domingo, 12 de janeiro de 2014

INTERVENÇÃO BRANCA NÃO. INTERVENÇÃO DE FATO NO MARANHÃO!!

Franklin Douglas (*)


No artigo "Oligarquia e barbárie", publicado aqui no Jornal Pequeno (edição de 29/12/2013), busquei chamar a atenção da opinião pública maranhense para a situação de calamidade em que se encontrava o sistema prisional do estado.
Os números que apresentei se defasaram em menos de 15 dias. Em termos de evidência de nossa cruel singularidade, chegamos neste início de 2014 a duas alarmantes comparações:
1) Em 2013, 39 foram executados por pena de morte nos Estados Unidos. Dentro de prisões no Maranhão foram 62 homicídios. Nas prisões maranhenses, mata-se 1,58 vezes mais do que americanos executados por pena de morte. Quase o dobro!
2) Idêntica situação em relação ao número de mortos no conflito Israel-Palestina em 2013. Lá, morreram 27 palestinos na Cisjordânia, 09 em Gaza e 03 israelenses. É mais seguro estar na Faixa de Gaza do que dentro do presídio de Pedrinhas!!
Não há paralelo no país com a situação carcerária maranhense. Novamente aos números: existem 550 mil presos no Brasil. Desses 550 mil, 5.417 estão no Maranhão. Atente: o Maranhão possui 0,98% (zero vírgula noventa e oito por cento) do total de presos do país!
Em 2013, dos 550 mil presos no país, foram assassinados 218. Destes, 62 foram no Maranhão. Ou seja: 28,44% dos homicídios de presos são no Maranhão. Com menos de 1% do total de presos do país, o Maranhão responde por cerca de 30% dos homicídios! Há uma verdadeira pena de morte estabelecida nas prisões do estado.
Mas para a governadora Sarney, com 23 mortes a mais entre setembro de 2013 e janeiro de 2014, apenas ultrapassamos, ao chegar aos 62 mortos, o "limite do que se esperava"!!
Para a governadora do "eu quero, eu posso, eu mando", não há violência sexual contra mulheres nas visitas íntimas em Pedrinhas...
Para o morubixaba da oligarquia, temos que comemorar pois "a violência está dentro dos presídios, não fora"!!
Ambos dispensam a realidade em suas explicações. MENTEM DESCARADAMENTE!
Como se a população se tornasse cega ao "toque de recolher" que São Luís enfrentou, com a retirada de ônibus de circulação devido ao incêndio de 04 deles determinado pelas organizações criminosas.
Essa elite oligárquica finge se importar com a morte de uma criança de 06 anos, queimada num desses incêndios aos ônibus. Mas o que importa mesmo é aumentar em mais de 136%, R$ 74 milhões de reais, o contrato do sócio do marido da governadora na terceirização da segurança pública, a fim de enriquecer os seus... afinal, isso tudo acontece porque o "Maranhão é rico", confessou a governadora.
E, sobretudo, o que importa mesmo em seu governo é não cancelar a licitação do uísque 12 anos, dos 80 potes de geleia francesa, da tonelada e meia de camarão, dos 80 quilos de lagosta... Enfim, do caviar, a oligarquia não abre mão!
Enquanto isso, à míngua fica o Maranhão.
O termo "barbárie" que utilizei, de tão adequado para retratar a realidade, tornou-se central nas análises de diversos articulistas nacionais e locais. Especialmente, destaco, com edição, três delas:
1) a do professor da UFMA Ed Wilson:
"O Maranhão é o lugar do saque. O sistema de segurança sabe quais são as providências necessárias, mas o governo Roseana Sarney (PMDB) não está interessado em resolver a situação.
É nesse contexto que o crime organizado se reestruturou no Maranhão, dentro e fora dos presídios, conjugando barbárie e negócios. Ao longo dos últimos 50 anos, o modus operandi do crime passou por várias etapas: pistolagem, roubo de cargas, assalto a banco, agiotagem, tráfico de drogas, comando de Pedrinhas.
O governo perdeu o controle da situação. Enquanto isso, o grande prejudicado é o cidadão maranhense".
2) a do professor da PUC/SP Leonardo Sakamoto:
"A situação no Maranhão é responsabilidade de quem o administra há décadas.
O Maranhão, sob o domínio dos Sarney por décadas, não só permaneceu nas piores posições nos indicadores sociais, mas também viu suas terras serem desmatadas e poluídas, latifúndios crescerem, trabalhadores serem escravizados e assassinados, comunidades tradicionais serem ameaçadas e expulsas, a educação ser sucateada, os meios de comunicação ficarem concentrados nas mãos de poucos políticos. Até juiz já foi flagrado com trabalho escravo pelo governo federal em sua fazenda, mas acabou sendo absolvido pelos colegas por lá.
Alguns vão colocar a culpa na própria população que os elege. Não é tão simples – Sarney teve que fugir e virar senador pelo Amapá para não ficar fora do jogo político em um determinado momento. E sua filha, Roseana, já perdeu uma eleição para o governo.
Ou seja, há focos de resistência na forma de importantes movimentos sociais e uma sociedade civil cada vez mais atuante. Para muita gente que vive no Maranhão, a vida se equilibra entre um “salve-se quem puder'' e um “não tenho nada a perder''.
3) do jornalista da Folha de São Paulo Juca Kfouri:
"Como uma sarna que não sara. Fruto de uma família que não saneia. Quase meio século de dominação no belo, e desgraçado, Maranhão. Os Sarney são como uma epidemia, uma infecção.
Tem Sarney até na CBF, um tal Fernando, vice-presidente da região norte, embora o Maranhão fique no nordeste. Roseana, a governadora, talvez seja quem melhor personifique o estado: bela por fora, perversa por dentro, a ponto de se indignar mais com as imagens da barbárie em sua casa do que com a própria barbárie, de sua responsabilidade.
E tem ainda o Sarney Filho, o Zequinha, que se diz verde e não fica vermelho. Maldito o ventre que o coronel José fecundou para trazer tanta miséria ao povo brasileiro. Até quando, até quando, até quando?"
Nesse faroeste maranhense, esperemos que até muito breve, caro Juca.
E não adianta o socorro ineficaz do governo Dilma (PT-PMDB) ao governo do PMDB-PT do clã aliado no Maranhão.
Nas redes sociais, nas ruas, como vimos a juventude do "Acorda Maranhão", na petição on line que circula na internet (até hoje, com mais de 15 mil assinaturas), na opinião pública nacional, o que se exige é a intervenção federal no Maranhão.
INTERVENÇÃO BRANCA NÃO. INTERVENÇÃO DE FATO NO MARANHÃO!

(*) Franklin Douglas -  jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 12/01/2014, p. 12.

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