra o capitalismo, discursava Chávez:
"Ouçamos Fidel Castro, quando disse: 'uma espécie está em extinção, o Homem';
Ouçamos Rosa Luxemburgo: 'socialismo ou barbárie!';
Ouçamos a Cristo, o Redentor, quando disse: 'bem-aventurados os pobres, porque deles será o Reino dos Céus' ".
Para infelicidade das oligarquias venezuelanas e do Maranhão, foi em palavras, gestos e atos que Hugo Chávez imortalizou-se e, assim, transformou-se em verdadeiro exemplo de guerreiro do povo venezuelano, brasileiro, latino, do mundo... e do Maranhão!



(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 10/03/2013, p. 11)

Nenhum comentário: