MEIA PASSAGEM (*)
Joãozinho Ribeiro
São Luís, setembro, setenta e nove:
Veloz esgota-se a tarde
E o dia formando os meses
Que assim vão contando a vida
Mil e novecentas vezes
17, setembro, presente!
Paisagem feita de tempo
Na oficina da história
Guardada feito lembrança
Na gaveta da memória
E os companheiros de outrora?
Em que praça passam as horas?
Nas palafitas, sobrados?
Na luta agora embutida
Em armários de aço silentes,
Por onde navegam as noites?
Nos finais de expediente?
17, setembro, e o povo?
A luta ainda continua?
Ou ficou no meio da paisagem
Abandonada nas ruas?
Carregando outras bandeiras
Que nunca mais foram suas?
E a rebeldia da Ilha,
Protocolou-se também?
Vendeu-se e acomodou-se
Em cargo lhe convém
Feito um discípulo Iscariotes
Na nova Jerusalém?
São Luís, setembro, cidade
Das minhas dezenas de abris
Quem te passeia não sabe
Dos setembros que completas,
Da luta da meia passagem
Pichada em letras de muro,
No coração de um poeta.
(*) adaptado do livro Paisagem Feita de Tempo
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