Por Salim Lamrani (*) - de Paris (via Opera Mundi)
Desde a Revolução
de 1959, Cuba elaborou uma política para ajudar países pobres; resultados são
espetaculares
Desde 1963, com o envio da primeira missão
médica humanitária à Argélia, Cuba se comprometeu a cuidar das populações
pobres do planeta em nome da solidariedade internacionalista. As missões
humanitárias cubanas se estendem por quatro continentes e apresentam um caráter
único. Com efeito, nenhuma outra nação do mundo, nem sequer as mais
desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária no planeta.
Desde seu lançamento, cerca de 132.000 médicos cubanos, além do pessoal
sanitário, atuaram voluntariamente em 102 países. No total, os médicos
cubanos atenderam cerca de 100 milhões de pessoas no mundo e salvaram um milhão
de vidas. Atualmente, 37.000 médicos colaboradores oferecem seus serviços em 70
nações do Terceiro Mundo.
A ajuda internacional cubana se estende a dez países da América Latina e às
regiões subdesenvolvidas do planeta. Em outubro de 1998, o furadão Mitch havia
assolado a América Central e o Caribe. Os chefes de Estado da região lançaram
um chamado à solidariedade internacional. Segundo o
PNUD, Cuba foi a primeira a responder positivamente, cancelando a
dívida da Nicarágua de 50 milhões de dólares e propondo os serviços de seu
pessoal sanitário.
Foi elaborado, então, o Programa Integral de Saúde, sendo ampliado a outros
continentes, como África e Ásia. Nas regiões onde foi aplicado, o PNUD aponta
uma melhora de todos os indicadores de saúde, particularmente uma diminuição
notável da taxa de mortalidade infantil.
A ALBA
O primeiro país que se beneficiou do capital humano foi, logicamente, a
Venezuela, graças à eleição de Hugo Chávez em 1998 e à relação especial
estabelecida com Cuba. A universalização do acesso à educação, implementada em
1998, teve resultados excepcionais. Cerca de 1,5 milhão de venezuelanos
aprenderam a ler e a escrever graças à campanha de alfabetização chamada Misión
Robinson I. Em dezembro de 2005, a Unesco decretou que o analfabetismo havia
sido erradicado da Venezuela. A Misión Robinson II foi lançada para levar a
população ao alcance do nível secundário. A isso se somam as missões Ribas e
Sucre, que permitiram que dezenas de milhares de jovens começassem estudos
universitários.
Com a aliança entre Cuba e Venezuela na área da saúde, foram salvas mais de 100 mil vidas
Em 2010, 97% das crianças venezuelanas estavam
escolarizadas. Em relação à saúde, foi criado o Sistema Nacional
Público, para garantir o acesso gratuito à atenção médica a todos os
venezuelanos. A missão Barrio Adentro I possibilitou a realização de 300
milhões de consultas nos 4.469 centros médicos criados desde 1998. Cerca de 17
milhões de pessoas puderam ser atendidas, enquanto que, em 1998, menos de 3
milhões de pessoas tinham acesso regular à saúde. Foram salvas mais de 104.000
vidas. A taxa de mortalidade infantil foi reduzida a menos de 10
por mil. Na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Venezuela passou do
posto 83 no ano 2000 (0,656) ao posto 73 em 2011 (0,735), e entrou na categoria
das nações com o
IDH mais elevado. Além disso, também segundo o PNUD, a Venezuela
ostenta o coeficiente Gini mais baixo da América Latina, e é o país da região
onde há menos desigualdade.
Luis Alberto Matos, economista e especialista em energia, salientou a
“cooperação emblemática” entre Cuba e Venezuela. “Quem pode negar a imensa
contribuição dessa nação à Venezuela em relação ao aprimoramento do setor de saúde, na agricultura, nos esportes, na cultura?”
Graças à ALBA e ao programa social lançado pelo governo de Evo Morales entre
2006 e julho de 2011, a Brigada Médica cubana presente na Bolívia cuidou de
mais de 48 milhões de pessoas e salvou 49.821 vidas. A Bolívia pôde
melhorar seus indicadores de saúde com uma diminuição da mortalidade infantil
de 58 a cada mil, em 2007, para 51 a cada mil em 2009, ou seja, uma redução de
14% em três anos. Entre 2006 e 2009, foram criados
quase 545 centros de saúde em todo o país. Quanto à educação, a Unesco declarou
que a Bolívia é um território livre de analfabetismo em 20 de dezembro de 2008,
com a alfabetização de 824.000 pessoas. Foram construídos cerca de 1.540
estabelecimentos escolares. Quanto ao Ensino Superior, foram criadas três
universidades indígenas. A pobreza extrema foi reduzida a 6%, passando de 37,8%
a 31,8%.
Na Nicarágua, o programa Yo, sí puedo permitiu que a Unesco declarasse que o
país estava livre do analfabetismo em 2009. Graças à Alba, a Nicarágua também
conseguiu resolver sua grave crise energética, que às vezes provocava apagões
de 16 horas diárias. Foram construídos vários hospitais equipados integralmente
em todo o país, com acesso gratuito à atenção médica para toda a população.
Eles operam, em grande parte, graças à presença do pessoal médico cubano.
(*) Doutor em Estudos
Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim
Lamrani é professor titular da Universidade de la Reunión e jornalista,
especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é
intitulado The economic war against Cuba. A historical and legal perspective on
the U.S. Blockade (A guerra econômica contra Cuba. Uma perspectiva histórica e
legal sobre o bloqueio norte-americano), Nova York, Monthly Review Press, 2013,
com um prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
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