Nesta edição de número 16, Deila Maia traz aos leitores do Ecos a poesia de mais três belas mulheres. Abaixo.
Projeto Poesia de Quinta - número 16
Por Deila Maia
Para a Poesia de Quinta de hoje, escolhi um livro que eu gosto muito, que se chama "Poemas de três mulheres apaixonadas", que contem poesias de Gaspara Stampa, Louise Labé e Elizabeth Barrett Browning.
É um livro que reúne poemas de três mulheres bem diferentes, que viveram em épocas e locais distintos, com histórias de vida também diversas, mas que tem em comum entre si o condão de escrever esplendidamente sobre o amor. E as três também escolheram a forma clássica do soneto para expor suas diferentes formas de amar. É um livro e tanto. Recomendo!!!
Gaspara Stampa (1524-54) era italiana, de Pádua, e se apaixonou aos 24 anos por um nobre que não lhe correspondeu os sentimentos. Seus versos sempre falam das agruras de um amor infeliz.
Já Louise Labé (1526-66) era uma mulher muito bela, sensível e culta, que participava ativamente dos melhores saraus literários de Lyon. Seus poemas combinam amores imaginários e também reais. A tradução dos versos não é minha. É a que consta no livro. Vou colocar as duas versões, para quem entende o francês. O poema em questão não tem título. Aliás, nenhum dos sonetos do livro tem título.
Por fim, Elizabeth Barrett Browning (1806-61), foi uma poeta inglesa, bastante reconhecida em seu tempo e que viveu reclusa como inválida até perto dos 40 anos, quando conheceu o seu grande amor Robert Browning, também poeta, e que se tornou seu marido. Suas poesias refletem a calma e a alegria de um amor correspondido.
As três autoras tem poesias lindas, deslumbrantes, que combinam a beleza do conteúdo com o elegante rigor da forma clássica. Extremamente bem feitas as poesias. Um primor!!!
O inconsciente é realmente engraçado!!! Como dizia Warat "citar é citar-se". Os tipos de poesias ou textos que escolhemos, em geral, "batem" forte e em plena sintonia com o momento que estamos vivendo.
Espero que apreciem sem moderação!!!
LOUISE LABÉ
Belos olhos que fingem não me ver O beux yeux bruns, ô regards détournés
Mornos suspiros, lágrimas jorradas O chauds soupirs, ô larmes répandues
Tantas noites em vão desperdiçadas O noires nuits vainement attendues
Tantos dias que em vão vi renascer O jours luisants vainement retournés.
Queixas febris, vontades obstinadas O tristes plaints, ô désirs obstinés
Tempo perdido, penas sem dizer, O temps perdu, ô peines dépendues
Mil mortes me aguardando em mil ciladas O mille morts en mille rets tendues
Que o destino me armou por me perder. O pires maux contre mois destinés.
Risos, fronte, cabelos, mãos e dedos O ris, ô front, cheveux, bras, mains e doigts:
Viola, alaúde, voz que diz segredos O lut plaintif, viole, archet e voix:
À fêmea em cujo peito a chama nasce Tant de flambeaux por ardre une femelle!
E quanto mais me queima, mais lamento De toi me plains, que tant de feux pourtant
Que desse fogo que arde tão violento En tant d´endroits d´iceux mon coeur tâtant
Nem uma só fagulha te alcançasse. N´en est sur toi volé quelque étincelle.
GASPARA STAMPA
Mesmo todas as línguas, todo o engenho Vengo quante fûr mai lingue ed ingegni
Em prosa e verso, estilos imortais Quanti fûr stili in prosa, e quanti in versi
De espíritos dos tempos ancestrais e quanti in tempi e paesi diversi
Credores do respeito que lhes tenho spir´ti di riverenza e d´onor degni;
Bem descrever não poderão mais Non fia mai che descrivan l´ire e´sdegni,
Os males da paixão com que me avenho Le noie e danni, che ´n amor soffersi,
E que do amor têm demonstrado empenho Perché nel vero tanti e tali fêrsi,
Em ofuscar os mais gentis sinais Che passan tutti gli amorosi segni.
Tampouco poderão sequer, coitados, E non fia anche alcun, che possa dire,
Fazer saber do gozo, do esplendor Anzi adombrar la schiera de´diletti
Que por mercê de Deus me foram dados Ch´Amor, la sua mercé, mi fa sentire.
Se a ventura de amar vos deu favor Voi, ch´ad amar per grazia sète eletti,
Não vos queixeis, pois bem-aventurados No vi dolete dunque di patire;
Hão de ser sempre os mártires do amor. Perché i martir d´Amor son benedetti.
ELIZABETH BARRET BROWNING
Como te amo? Deixa que eu te conte: How do I love thee? Let me count the ways.
Amo-te quanto em largo, alto e profundo I love thee to the depth and breath and height
Minh´alma alcança, se fugindo ao mundo My soul can reach, when feeling out of sight
Busca a origem do Ser, da Graça a fonte. For the ends of Being and ideal Grace.
De dia, ou quando o sol cai no horizonte. I love thee to the level of everyday´s
Amo do mesmo amor cada segundo: Most quiet need, by sun and candlelight
O puro amor modesto em que me inundo I love thee freely, as men strive for Right;
O amor liberto de quem ergue a fronte. I love thee purely, as they turn from Praise.
Eu te amo com a paixão que conhecera I love thee with the passion put to use
Nas velhas dores, e com fé tão forte In my old griefs, and with my childhood´s faith.
Como a da infância; o amor que se perdera I love thee with a love I seemed to lose
Com as minhas crenças; te amo no transporte With my lost saints,- I love thee with the hearth
Do pranto e riso, e apenas Deus quisera, Smiles, tears, of all my life! - and, if God choose,
Mais te amarei ainda após a morte. I shall but love thee better after death.
Qual vocês gostaram mais?
Beijos apaixonados!!
Deila
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