No artigo "Oligarquia e
barbárie", publicado aqui no Jornal Pequeno (edição de 29/12/2013),
busquei chamar a atenção da opinião pública maranhense para a situação de calamidade
em que se encontrava o sistema prisional do estado.
Os números que apresentei se
defasaram em menos de 15 dias. Em termos de evidência de nossa cruel
singularidade, chegamos neste início de 2014 a duas alarmantes comparações:
1) Em 2013, 39 foram executados
por pena de morte nos Estados Unidos. Dentro de prisões no Maranhão foram 62
homicídios. Nas prisões maranhenses, mata-se 1,58 vezes mais do que americanos
executados por pena de morte. Quase o dobro!
2) Idêntica situação em relação
ao número de mortos no conflito Israel-Palestina em 2013. Lá, morreram 27
palestinos na Cisjordânia, 09 em Gaza e 03 israelenses. É mais seguro estar na
Faixa de Gaza do que dentro do presídio de Pedrinhas!!
Não há paralelo no país com a
situação carcerária maranhense. Novamente aos números: existem 550 mil presos
no Brasil. Desses 550 mil, 5.417 estão no Maranhão. Atente: o Maranhão possui
0,98% (zero vírgula noventa e oito por cento) do total de presos do país!
Em 2013, dos 550 mil presos no
país, foram assassinados 218. Destes, 62 foram no Maranhão. Ou seja: 28,44% dos
homicídios de presos são no Maranhão. Com menos de 1% do total de presos do
país, o Maranhão responde por cerca de 30% dos homicídios! Há uma verdadeira
pena de morte estabelecida nas prisões do estado.
Mas para a governadora Sarney,
com 23 mortes a mais entre setembro de 2013 e janeiro de 2014, apenas
ultrapassamos, ao chegar aos 62 mortos, o "limite do que se
esperava"!!
Para a governadora do "eu quero,
eu posso, eu mando", não há violência sexual contra mulheres nas visitas
íntimas em Pedrinhas...
Para o morubixaba da oligarquia,
temos que comemorar pois "a violência está dentro dos presídios, não
fora"!!
Ambos dispensam a realidade em
suas explicações. MENTEM DESCARADAMENTE!
Como se a população se tornasse
cega ao "toque de recolher" que São Luís enfrentou, com a retirada de
ônibus de circulação devido ao incêndio de 04 deles determinado pelas
organizações criminosas.
Essa elite oligárquica finge se importar
com a morte de uma criança de 06 anos, queimada num desses incêndios aos
ônibus. Mas o que importa mesmo é aumentar em mais de 136%, R$ 74 milhões de
reais, o contrato do sócio do marido da governadora na terceirização da
segurança pública, a fim de enriquecer os seus... afinal, isso tudo acontece
porque o "Maranhão é rico", confessou a governadora.
E, sobretudo, o que importa mesmo
em seu governo é não cancelar a licitação do uísque 12 anos, dos 80 potes de
geleia francesa, da tonelada e meia de camarão, dos 80 quilos de lagosta...
Enfim, do caviar, a oligarquia não abre mão!
Enquanto isso, à míngua fica o
Maranhão.
O termo "barbárie" que
utilizei, de tão adequado para retratar a realidade, tornou-se central nas
análises de diversos articulistas nacionais e locais. Especialmente, destaco,
com edição, três delas:
1) a do professor da UFMA Ed Wilson:
"O
Maranhão é o lugar do saque. O sistema de segurança sabe quais são as
providências necessárias, mas o governo Roseana Sarney (PMDB) não está
interessado em resolver a situação.
É
nesse contexto que o crime organizado se reestruturou no Maranhão, dentro e
fora dos presídios, conjugando barbárie e negócios. Ao longo dos últimos 50
anos, o modus operandi do crime passou por várias etapas: pistolagem, roubo de
cargas, assalto a banco, agiotagem, tráfico de drogas, comando de Pedrinhas.
O
governo perdeu o controle da situação. Enquanto isso, o grande prejudicado é o
cidadão maranhense".
2) a do professor da PUC/SP
Leonardo Sakamoto:
"A
situação no Maranhão é responsabilidade de quem o administra há décadas.
O
Maranhão, sob o domínio dos Sarney por décadas, não só permaneceu nas piores
posições nos indicadores sociais, mas também viu suas terras serem desmatadas e
poluídas, latifúndios crescerem, trabalhadores serem escravizados e
assassinados, comunidades tradicionais serem ameaçadas e expulsas, a educação
ser sucateada, os meios de comunicação ficarem concentrados nas mãos de poucos
políticos. Até juiz já foi flagrado com trabalho escravo pelo governo federal
em sua fazenda, mas acabou sendo absolvido pelos colegas por lá.
Alguns
vão colocar a culpa na própria população que os elege. Não é tão simples –
Sarney teve que fugir e virar senador pelo Amapá para não ficar fora do jogo
político em um determinado momento. E sua filha, Roseana, já perdeu uma eleição
para o governo.
Ou
seja, há focos de resistência na forma de importantes movimentos sociais e uma
sociedade civil cada vez mais atuante. Para muita gente que vive no Maranhão, a
vida se equilibra entre um “salve-se quem puder'' e um “não tenho nada a perder''.
3) do jornalista da Folha de São
Paulo Juca Kfouri:
"Como
uma sarna que não sara. Fruto de uma família que não
saneia. Quase meio século de dominação no belo, e desgraçado, Maranhão. Os
Sarney são como uma epidemia, uma infecção.
Tem Sarney até na CBF, um tal Fernando, vice-presidente da região
norte, embora o Maranhão fique no nordeste. Roseana, a governadora, talvez seja
quem melhor personifique o estado: bela por fora, perversa por dentro, a ponto
de se indignar mais com as imagens da barbárie em sua casa do que com a própria
barbárie, de sua responsabilidade.
E tem ainda o Sarney Filho, o Zequinha, que se diz verde e não
fica vermelho. Maldito o ventre que o coronel José fecundou para trazer tanta
miséria ao povo brasileiro. Até quando, até quando, até quando?"
Nesse faroeste maranhense,
esperemos que até muito breve, caro Juca.
E não adianta o socorro ineficaz
do governo Dilma (PT-PMDB) ao governo do PMDB-PT do clã aliado no Maranhão.
Nas redes sociais, nas ruas, como
vimos a juventude do "Acorda Maranhão", na petição on
line que circula na internet (até hoje, com mais de 15 mil assinaturas), na
opinião pública nacional, o que se exige é a intervenção federal no Maranhão.
INTERVENÇÃO
BRANCA NÃO. INTERVENÇÃO DE FATO NO MARANHÃO!
(*) Franklin Douglas - jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas (UFMA),
escreve ao Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Publicado na edição de 12/01/2014, p. 12.
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