Franklin Douglas (*)
Em artigo publicado no Jornal Pequeno de 10 de junho (Aparência e essência da greve nas universidades federais – 10.06.2012, p. 16), articulávamos o que estava em jogo na greve dos professores universitários:
“Em aparência, temos no Brasil uma inédita expansão do ensino superior, a democratização do acesso à universidade, a ampliação dos programas de pós-graduação, o aumento da produção da pesquisa e de citação de pesquisadores brasileiros nos rankings internacionais...
Em essência, estamos sob o mais forte ataque à universidade pública, de qualidade, centro de referência de produção de conhecimento, colocando em risco sua autonomia e democratização – por exemplo, nos quase 10 anos do lulo-petismo no governo, nada mudou na forma de eleição dos reitores, ainda herança da Ditadura Militar.
Em aparência os problemas são locais: a superlotação das turmas, a precarização do trabalho do professor, a inadequação dos locais de ensino, a falta de bolsas de pesquisa, o produtivismo imposto pelas avaliações anuais (avaliação da CAPES, ENADE´s, ENEM´s, etc.), os parcos recursos para a atualização das bibliotecas e apoio à divulgação de pesquisas, a falta de política de incentivo à publicação de dissertações e teses...
Em essência, o que é local, na verdade, obedece a uma diretriz internacional de organizações como Banco Mundial, OMC (Organização Mundial do Comércio) e FMI (Fundo Monetário Internacional), sob a lógica de tornar as políticas educacionais dos países latinos submetidas ao modelo neoliberal”.
No serviço público federal brasileiro, o desmonte da carreira docente tornou-se o viés explícito da implementação desse projeto. A reação a esse desmonte foi também o principal fator de mobilização dos professores. Por isso a greve (que ultrapassa os 100 dias!) cresceu, atropelou direções sindicais pelegas e se transformou na maior paralisação já acontecida sob a era do lulo-petismo no governo federal.
Com a ajuda da mídia conservadora, o governo Dilma deu aos docentes o mesmo tratamento que FHC dispensou à greve dos petroleiros: quebrar a espinha dorsal do que pudesse vir a ser qualquer pólo de resistência a esse projeto. Sua ampla governabilidade, do PMDB de Temer, Sarney e Renan ao PT desfigurado pelo mensalão e distante do movimento social transformador, tornou-se a sustentação da intransigência em negociar com os docentes.
Buscando ser mais realista que o rei, o reitor Natalino Salgado, aquele reeleito sob ampla abstenção de estudantes (a tal ponto que sequer divulgou o resultado completo do processo eleitoral), busca repetir a dose da receita da presidenta... Ligado ao tucano João Castelo, bem quisto pela oligarquia e seu sarno-PT e apoiado por seus docentes e estudantes alojados no DCE e D.A´s, Salgado tem sua base de sustentação até o PCdoB de Flávio Dino: só não conta com o aval do PT que ainda resiste, do PSOL, do PCB e do PSTU na universidade, além de pesquisadores sem filiação partidária, mas críticos e independentes.
Sob essa ampla sustentação política, Natalino ousou tentar tutelar o sindicato docente no processo eleitoral da APRUMA (no qual foi derrotado), pratica escancaradamente o nepotismo nas nomeações aos cargos de direção superior, versa sem qualquer transparência o orçamento da universidade e se torna ícone do uso privado dos recursos públicos financiadores do SUS (Sistema Único de Saúde) ao manter, no mesmo endereço, dois CNPJ´s de duas clínicas suas para o mesmo serviço de hemodiálise, a fim de poder obter mais dinheiro público. Enquanto o empreendimento de saúde privada do reitor Natalino cresce (com 109 rins artificiais), o serviço público de saúde e hemodiálise maranhense míngua (com menos de 30 rins artificiais em funcionamento)...
É esse reitor tucano-sarnopetê-peemedebê-comunista, que agora intervém no Colégio Universitário (COLUN) e destitui sua direção, a fim de tentar garantir na força do tacape e a qualquer custo o retorno das aulas no COLUN, insuflando inclusive pais e alunos contra professores.
Por essas e outras, o movimento grevista e o movimento estudantil autêntico enterraram simbolicamente Natalino e sua gestão “participativa”: em ato público realizado no dia 29/08, disseram bem alto um NÃO AO AUTORITARISMO.
Com sua intervenção no COLUN, Natalino Salgado reaquece o movimento grevista. Ao invés de portar-se como estadista, assume sua feição mais conhecida entre os docentes da UFMA, embora pouca visualizada pela sociedade: a de déspota, no caso, nada esclarecido.(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 02/09/2012, página 16)
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