domingo, 12 de janeiro de 2014

Faroeste maranhense (VII) - No Fantástico...

Fantástico' divulga vídeo da ação policial em Pedrinhas antes de ataques.
Preso relata pressão e medo para escolher facção ao entrar no presídio.


Imagens exclusivas obtidas pelo "Fantástico" mostram policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar do Maranhão e da Força Nacional retirando armas, facões, facas, celulares, drogas e até um caderno da contabilidade de dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, em uma vistoria no presídio no dia 31 de dezembro de 2013.

O material pertencia a duas facções rivais que disputam o controle do presídio e controlam o tráfico de drogas na capital maranhense. Segundo um dos presos ouvidos pelo "Fantástico", logo que ingressam na unidade, o detento é pressionado e ameaçado a escolher em qual das duas facções fará parte.
Foi logo após a inspeção policiais em dezembro que o chefe de uma das facções, Wallison dos Santos, deu a ordem para que Hilton John Alves Araújo, o "Praguinha", seu comparsa do lado de fora das celas, iniciasse os ataques nas ruas, inclusive determinando que fosse incendiada a casa onde mora o comandante da tropa de Choque da PM, o que não ocorreu. Santos demonstrava revolta com a apreensão de uma pistola calibre 380, fogão, ventilador e outros pertences do grupo.
Três dias após a inspeção, vários tiros atingiram duas delegacias de São Luís e um posto da polícia e quatro ônibus foram incendiados.

Cinco pessoas ficaram feridas devido aos ataques. A menina Ana Clara, de 6 anos, morreu devido às queimaduras após ter mais de 90% do corpo queimado.
A intervenção policial no presídio começou após uma série de mortes no estado – foram mais de 60 casos dentro de penitenciárias, segundo relatório do Conselho Nacional de Justiça, obrigando o governo do Maranhão a decretar estado de emergência no sistema prisional.
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onda de ataques no Maranhão (Foto: Arte G1)
“É uma coisa que eu jamais pensei que ia acontecer na minha família. Às vezes eu ligava a televisão, ficava vendo o noticiário, as crueldades que acontece, a gente muda de canal. A gente pensa que isso nunca vai acontecer com a gente”, diz o pai de Ana Clara, Anderson de Souza.

Pressão de facções
A reportagem do “Fantástico” entrou nesta semana no complexo com a Comissão de Direitos Humanos. No Centro de Triagem, um preso relatou que as facções fazem pressão para que os detentos aceitem suas regras.
Assim que chegam à unidade o preso é obrigado a decidir se quer aderir ao Primeiro Comando do Maranhão (PCM) ou o Bonde dos 40. Caso contrário sofre represália.
Rapaz, até mesmo pra assinar papel ou joga por com eles ou morre”
- “O que é assinar papel?”
É pra dizer que é da facção do Bonde dos 40 ou PCM. Tem um estatuto, um livro que eles assinam. Olha e se não fizer mata família, mata parente, mata inocente, é o que tá acontecendo aí"
- Aí todo mundo acaba entrando numa facção?
"Tem que entrar forçado"
O complexo de Pedrinhas é uma prisão estadual formada por 8 unidades. A superlotação é apontada como um dos maiores problemas: são 2.196 presos – 23% a mais do que a capacidade (1.700). Segundo especialistas, uma verdadeira “panela de pressão” onde rebeliões, mortes violentas, inclusive com decapitações, vêm sendo registradas há algum tempo.
“De outubro (de 2013) pra cá a situação se agravou bastante e isso dá pela formação das facções criminosas. Mas, o que é preciso lembrar é de que essas facções criminosas tiveram facilitada a sua formação pelo processo de superlotação e concentração de presos na capital”, diz o presidente da Associação dos Magistrados do Estado, Gervásio Santos.
Falta de agentes
Desde 2007, Pedrinhas já registrou a morte de 171 presos. Só em 2013, foram 60 mortos e 169 fugas. Na penitenciária, também faltam agentes e o estado contratou funcionários terceirizados. 
"Nós tínhamos um número muito pequeno de agentes penitenciários. Havia uma necessidade emergencial de mão-de-obra dentro dos presídios e foi o modelo que se aplicou”, diz o secretário de segurança pública, Aluisio Guimarães Mendes Filho.

Nesta semana, senadores e a presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Justiça, Cidadania, Direitos Humanos e Administração Penitenciária (Consej) estarão no estado tentando buscar soluções para a crise no sistema penitenciário.

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