POESIA DE QUINTA - Número 15 (Angola)
Por Deila Maia
Hoje vou presenteá-los com lindas poesias de Angola. Depois me digam qual vocês gostaram mais. Adoro estes retornos que vocês me dão.
CARLA QUEIROZ nasceu em Kwanza-Sul (província de Angola),em 1968. Publicou a obra "Os botões pequenos sonham com o mel" (que nome lindo para uma obra poética, não?), de onde foi extraída esta poesia, publicada em 2001.
Como a obra é anterior à reforma ortográfica, e o português de Angola tem forte influência do português de Portugal, é possível ainda verificar palavrinhas como "projecto", "insecto"... Eu acho uma delícia. Vejam que linda!!!!
DECLARAÇÃO
Carla Queiroz
Nasci
No ventre desencantado da serpente
No leito guarnecido das sementes
Cresci
Nos trapos sujos do desespero da rocha
Encaracolada e desfeita pelo projecto
do cão
Multipliquei-me
Na corrente do desequilíbrio cívico dos
sinistrados
Como uma espécie de insecto que
pernoita no zumbido.
Da argola e do conto
Morri sem uma bela insígnia
distinguindo minhas intimidades
Sem uma coroa bonita ao redor do meu sonho
A outra poesia é de ONDJAKI, que é o pseudônimo de NDALU DE ALMEIDA (qual é mais diferente: o nome ou o pseudônimo?), um poeta nascido em Luanda, capital da Angola, em 1977 (jovem!!!). Esta poesia está na obra "Actu Sanguíneu", publicada em 2000. Acho de uma sensibilidade... Ele se sente uma libélula. E eu, uma borboleta amarela...
PARA POR PAZ
Ondjaki
libélulas avoam danças
aranhas cospem tranças;
morcegos ralham noites
ursos linguam potes;
rapozas agalinham-se
ondas engolfinham-se;
carochinha avoa voa
preguiça dorme à toa;
toupeiras entunam-se
grilos estrelam-se;
noites adescaem
estrelas agrilam-se
eu libelulizo-me.
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