Franklin Douglas (*)
Hugo Chávez entrou para a
História pela porta da frente. Como mito, igualou-se no imaginário coletivo
latino-americano a Che Guevara. E alcançou esse patamar pela coragem em
desafiar não só a principal economia imperialista de seu tempo, os Estados
Unidos, mas o sistema de exploração de um homem por outro homem que resulta em desigualdade,
miséria de uma imensa maioria ante a riqueza de uma mínima minoria,
mercantilização da vida e crescente destruição ambiental de nosso planeta.
Certa vez, discursou Chávez na Cúpula sobre as mudanças climáticas: querem
salvar o planeta, ouçam o que dizem os jovens nas ruas - não mudem o clima,
mudem o sistema!
A imensa multidão de venezuelanos
às ruas para despedir-se de Chávez nos faz lembrar ao que vimos, no Brasil,
quando da morte de Airton Senna. Mas, a cobertura extremamente parcial da Rede
Globo oculta esse carinho do povo da Venezuela por Chávez, trata como mera
comoção social, não em respeito, em opção que esse povo tomou ao ser colocado
em movimento na política de seu país.
A ideologização da Rede Globo
apresenta Hugo Chávez como um ditador, mais um caudilho que se foi... acaso um
ditador, após sofrer um golpe articulado pelas forças mais retrógradas do país,
retornaria ao cargo por conta da mobilização do povo? Um "ditador"
submeter-se-ia democraticamente a 15 eleições/referendos/plebiscitos no espaço
de 14 anos no poder?
Chávez governou durante 14 anos a
Venezuela. No Maranhão, o mesmo grupo oligárquico governa há 48 anos, dos quais
20 deles foi sem o direito de eleições livres. Para que tenhamos a noção do feito
chavista na Venezuela, basta que comparemos alguns elementos de nossa realidade
local com os daquele país. Por exemplo:
1) analfabetismo - em dois anos,
Chávez erradicou, transformou a Venezuela num território livre do
analfabetismo; no Maranhão, em quase 50 anos, à oligarquia não se interessou em
acabar com o analfabetismo do povo maranhense, mantendo um dos maiores índices
do país: por volta dos 20% de analfabetos;
2) miséria - Chávez reduziu em
50% a miséria em seu país. No Maranhão, em quase cinco décadas, a oligarquia
levou o estado à condição de, proporcionalmente, maior concentração de pessoas
em condições de miséria do País;
3) mortalidade infantil - em 14
anos, o chavismo reduziu à metade os índices de mortalidade infantil na
Venezuela; no Maranhão, temos a segunda maior taxa de mortalidade infantil do
País: 37,9 crianças mortas no primeiro ano de vida, em mil nascidas;
4) saúde - para enfrentar de
imediato as péssimas condições de saúde do povo venezuelano, o governo trouxe
15 mil médicos cubanos ao país, enquanto financia fortemente a formação de
jovens venezuelanos em Medicina. Essa ação reduziu drasticamente os indicadores
de saúde venezuelanos; no Maranhão, não só faltam médicos (temos uma das
menores médias de médicos por habitante do Brasil, 0,68!), como a oligarquia
não conseguiu melhorar a saúde do povo. Ainda hoje reduzem sistema de saúde
pública à promessa de construir 72 hospitais, o que não fizeram em 50 anos de
poder!
Eis porque Hugo Chávez é
acentuadamente querido em seu país. Terá José Sarney o mesmo reconhecimento do
povo maranhense?
Por essas e outras, o senador
amapo-maranhense foi um dos ferrenhos adversários de Chávez no Senado Federal,
opondo-se à entrada da Venezuela no Mercosul. Mas sofismava que por lá não
tinha democracia. Certamente Sarney dá ao mundo o exemplo de democracia que
pratica no Maranhão: uma só família no poder!
Não devemos subestimar as
dificuldades da Venezuela e de sua economia sem Chávez. Não devemos endeusar o
próprio Chávez. Foi um ser humano, com erros e acertos. Contudo, procurou
acertar mais que errar, ao encorajar seu povo à luta. Buscou ativar a massa de
despossuídos, pobres e miseráveis, dando-lhes dignidade em vida.
Em seu projeto próprio, ou internacionalista
da Revolução Bolivariana, ou estratégico da unidade da América do Sul, ou
comercial de entrada da Venezuela no Mercosul, ele poderia calar-se ante à
miséria maranhense... Não o fez!
Hugo Chávez, em 27 de março de
2008, não só veio ao Maranhão como, do Palácio dos Leões, prestou seu apoio a
Jackson Lago, ao MST e conclamou o povo a se organizar, colocando a Venezuela à
disposição para ajudar o Maranhão a sair do analfabetismo e das péssimas condições
de saúde.
Enfrentou o velho oligarca em sua
própria terra.
Mesmo que isso colocasse
praticamente em xeque a entrada da Venezuela no Mercosul, que aquela época
dependia de aprovação do Senado brasileiro, sob oposição de José Sarney, Chávez
preferiu ficar ao lado do povo maranhense do que se submeter à chantagem no
Senado!
Entrou também para a história
maranhense.
Contra o capitalismo, discursava
Chávez:
"Ouçamos Fidel Castro, quando disse: 'uma
espécie está em extinção, o Homem';
Ouçamos Rosa Luxemburgo: 'socialismo ou barbárie!';
Ouçamos a Cristo, o Redentor, quando disse:
'bem-aventurados os pobres, porque deles será o Reino dos Céus' ".
Para infelicidade das oligarquias
venezuelanas e do Maranhão, foi em palavras, gestos e atos que Hugo Chávez
imortalizou-se e, assim, transformou-se em verdadeiro exemplo de guerreiro do
povo venezuelano, brasileiro, latino, do mundo... e do Maranhão!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 10/03/2013, p. 11)
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