domingo, 30 de junho de 2013

TUDO O QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR



1848 (Comuna de Paris)... 1968 (Maio de 68) ...
1989 (Queda do Muro de Berlim)... 2013:  que virá?

Ilustração capturada em The Economist, dica de Wagner Cabral

Franklin Douglas (*) 

Um fantasma ronda o Brasil, o espectro da reinvenção da política. Contra ela, praticamente todas as forças unem-se: conservadores, partidos da velha política, juristas do direito positivo, parlamentares acomodados às benesses da governabilidade conservadora, propiciada pela democracia representativa... esta, definitivamente em crise.
"É a política, idiota!"
A brasileira, a da Europa, a árabe, a de Wall Street... a democracia burguesa como um todo, que se limita à máxima "um indivíduo, um voto", o resto é com aqueles que foram eleitos. Mas aqueles que foram eleitos só voltam às ruas de quatro em quatro anos, e mal frequentam as redes. Eis o novo: as redes foram às ruas, e as mobilizações das ruas invadiram as redes.
O Ocupy Wall Street estadunidense, os Indignados espanhóis, a Primavera Árabe, as juventudes da Grécia, do Egito, da Tunísia e o Junho de 2013 brasileiro são movimentações típicas às transformações contemporâneas do capitalismo, apesar de não parecer.
Sob a hegemonia do capital financeiro, o capitalismo revolucionou-se novamente, implicando formas diferenciadas de produção (do fordismo-taylorismo, dos anos 1930/40, e do toyotismo, anos 1970, à acumulação flexível dos anos atuais). Novas formas de produção na economia capitalista que trouxeram novas formas de comunicação nas relações sociais: da imprensa escrita ao rádio, do rádio ao cinema e televisão, da televisão à internet e suas novas redes sociais. Da comunicação de um para um, no pré-capitalismo, passando pela comunicação de um para muitos, no capitalismo industrial, chegamos à comunicação de muitos para muitos, no capitalismo atual.
É sob esse contexto que emergem essas revoltas da juventude mundo afora e Brasil adentro.
Com paralelos, como a linguagem própria, setor social menos amarrado à lógica produtiva (às vezes, totalmente desconectado dela), mas também diferenças: a juventude europeia, super qualificada, alfabetizada digitalmente, poliglota, profissionalmente capacitada e... sem emprego; a juventude árabe, sem liberdade social, política e econômica; a juventude brasileira, sob conquistas que não foram suas e que já as considera como mínimas: o direito ao voto, a estabilidade econômica, a rede de proteção social: ela não enfrentou a ditadura, não viu a inflação e já nasceu sob a ação social do lulismo, mas também sob o signo do PT dos anos 2000: mensalão, corrupção, governabilidade conservadora, alianças PT-Sarney, PT-Maluf...
Não por acaso, o grito que emerge nas manifestações do Maranhão - "Não é a Turquia, não é a Grécia, é o Maranhão saindo da inércia!" - evidencia bem o sentimento do que ocorre: a "massa" se autoconvoca, coloca-se em movimento, por uma pauta cuja refração aos partidos aparece como conservadora, mas traz consigo bandeiras altamente progressistas, como o combate à corrupção, o não à PEC-37 que limitava o poder de investigação do Ministério Público, os 10% do PIB para a educação, o Fora Sarney, o fim da impunidade, a falta de saúde, o passe livre estudantil, dentre outros pontos. Tudo sob a máxima do não ao aumento das passagens, mais mobilidade urbana. Muito mais que 20 centavos!
Como na Ditadura Militar, onde a juventude foi a ponta de lança da resistência ao regime dos generais, ante o aniquilamento de sindicatos e organizações populares, no Junho de 2013, a juventude tornou-se a voz do grito sufocado pelo lulo-PMDB-petismo, que submeteu Congresso e movimentos sociais a uma pauta eminentemente pragmática... e o que, em 10 anos, parecia tão sólido, desmanchou-se, como um castelo de areia frente às ondas do mar. A dúvida é saber se estamos diante de uma onda ou um verdadeiro tsunami.
Mas, sem dúvida, as manifestações de 2013 parecem materializar a poesia de Cecília Meireles, "a vida só é possível reinventada"! E muito mais ainda a política que aí está. Eis o recado das redes e das ruas!!

Internautas radicais da reinvenção da política do mundo, uni-vos!

(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente. Artigo publicado no Jornal Pequeno  (edição 30/06/2013, p. 16) e na edição de Junho do Jornal da APRUMA (Associação dos Professores da UFMA).

Um comentário:

Bruno Rogens disse...

Muito bom Franklin! Parabéns!!!
A revolução será tuitada!!!