segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fórum Social Mundial: de volta a Porto Alegre

Há 10 anos surgia o Fórum Social Mundial (FSM). Sua primeira edição, em Porto Alegre, foi um surpreendente sucesso de público. Atraiu mais de 30 mil pessoas.

O FSM aconteceria ainda em 2001 e em 2002 na capital gaúcha. Em 2003, ocorreu simultâneo em todos os cinco continentes, descentralizadamente. Em 2004, deslocou-se para a Índia. No ano seguinte, novamente descentralizado em atividades pela paz. Em 2006, aconteceu na Venezuela. Em 2007, por todos os continentes. Em 2008, na África. No ano de 2009, retornou ao Brasil para a cidade de Belém (Pará).

Após 10 anos de encontros, o FSM viu suas ideias legitimarem a plataforma política de muitos governantes que chegaram ao poder na América Latina especialmente. Viu as teses neoliberais ruírem com a derrocada financeira que acometeu o capitalismo no ano passado.

Mais do que nunca a utopia de que um outro mundo é possível prevalece motivando os movimentos sociais mundiais. De 25 a 29 de janeiro de 2010, em seu retorno ao Rio Grande do Sul, um balanço de 10 anos de atuação. Vida longo ao Fórum Social!

Abaixo, artigo de Oded Grajew, sobre os 10 anos do FSM:

Fórum Social Mundial, 10 anos
ODED GRAJEW - Folha de São Paulo (29nov2009)

NO ANO 2000, o neoliberalismo estava no seu auge. Dizia-se até que havíamos chegado ao fim da história. Teríamos encontrado o modelo ideal de sociedade, em que as forças do mercado, liberadas de qualquer controle governamental ou social, levariam o mundo à prosperidade, ao bem-estar e à paz. O Fórum Econômico Mundial, o grande propulsor dessa ideologia, acolhia o ex-presidente argentino Carlos Menem com todas as honras e elegia suas políticas como exemplares a serem seguidas por todos os países em desenvolvimento. Os críticos do modelo eram tratados como retrógrados que só sabem criticar, sem apresentar propostas alternativas.

Foi nesse ambiente que tive a ideia de criar o Fórum Social Mundial (FSM) para, em contrapartida ao Fórum Econômico Mundial, denunciar os enormes riscos que o neoliberalismo representava para a humanidade, dar visibilidade a propostas alternativas e criar um espaço auto-organizado em que a sociedade civil, em nível local e global, pudesse se encontrar, promover atividades e se articular, ganhando força política e social para empreender suas ações.

Graças ao empenho de um grupo de militantes e organizações brasileiras e internacionais e com o apoio dos governos de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, viabilizou-se na capital gaúcha, em janeiro de 2001, o primeiro encontro mundial.

De lá para cá, muita coisa aconteceu. As sucessivas crises econômicas, a proliferação de guerras e conflitos, o aumento da concentração de renda e da desigualdade social e a degradação ambiental fizeram ruir a crença na ideologia neoliberal. O lema adotado no FSM, "um outro mundo é possível", encheu de esperança milhões de pessoas que, movidas pelo desejo de mudança, conseguiram alterar o quadro político de muitos países, a começar pela América Latina e, recentemente, nos EUA.

A metodologia adotada no FSM propiciou a todas as organizações e pessoas que comungam com a carta de princípios a oportunidade de organizar livremente suas atividades e poder se juntar aos que se dispõem a declarações e ações conjuntas. A promoção da diversidade, um dos pilares da carta de princípios, fez cada organização e cada cidadão se sentir valorizado. Ninguém é mais importante que o outro, nenhum tema tem a precedência. O "outro mundo possível", onde a solidariedade e a cooperação superam a competição e o conflito, foi aplicado na nossa metodologia.

Foi assim que o FSM ganhou o mundo. Fóruns globais e inúmeros fóruns locais, nacionais, continentais e temáticos se espalharam em todos os continentes. Organizações sociais aproveitaram o espaço aberto e a metodologia para formar parcerias e criar redes, o que viabilizou inúmeras iniciativas políticas, sociais e ambientais. Os encontros, os fóruns, se tornaram momentos dentro de um amplo processo, o processo FSM, que se desdobra ao longo dos dias anteriores e posteriores aos eventos.

Para celebrar os dez anos do FSM, um grupo de organizações que participaram desde o início teve a ideia de realizar, em janeiro de 2010, um grande encontro para uma reflexão sobre essa última década, mas, principalmente, para elaborar propostas para o futuro do processo. Nada seria mais simbólico do que voltar ao berço do primeiro fórum: Porto Alegre. Das conversas com as organizações sociais locais, que foram fundamentais na realização dos primeiros fóruns, nasceu a ideia de envolver as cidades da Grande Porto Alegre na realização do evento.

Foi assim que nasceu o Fórum Social 10 Anos, a ser realizado de 25 a 29 de janeiro de 2010 nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Campo Bom, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul. Além das atividades auto-organizadas que serão realizadas nessas cidades, haverá um grande seminário internacional que juntará lideranças sociais e políticas numa reflexão sobre o processo FSM.

Em 2000, o nosso desafio era desmistificar e denunciar o modelo neoliberal, mostrando que "um outro mundo é possível". Em 2010, diante das reais e graves ameaças representadas pelo nosso modelo de produção e consumo, pela imperiosa necessidade de implementarmos um desenvolvimento justo e sustentável, "um outro mundo possível" se torna cada vez mais "necessário e urgente". Esse é o desafio que está sendo colocado para nós e para todos os que estarão na Grande Porto Alegre durante o Fórum Social 10 Anos.

(*) ODED GRAJEW, 65, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo. É também membro do Conselho Deliberativo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).

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