domingo, 24 de março de 2013

OU SAI FELICIANO OU SAEM OS DIREITOS HUMANOS


 Franklin Douglas (*) 
Não há meio-termo, alternativa conciliatória ou negociação que contemple as duas partes: ou sai o deputado federal Marco Feliciano (PSC) da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias ou sai a pauta dos direitos humanos da agenda da Câmara dos Deputados.

O deputado Marco Feliciano (PSC) é pastor-presidente da Igreja Catedral do Avivamento, cujo lema é: “A igreja que entende você”. A igreja dele pode até entender, mas ele não... leia as declarações do deputado-pastor:
"Africanos descendem de um ancestral amaldiçoado" (twitter do próprio deputado, @marcofeliciano); "Não sou racista. É uma questão teológica (...) O caso do continente africano é sui generis: quase todas as seitas satânicas, de vodu, são oriundas de lá. Essas doenças, como a Aids, são todas provenientes da África" (Marco Feliciano em declaração ao site UOL Notícias, 31/03/2011)...  Feliciano não entende dos direitos humanos de negros e negras!
“A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, a rejeição”, (twitter também do próprio deputado, @marcofeliciano)... “Não aceito as atitudes homossexuais em espaço público” (Marco Feliciano em declaração à revista Época, 31/03/2011)... Feliciano não entende dos direitos humanos de homossexuais!
“Quando você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como mãe começa a ficar anulada”... E continua o deputado:  “E, para que ela não seja mãe, só há uma maneira que se conhece: ou ela não se casa, ou mantém um casamento, um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo, e que vão gozar dos prazeres de uma união e não vão ter filhos. Eu vejo de uma maneira sutil atingir a família; quando você estimula as pessoas a liberarem os seus instintos e conviverem com pessoas do mesmo sexo, você destrói a família, cria-se uma sociedade onde só tem homossexuais, você vê que essa sociedade tende a desaparecer porque ela não gera filhos” (Marco Feliciano em declaração ao jornal O Globo, 20/03/2013)... Feliciano não entende dos direitos humanos das mulheres!
Por essas e outras (o deputado responde a duas ações no STF por crimes de homofobia e de estelionato, além de, em vídeo no YouTube, zombar de um fiel que doa o cartão bancário à igreja, cobrando-lhe a senha, pois só o cartão não serviria...), o deputado Feliciano tem sido rejeitado por diversos movimentos e organizações que exigem sua renúncia da presidência da Comissão de Direitos Humanos, tais como: OAB, Procuradoria Geral da República, Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Movimento Nacional de Direitos Humanos e cerca de 50 entidades em manifesto público, diversas e múltiplas manifestações de rua convocadas por jovens via redes sociais e mais de 543 mil pessoas que assinam a petição online “Fora Feliciano”, na internet. E também igrejas evangélicas que discordam de suas declarações racistas, homofobias e machistas.
Uma Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, que reúne os deputados Domingos Dutra (Rede/MA), Jean Willys e Chico Alencar (PSOL/RJ), Ivan Valente (PSOL/SP), Luiza Erundina (PSB/SP), Nilmário Miranda (PT/MG), Manuela Dávila (PCdoB/RS), dentre outros, mobiliza a Câmara dos Deputados para o absurdo de ter a sua Comissão mais ligada às demandas dos direitos humanos ser tomada de assalto pelo setor mais conservador do Congresso Nacional.
Na tribuna do parlamento, nas redes sociais, nas ruas, nas praças, é obrigação de todas e todos, é sua caro leitor, é sua cara leitora, que almejam uma sociedade democrática, justa, igualitária, sem preconceitos, de não deixar essa batalha ser vencida pelo fundamentalismo ideológico. Não dá para agir como alertava Bertold Brecht (1898-1956), em seu poema “Intertexto”:
“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”.

Primeiro Feliciano atacou os negros; em seguida os homossexuais; depois as mulheres... E nós, não vamos dizer nada?

(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 24/03/2013, p. 12)

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