quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pedrosa quer ser terceira via na polarização para o governo, destaca O Imparcial

Pedrosa em visita ao jornal O Imparcial
Pedrosa quer ser a terceira via na polarização para o governo


Por Mariana Salgado

"O candidato a Governo do Maranhão pelo PSOL, Luis Antonio Pedrosa, realizou ontem uma visita de cortesia a O Imparcial. No encontro com dirigentes e repórteres do jornal, Pedrosa defendeu ser a terceira via, contrapondo-se a bipolaridade eleitoral entre o comunista Flávio Dino e o peemedebista Lobão Filho.

Escolhido em convenção realizada no sábado (14), quando também foi indicado Haroldo Saboia para concorrer a vaga de senador pelo partido, Pedrosa critica o modelo político posto e as estratégias de financiamento de campanha. Garantindo que não receberá recurso privado para sua candidatura, ele ainda informa que o PSOL possivelmente não coligará com PSTU e PCB, mas que firmam um acordo de não agressão durante o período eleitoral.

O IMPARCIAL - O grande eleitorado vê uma eleição plebiscitária, de um lado o Lobão Filho (PMDB) e do outro o Flávio Dino (PCdoB). Você acredita que é possível quebrar esse caráter plebiscitário?

Luis Antonio Pedrosa - Esses indicadores de pesquisa que estão disponíveis hoje trabalham com um público que está limitado, porque, quando você vê a totalidade do eleitorado maranhense, constata que a grande maioria não definiu por qualquer uma dessas duas candidaturas que estão postas há muito tempo e sofrem um desgaste. Digo que são antigas e desgastadas porque há primeiro a candidatura do grupo Sarney, que é uma candidatura tradicional, que a população já sabe que o grupo sempre tem um candidato que disputará em condições de muita força política, e há, em segundo, a candidatura do Flávio Dino, que foi posta pela última eleição para prefeito e em inúmeras viagens que tem feito pelo Maranhão, que inclusive antecedem o período eleitoral. São as candidaturas velhas que estão postas para a população e mesmo assim não conseguem empolgar a maioria do eleitorado, são as próprias estatísticas das pesquisas que informam isso. Portanto, acho que é hora de aparecer uma candidatura alternativa a esses dois discursos que estão sendo construídos, que são parecidos do ponto de vista programático.

O IMPARCIAL - Em que esses dois discursos se parecem?
Luis Antonio Pedrosa - O primeiro eixo que une esses discursos é a sustentação política do governo Dilma. Os dois integram essa coalizão que dá sustentação política ao governo Dilma, que une não só o PMDB e o PT, mas o PCdoB e outros satélites. Então, não há como dizer que os candidatos Edinho Lobão e Flávio Dino possam articular um discurso sobre as mazelas do governo do PT. E nós temos muitas críticas a esse Governo construído ao longo de 12 anos de gestão: uma delas é o completo abandono das bandeiras de esquerda como, por exemplo, ter uma gestão voltada prioritariamente para as demandas dos movimentos sociais e populares, em detrimento de uma aliança com a bancada ruralista e fundamentalista. Em segundo, é uma coalizão que prioriza o crescimento a partir do desenvolvimento das grandes obras que impactam severamente a população já excluída das políticas públicas. Eles representam essa política de desenvolvimento que prioriza a grande elite e esquece de políticas básicas como educação, saúde e segurança.

O IMPARCIAL - E o que difere a proposta do PSOL para a proposta dos outros candidatos?
Luis Antonio Pedrosa - Primeiro demarcar essa alternativa, apresentar um discurso programático à esquerda dessa coalizão, que possa unir as demandas de movimentos sociais e populares com as expectativas de bom Governo do cidadão. Hoje, o eleitor comum quer segurança, saúde e educação, mas não sabe a partir de onde pode vir esse tipo de gestão. Nós sabemos que isso só vai acontecer se houver um rompimento estratégico com o financiamento privado de campanha, porque libertará a gestão política dos interesses hegemônicos do mercado para poder atender os anseios da maioria da população. E em segundo é preciso quebrar a relação institucional do governo brasileiro com FMI que sequestra mais de 40% do dinheiro da união para pagar juros e a amortização da dívida externa.

