1848 (Comuna de Paris)... 1968 (Maio de 68) ... 1989 (Queda do Muro de Berlim)... 2013: que virá? Ilustração capturada em The Economist, dica de Wagner Cabral |
Franklin Douglas (*)
Um fantasma ronda o Brasil, o
espectro da reinvenção da política. Contra ela, praticamente todas as forças
unem-se: conservadores, partidos da velha política, juristas do direito
positivo, parlamentares acomodados às benesses da governabilidade conservadora,
propiciada pela democracia representativa... esta, definitivamente em crise.
"É a política, idiota!"
A brasileira, a da Europa, a
árabe, a de Wall Street... a democracia burguesa como um
todo, que se limita à máxima "um indivíduo, um voto", o resto é com
aqueles que foram eleitos. Mas aqueles que foram eleitos só voltam às ruas de
quatro em quatro anos, e mal frequentam as redes. Eis o novo: as redes foram às
ruas, e as mobilizações das ruas invadiram as redes.
O Ocupy
Wall Street estadunidense, os Indignados espanhóis, a Primavera
Árabe, as juventudes da Grécia, do
Egito, da Tunísia e o Junho de 2013 brasileiro são movimentações típicas às
transformações contemporâneas do capitalismo, apesar de não parecer.
Sob a hegemonia do capital
financeiro, o capitalismo revolucionou-se novamente, implicando formas
diferenciadas de produção (do fordismo-taylorismo,
dos anos 1930/40, e do toyotismo,
anos 1970, à acumulação flexível dos anos atuais). Novas formas de produção na
economia capitalista que trouxeram novas formas de comunicação nas relações
sociais: da imprensa escrita ao rádio, do rádio ao cinema e televisão, da
televisão à internet e suas novas redes sociais. Da comunicação de um para um,
no pré-capitalismo, passando pela comunicação de um para muitos, no capitalismo
industrial, chegamos à comunicação de muitos para muitos, no capitalismo atual.
É sob esse contexto que emergem
essas revoltas da juventude mundo afora e Brasil adentro.
Com paralelos, como a linguagem
própria, setor social menos amarrado à lógica produtiva (às vezes, totalmente
desconectado dela), mas também diferenças: a juventude europeia, super
qualificada, alfabetizada digitalmente, poliglota, profissionalmente capacitada
e... sem emprego; a juventude árabe, sem liberdade social, política e
econômica; a juventude brasileira, sob conquistas que não foram suas e que já
as considera como mínimas: o direito ao voto, a estabilidade econômica, a rede
de proteção social: ela não enfrentou a ditadura, não viu a inflação e já nasceu sob
a ação social do lulismo, mas também sob o signo do PT dos anos 2000: mensalão,
corrupção, governabilidade conservadora, alianças PT-Sarney, PT-Maluf...
Não por acaso, o grito que emerge
nas manifestações do Maranhão - "Não é a Turquia, não é a Grécia, é o Maranhão
saindo da inércia!" - evidencia bem o sentimento do
que ocorre: a "massa" se autoconvoca, coloca-se em movimento, por uma
pauta cuja refração aos partidos aparece como conservadora, mas traz consigo
bandeiras altamente progressistas, como o combate à corrupção, o não à PEC-37
que limitava o poder de investigação do Ministério Público, os 10% do PIB para
a educação, o Fora Sarney, o fim da impunidade, a falta de saúde, o passe livre
estudantil, dentre outros pontos. Tudo sob a máxima do não ao aumento das passagens, mais mobilidade urbana. Muito mais
que 20 centavos!
Como na Ditadura Militar, onde a
juventude foi a ponta de lança da resistência ao regime dos generais, ante o
aniquilamento de sindicatos e organizações populares, no Junho de 2013, a
juventude tornou-se a voz do grito sufocado pelo lulo-PMDB-petismo, que
submeteu Congresso e movimentos sociais a uma pauta eminentemente pragmática...
e o que, em 10 anos, parecia tão sólido, desmanchou-se, como um castelo de
areia frente às ondas do mar. A dúvida é saber se estamos diante de uma onda ou
um verdadeiro tsunami.
Mas, sem dúvida, as manifestações
de 2013 parecem materializar a poesia de Cecília Meireles, "a vida só é possível reinventada"! E muito mais ainda a
política que aí está. Eis o recado das redes e das ruas!!
Internautas radicais da
reinvenção da política do mundo, uni-vos!
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 30/06/2013, p. 16) e na edição de Junho do Jornal da APRUMA (Associação dos Professores da UFMA).
Um comentário:
Muito bom Franklin! Parabéns!!!
A revolução será tuitada!!!
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