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| Sociólogo Chico de Oliveira (USP):  “Sem luta de classe não há mudança”  | 
O  sociólogo Chico de Oliveira não é figura de ficar atordoada. É muito convicto.  Mas, outro dia foi silenciado em sua própria casa pela ex-faxineira. Ela lhe  contou que compraria um carro e ouviu dele uma racional argumentação contrária.
Para o professor emérito da USP, o estrato C da sociedade brasileira não se  dirige ao paraíso, como imagina: não houve distribuição de renda, mas um  movimento de mercado. O aumento real foi pequeno e há o crédito e o  endividamento. Já a classe A está cada dia mais rica. Logo, sua faxineira  estaria iludida pelo crédito mais fácil e prestes a se atolar em débitos:  prestação de carro com juros, impostos, seguro, combustível e, por fim, o  trânsito paulistano. 
“Mas a resposta da faxineira atordoou esse sociólogo”,  conta o próprio Chico: “Depois de ouvir todo o meu discurso, ela me perguntou:  Por que o senhor pode ter um carro e eu não? Então eu me calei”,  conta.
Passou  dias a pensar. O ideal seria ressuscitar Karl Marx e lhe fazer profundas  perguntas. Acompanhou várias pesquisas, principalmente qualitativas. E concluiu:  o capitalismo absorveu o campo onde poderia haver uma luta de classes. Pior: há  uma luta sim, na classe C, mas é totalmente horizontal. Ela admira as classes A  e B e quer chegar lá, pela renda do trabalho, como se isso fosse possível, e  disputa com seu próprio vizinho um lugar ao sol, que no caso é o consumismo.
O  cauteloso caminho do céu sem lutas, prometido por Lula, é ilusório, segundo o  sociólogo. “Não há nova classe social sem lutas. Ou: não existe almoço grátis”,  frisa o sociólogo, lembrando: “A não ser que o governo distribuísse metade do  PIB, como fazem a Holanda ou a Dinamarca”.
E  continua: “Você vê que a classe C não quer tirar dos ricos, quer subir pelo  valor central do trabalho. Não há ódio de classes. A violência não é  contra os ricos, é mais fratricida. O concorrente dela não é o Eike Batista,  Daniel Dantas, os que acumulam ou especulam o capital. É o que está lá ao lado  dele”, afirma o sociólogo, ao lembrar que Marx temia que a competição  se deslocasse dos capitais para os próprios trabalhadores. “Se a luta se  desloca, a perspectiva é de um novo sentido da falta de solidariedade, que é  oposto de uma classe social”.
Para  o sociólogo que trocou o PT pelo PSOL, Lula e Dilma Rousseff tendem a  fraturar mais votos do eleitorado C. “Não é um voto ideológico, é  individualista. Mas esse eleitor se sente parte de alguma coisa. E é  como uma pedra lançada na água ( a emitir e propagar ondas). O PSDB  realmente não tem futuro nesse novo estrato, a não  ser que mude muito suas práticas  políticas”.
Fonte:Revista Carta Capital - 04/05/2011 - p. 20-21. Enviado por Silvio Bembem

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