Na Folha de São Paulo deste domingo (04/01) - na internet só para assinantes-, a articulista Eliane Cantanhede costura em seu texto as contradições do Maranhão: Estado das exportações milionárias de minérios, mas também do trabalho escravo e da justiça não tão cega... Só faltou à jornalista concluir que este Estado de contradições é resultado de um longo processo histórico sem qualquer alternância no poder de mando dos Sarneys. Mas ai o texto não ficaria tão delicioso ao gosto do Sarney... ainda assim, vale a pena ler. Confira:
Eliane Cantanhêde
O MARANHÃO É O BRASIL
Brasília - Nada poderia espelhar melhor a desigualdade brasileira do que o Maranhão que emergiu de três páginas diferentes da Folha na última sexta-feira.
Na pág. A2, no texto "A crise na janela", delicioso como sempre, José Sarney não fica a ver navios e sim "um solitário barco envolto na bruma de sal". É a crise a olho nu, mas Sarney trata de enaltecer São Luís como o segundo porto do Brasil, exportando 110 milhões de toneladas de minério de ferro e alumínio, além de soja, milho, babaçu.
O Maranhão também tem "a maior fábrica de alumínio do mundo, da Alcoa" e a "melhor infraestrutura do Nordeste", com estradas de ferro e "comboios imensos, milhares de operários, lavra, energia e estradas". Fantástico.
Mas esse é um Maranhão. Há outros. Você vira a página e, na A4, as notas "Fichados 1" e "Fichados 2", do Painel, informam que o Estado contribui para a nova "lista suja" de trabalho escravo com um juiz, Marcelo Baldochi, e o ex-prefeito de Santa Luzia Antonio Braide, pai de um ex-assessor do ministro maranhense Edison Lobão.
Virando mais uma página, chegamos à A6 e à reportagem sobre maranhenses que, no primeiro dia do ano, incendiaram a prefeitura, o fórum e o cartório da mesma Santa Luzia, a 300 km de São Luís e do segundo porto brasileiro. Motivo: quem ganhou a eleição para prefeito não levou. A Justiça não deixou.
Na véspera, com os salários atrasados e sem Natal, prestadores de serviço tinham invadido a casa do prefeito Zilmar Melo e a empresa de informática da família, em Tutoia (457 km da capital e do porto maravilhoso). Quebraram até os carros. O que restou, levaram.
E o Maranhão de um ex-presidente recente (1985-1990) e "da maior fábrica de alumínio do mundo" não é só lembrado por trabalho escravo e pela fúria de cidadãos, mas pelos piores desempenhos em português e em matemática. E no IDH, claro. O Maranhão é o Brasil. Ou melhor, o Brasil é o Maranhão.
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