O IMPARCIAL - Você fala sobre o rompimento com o financiamento privado de campanha. E qual a alternativa? Como o PSOL pretende viabilizar essa candidatura sem o financiamento do grande empresário?
Luis Antonio Pedrosa - Em primeiro lugar somando forças. Um conjunto de entidades da sociedade civil, hoje, já prega esse rompimento e acredita que haverá em breve uma reordenação do sistema jurídico brasileiro que vai proibir definitivamente a participação do mercado e dos grandes interesses econômicos no financiamento de campanhas.
E, em segundo lugar, tentando passar a informação para população de que é possível fazer a política fora do modelo tradicional, que está fundamentado nesse modelo de financiamento privado, que consegue financiar até duas candidaturas ao mesmo tempo.

O IMPARCIAL - Você fala de uma união forças, no entanto, não conseguiu coligar com os partidos de ultra esquerda, PSTU e PCB. O que está dificultando a construção dessa aliança?
Luis Antonio Pedrosa - Primeiro, no Maranhão estamos passando por um período em que os partido da esquerda, que estão fora da coalizão PT-PMDB estão formando lideranças. Então, o momento eleitoral é importante para que cada uma dessas siglas possa viabilizar a imagem de lideranças que vão, de alguma forma, dar unidade a essa construção política. É compressível que esses partidos disputem com um candidato próprio a governador, para dar visibilidade ao seu programa específico. Mas há uma unidade política que é incontornável. Então, haverá um consenso de tratamento de aliados entre todos esses partidos que estão fora da coalizão PT-PMDB.

O IMPARCIAL - Um dos líderes do PSTU, Marcos Silva, chegou a dizer que o PSOL é uma das dissidências do PT de Lula e Dilma. Como desconstruir isso?
Luis Antonio Pedrosa - Nós somos uma dissidência do PT, saímos do PT e para constituir um programa de esquerda socialista que hoje se contrapõe ao programa do PT. Nós temos diferenças programáticas com o PSTU que são mínimas com relação às diferenças programáticas que temos com o Governo Dilma. Uma deles é aliança que o Governo Dilma fez com os setores conservadores da sociedade que impedem que esse governo apresente um desempenho que a população necessita.

O IMPARCIAL - Na última eleição, o PSOL reuniu cerca de 1% dos votos. Hoje o partido já tem um discurso mais assimilado pelo eleitor?
Luis Antonio Pedrosa - Nas eleições passadas, nós éramos um bebê, e já estamos atravessando a fase da adolescência. Somos um partido muito novo que era desconhecido pela população. E na eleição passada a população tinha uma avaliação diferente do Governo Federal, um conjunto significativo da população já faz uma crítica contundente aos limites da política e do desempenho do Governo Federal. Então, temos uma conjuntura de insatisfação popular envolvendo as mobilizações de junho, que foi o grande estopim para o povo repensar esse modelo político.
Hoje, se fala muito em horizontalidade, nova política, exatamente porque a população se cansou e quer outro paradigma de modelo político. Acreditamos também a que a eleição plebiscitária tem muita dificuldade de empolgar amplos setores. Então, esse contexto de insatisfação pode projetar em muito o PSOL.

O IMPARCIAL - Você e o candidato que lidera as pesquisa, o Flávio Dino, são da área jurídica. O que difere vocês dois no campo ideológico e político?
Luís Pedrosa - O Flávio tem uma trajetória de movimento estudantil e de advocacia num primeiro momento de sua vida profissional. Eu também tenho. Mas permaneci na advocacia em outro modelo, um pouco diferente do que o Flávio escolheu para si no início da sua trajetória. A minha advocacia é de cunho popular, desenvolvida principalmente com entidades do movimento social, de ONGs, dando assessoria aos movimentos rurais, sem-terras, posseiros, quilombolas, indígenas, e militando nos Direitos Humanos. A advocacia do Flávio era mais voltada para a corporação na justiça do trabalho especialmente, e foi muito restrita a esse tipo de segmento.
Então, há uma diferença de formulação e de discurso entre nós. E também há uma diferença muito grande no que se refere à concepção de Governo, porque de alguma forma ele protege um paradigma de mudança que nós não concordamos, porque acreditamos que ele não rompe com os velhos métodos políticos que são aplicados no Maranhão há muito tempo."

Fonte: O Imparcial, em 18/6/2014, com edição.

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