Em tempos de resultados de ENEM,
ENADE e exames de proficiência profissional, outdoors, publicidade em TV e
rádios vendem a imagem de cursos a torto e a direito. No caso dos cursos mais
procurados, então, tem para tudo enquanto é gosto.
Vejamos o caso do curso de
Direito. Em época de judicialização do direito à saúde, à educação e demais
direitos sociais, das políticas públicas e da ação política partidária, e da
busca da estabilidade no emprego (há variadas oportunidades de concursos
públicos na carreira de direito) todos se encantam por essa profissão.
No Maranhão, existem 23 cursos
presenciais de Direito e 01 curso à distância, autorizado a ser oferecido pela
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Os cursos presenciais são
oferecidos por duas instituições públicas: UFMA - 02, em São Luís e em
Imperatriz; e UEMA - 02, em São Luís e em Bacabal.
Outras 16 instituições privadas
oferecem 19 cursos presenciais de Direito na capital e em outros 04 municípios
do estado:
a) Em Balsas (01) - UNIBALSAS -01
curso;
b) Em Timon (01) - Faculdade
Maranhense São José dos Cocais - 01;
c) Em Caxias (03) - FACEMA - 02
cursos e Faculdade Vale do Itapecuru (FAI) - 01 curso;
d) Em Imperatriz (03) - Instituto
de Ensino Superior do Sul do Maranhão (IESMA), Faculdade de Educação Santa
Terezinha (FEST) e Faculdade de Imperatriz (FACIMP);
e) Em São Luís (11) - UNICEUMA-
03 cursos (Anil, Cohama e Renascença), Pitágoras, Instituto Florense, IMEC,
FACEM, FACAM, UNDB, Faculdade São Luís/Estácio de Sá e Faculdade Santa Teresina
(CEST) - 01 curso oferecido por cada instituição.
Com tantos cursos, à base do
"giz e cuspe", não é à toa que formemos mais advogados do que médicos
no Brasil!
Perceba, cara leitora, caro
leitor, que para cada 02 cursos em faculdades públicas, existem 08 cursos em faculdades
privadas no Maranhão.
Esse é um dos resultados da
perversa política de expansão privatista da educação superior nos últimos dez
anos no país. Afora a baixa qualidade de ensino, o ensino noturno sem
oportunidades de pesquisa e extensão, docentes mal remunerados, sem condições
de trabalho e em turmas superlotadas.
O que vale é a expansão a
qualquer curto, mesmo que sob endividamento do aluno via FIES ou dos fundos
públicos financiando as instituições privadas via PROUNI. O que, do outro lado,
leva ao sufocamento do ensino público, sem verbas, sem concursos para
professores, sem bibliotecas suficientes etc.
Não por acaso essa política de
baixa qualidade de ensino se reflete imediatamente nos baixos índices de
aprovação nos exames de ordem da OAB ou nas avaliações do Exame Nacional de
Curso (ENADE).
Daí, para se firmar, vale
propaganda para tudo enquanto é gosto, até duvidosa ou enganosa. Eis três
exemplos:
Tem "Universidade X -
primeiro lugar entre particulares e federal" - não diz que os alunos da
federal boicotaram o ENADE, por acreditarem que esse exame não avalia o curso,
em situação deplorável, mas apenas o aluno... muito menos que, na propaganda,
se apresenta como faculdade particular mas, no Ministério da Educação,
registra-se como privada sem fins
lucrativos...
Tem "Universidade Y" - nota
máxima no ENADE 2012, com 100% de aprovação na OAB": omite que foi 100% de
aprovação de apenas dois de seus alunos que se submeteram ao exame...
Tem "Universidade "Z"
- primeiro lugar na OAB ", em letras GARRAFAIS e, em letras bem pequenas, que
foi entre as particulares do Maranhão...
E assim vai se vendendo gato por
lebre.
Qual o melhor curso de Direito do
Maranhão? Nem os alunos, nem o MEC, talvez nem Deus saiba! Pela lógica dos
donos das faculdades e pelos slogans dos publicitários, tem primeiro lugar para
todos!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição de 17/11/2013, p.12)
2 comentários:
Adoro seus textos porque são sempre tão sarcásticos e com a boa doce do humor, mas que tocam na ferida e falam de coisas realmente úteis. Parabéns pelo trabalho.
Att,
Emmanuelle Feitosa
Amei as suas considerações finais. Não há melhor ou pior faculdade para aluno que se esforça no curso.
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