Franklin Douglas (*)
A violência do aparelho estatal ao protesto contra o aumento das
passagens, em São Paulo, recoloca a questão: o transporte público é caso de
polícia ou caso de política?
A truculência da polícia do Governo Estadual - Geraldo Alckmin (PSDB), a
reação absolutamente desorientada do prefeito petista Fernando Hadad ("os
manifestante feriram um policial..."!) e o apoio do ministro da Justiça,
Eduardo Cardoso (PT), oferecendo as forças nacionais de segurança para garantir
a ordem (!!), faz-nos crer que retroagimos à primeira década do século 20 no
Brasil.
Em 1910, as reivindicações da classe trabalhadora por melhores
condições de vida eram tratadas como caso de polícia: repressão, violência,
ilegalidade de greves e manifestações. Mas foi graças aos primeiros protestos e
ao movimento da classe operária que, a partir dos anos 1930, uma série de
políticas de proteção ao trabalho foram implementadas: salário mínimo, direito
à aposentadoria, férias, carteira de trabalho, CLT, etc.
Após o Plano de Metas de Kubitscheck (1956-1961, "50 anos em
5") e o período do "Milagre econômico"(1969-1973) da Ditadura
Militar, nos anos 1980 (década de 80, a década perdida), recrudesceu a situação
social dos trabalhadores: ao invés de repressão policial às manifestações
contra a carestia, o arrocho salarial, a falta de saúde, etc, os
"movimentos sociais" exigiam que a questão social brasileira fosse
tratada como caso de política, e não de polícia. Lutavam por políticas de
proteção social como Sistema Único de Saúde (SUS), educação de qualidade,
Previdência Social, transporte público... A Constituinte de 1988 foi o grande
desaguadouro dessas bandeiras, via emendas populares.
É dessa época o período de maior organização do Movimento Popular de
Transportes, por exemplo. O PT em muito contribuiu para essa concepção da
questão social como caso de política e não de polícia... mas, no tempo
presente, um transformismo, nos termos de Antonio Gramsci, toma conta do partido: tal como Maluf
antes, trata a legítima insubordinação popular ao aumento das passagens na base
do "vandalismo": protestar, não pode mais! Eis o uníssono discurso de
tucanos e petistas.
Mas como calar diante do aumento de passagens frente a um transporte
público ineficiente, dispendioso do tempo do usuário, com os engarrafamentos
gigantescos, as latas velhas que são os ônibus?
Como nada dizer frente a um aumento de passagem que, ao consumidor,
implica em significativa baixa em seu orçamento familiar?
Como aceitar um aumento quando o setor empresarial acaba de ganhar o
seu "bolsa CONFINS/PIS"? Medida Provisória 617 do Governo Federal que
zera o pagamento desses dois impostos devidos pelos donos de ônibus?
Como engolir um aumento de tarifas quando, por conta do "bolsa
CONFINS/PIS", as prefeituras de Manaus (AM), Londrina (PR), Vitória (ES) e
outras de 17 cidades paulistas estão diminuindo em R$ 0,10 (dez centavos) o
valor das passagens?
A resposta a todas essas indagações é "porrada na moçada"...
em jornalistas... em populares.
Em São Luís, além do "bolsa CONFINS/PIS", os donos de
empresas de ônibus receberam da administração municipal a redução de 5% para 1%
no pagamento de ISS (imposto municipal sobre serviços)... um repasse
indenizatório de 6,60% do custo total do sistema, para que as empresas
concedessem reajuste salarial aos rodoviários... E no que falam os empresários?
Em reajustar as tarifas! A ganância desses donos de ônibus não tem limites!!
Após abandonar sua promessa de GPS nos ônibus, Bilhete Único, corredor
de transportes e entregar a Secretaria Municipal dos Transportes ao setor
empresarial, o prefeito Edivaldo Holanda Júnior sequer cogita em diminuir, em
pelo menos R$ 0,10 (dez centavos), as passagens de São Luís, tal como estão
fazendo outros prefeitos Brasil afora...
Ante essa reivindicação popular que começa a tomar conta das redes
sociais e movimentos estudantis e populares em São Luís, qual será a resposta
do prefeito? Transportes como caso de polícia ou caso de política? O povo não
aguenta mais tanta porrada!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 16/06/2013, p. 16)
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