Franklin Douglas (*)
Não há meio-termo, alternativa
conciliatória ou negociação que contemple as duas partes: ou sai o deputado
federal Marco Feliciano (PSC) da presidência da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias ou sai a pauta dos direitos humanos da agenda da Câmara dos Deputados.
O deputado Marco Feliciano (PSC)
é pastor-presidente da Igreja Catedral do Avivamento, cujo lema é: “A igreja
que entende você”. A igreja dele pode até entender, mas ele não... leia as
declarações do deputado-pastor:
"Africanos descendem de um
ancestral amaldiçoado" (twitter do próprio deputado, @marcofeliciano);
"Não sou racista. É uma questão teológica (...) O caso do continente
africano é sui generis: quase todas as seitas satânicas,
de vodu, são oriundas de lá. Essas doenças, como a Aids, são todas provenientes
da África" (Marco Feliciano em declaração ao site UOL Notícias,
31/03/2011)... Feliciano não entende dos
direitos humanos de negros e negras!
“A podridão dos sentimentos dos
homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, a rejeição”, (twitter também do
próprio deputado, @marcofeliciano)... “Não aceito as atitudes homossexuais em
espaço público” (Marco Feliciano em declaração à revista Época, 31/03/2011)...
Feliciano não entende dos direitos humanos de homossexuais!
“Quando você estimula uma mulher
a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como
mãe começa a ficar anulada”... E continua o deputado: “E, para que ela não seja mãe, só há uma
maneira que se conhece: ou ela não se casa, ou mantém um casamento, um
relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo, e que vão gozar dos prazeres de
uma união e não vão ter filhos. Eu vejo de uma maneira sutil atingir a família;
quando você estimula as pessoas a liberarem os seus instintos e conviverem com
pessoas do mesmo sexo, você destrói a família, cria-se uma sociedade onde só
tem homossexuais, você vê que essa sociedade tende a desaparecer porque ela não
gera filhos” (Marco Feliciano em declaração ao jornal O Globo, 20/03/2013)... Feliciano
não entende dos direitos humanos das mulheres!
Por essas e outras (o deputado
responde a duas ações no STF por crimes de homofobia e de estelionato, além de,
em vídeo no YouTube, zombar de um fiel que doa o cartão bancário à igreja,
cobrando-lhe a senha, pois só o cartão não serviria...), o deputado Feliciano
tem sido rejeitado por diversos movimentos e organizações que exigem sua
renúncia da presidência da Comissão de Direitos Humanos, tais como: OAB,
Procuradoria Geral da República, Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, Movimento Nacional de Direitos Humanos e cerca de 50 entidades em
manifesto público, diversas e múltiplas manifestações de rua convocadas por
jovens via redes sociais e mais de 543 mil pessoas que assinam a petição online “Fora Feliciano”, na internet. E também igrejas evangélicas que discordam
de suas declarações racistas, homofobias e machistas.
Uma Frente Parlamentar em Defesa
dos Direitos Humanos, que reúne os deputados Domingos Dutra (Rede/MA), Jean
Willys e Chico Alencar (PSOL/RJ), Ivan Valente (PSOL/SP), Luiza Erundina
(PSB/SP), Nilmário Miranda (PT/MG), Manuela Dávila (PCdoB/RS), dentre outros, mobiliza a Câmara dos Deputados para o absurdo de ter a sua Comissão mais ligada às demandas
dos direitos humanos ser tomada de assalto pelo setor mais conservador do Congresso Nacional.
Na tribuna do parlamento, nas
redes sociais, nas ruas, nas praças, é obrigação de todas e todos, é sua caro
leitor, é sua cara leitora, que almejam uma sociedade democrática, justa, igualitária, sem preconceitos, de não deixar essa batalha
ser vencida pelo fundamentalismo ideológico. Não dá para agir como alertava Bertold Brecht (1898-1956), em seu poema “Intertexto”:
“Primeiro
levaram os negros
Mas
não me importei com isso
Eu
não era negro
Em
seguida levaram alguns operários
Mas
não me importei com isso
Eu
também não era operário
Depois
prenderam os miseráveis
Mas
não me importei com isso
Porque
eu não sou miserável
Depois
agarraram uns desempregados
Mas
como tenho meu emprego
Também
não me importei
Agora
estão me levando
Mas
já é tarde.
Como
eu não me importei com ninguém
Ninguém
se importa comigo”.
Primeiro Feliciano atacou os
negros; em seguida os homossexuais; depois as mulheres... E nós, não vamos
dizer nada?
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 24/03/2013, p. 12)
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