domingo, 2 de junho de 2013

O NOSSO 1º DE MAIO



Franklin Douglas (*) 

O 1º de Maio como  Dia Internacional do Trabalhador originou-se das lutas da classe trabalhadora, não foi dádiva de um governo ou benevolência da classe patronal em conceder um feriado a seus empregados. Nasceu e se consolidou pela capacidade de mobilização e organização dos que não tinham nem vez, nem voz.
Essa data foi transformada em símbolo da luta dos trabalhadores a partir de diversos momentos, o primeiro deles em 1886, nos Estados Unidos. Foi na cidade de Chicago, a partir do início de uma greve geral nos Estados Unidos pela redução da jornada de trabalho para oito horas. A greve gerou diversos protestos de rua, um deles, com a presença de milhares de trabalhadores, recebeu dura reação da polícia, acirrando um conflito que terminou na morte de sete policiais, 12 manifestantes e dezenas de feridos. Foi um acontecimento que passou à história com a Revolta de Haymarket.
Em 1890 o Congresso norte-americano aprovou a redução da jornada de trabalho de 16 para oito horas diárias, mas, no principal país capitalismo do mundo, até hoje não se reconhece o 1º de Maio como feriado nacional, ao contrário do que acontece em diversos países do mundo.
Isto porque essa data foi instituída pela Internacional Socialista, em 1889, como o dia em que os trabalhadores do mundo todo realizariam manifestações pela redução da jornada de trabalho e condições laborais. A Internacional tratava-se da primeira articulação de partidos organizados pelos proletários para defender seus interesses, sob forte influência dos princípios estabelecidos no Manifesto Comunista (1848), elaborado por Karl Marx e Fredrich Engels.
No 1º de Maio de 1891, uma manifestação de trabalhadores na França também foi dispersada pela polícia, resultando na morte de dez manifestantes. Somente em 1919 o Senado francês ratificaria a jornada de oito horas e o dia 1º de Maio como feriado nacional.
Em 1920, a Rússia estabelece esse dia como feriado nacional e é seguida por vários outros países, especialmente aqueles sob a área de influência do regime soviético socialista. O Brasil institucionalizou seu 1º de Maio como feriado em 1924, no governo Artur Bernardes e este dia passou a ser a data na qual Getúlio Vargas anunciava sua medidas em benefício do trabalhador.
Como se constata na História, o 1º de Maio é resultado de uma classe colocada em movimento, que reivindicou o direito de fala, de fazer política, como bem analisa Francisco de Oliveira: uma classe se faz classe em ato, pelo projeto antagônico que ela carrega. Não haveria Dia do Trabalhador se não houvesse uma classe disposta a entrar na cena política, a ser considerada na arena pública. Assim como a jornada de trabalho não seria reduzida se as atividades do 1º de Maio em seu início fossem reduzidas a grandes showmícios e sorteios de prêmios, financiados por governos ou empresários.
Percebe, então, cara leitora, caro leitor, como, 127 anos depois, a maioria das centrais sindicais brasileiras de hoje despolitizaram o 1º de maio? Acaso reduzir a jornada de trabalho, por exemplo, não é uma bandeira atual da classe-que-vive-do-trabalho, como denomina Ricardo Antunes, sobretudo nesses tempos de alto desenvolvimento tecnológico?

Neste 1º de Maio passado, circulou nas redes sociais um cartum, um desenho  bem simples, que ilustrava um diálogo entre dois personagens, sendo um o gerente de empresa e o outro o dono da indústria, referindo-se a um operário que se afastava. Trocavam o seguinte diálogo:
Gerente - O que disse a este homem?
Dono da indústria - Que trabalhasse mais depressa.
Gerente - Quanto lhe paga?
Dono da indústria - 20 reais por dia.
Gerente - Aonde vai buscar o dinheiro para lhe pagar?
Dono da indústria - Vendo a mercadoria.
Gerente - E quem faz a mercadoria?
Dono da indústria - Ele!
Gerente - E quanta mercadoria faz ele por dia?
Dono da indústria - Num valor de 240 reais.
Gerente - Então não é você que lhe paga, mas é ele que lhe paga 220 reais por dia para que lhe diga que trabalhe mais!
Dono da indústria - Hum! Mas eu sou o proprietário das máquinas!
Gerente - E como conseguiu essas máquinas?
Dono da indústria - Vendi a mercadoria e comprei as máquinas.
Gerente - E que fez a mercadoria?
Então o dono da indústria tapa a boca do gerente e, apontando aos operários, diz:
Dono da indústria - CUIDADO! Eles podem ouvir.

Percebe então, a quem interessa  transformar só em festa, corridas rústicas e showmícios o Dia Internacional do Trabalhador, caros leitores?

Feliz 1º de Maio aos que vivem do trabalho!

(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 07/05/2013, p. 14)

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