Franklin Douglas (*)
A comunidade universitária da
UFMA está estarrecida com um fato: um estudante precisou recorrer a uma greve
de fome para reivindicar uma reunião com o reitor Natalino Salgado. Isso mesmo,
acorrentando-se ao que seria as instalações da Casa do Estudante dentro do
campus do Bacanga, desde o dia 26/11 (terça-feira passada), Josemiro Oliveira
reivindica, não para si, mas para os estudantes, de hoje e das gerações
futuras, uma única coisa: que seja
entregue a Casa do Estudante aos estudantes dos municípios do estado que se
deslocam para São Luís a fim de cursarem suas graduações. Já pronta, faltando
poucos acabamentos, ela está sendo transformada em prédio administrativo de uma
Pró-Reitoria.
Para melhor entender, cara
leitora, caro leitor. Há anos, a Universidade mantém uma política estudantil de
apoio aos estudantes que vêm para capital fazer seus cursos, após aprovados no
vestibular/ENEM. No tocante à moradia, a UFMA apoia as residências
universitárias: duas masculinas, REUFMA (Residência Universitária da UFMA) e
CEUMA (Casa do Estudante Universitário do Maranhão), e uma feminina (LURAGB -
Lar Universitário Rosa Amélia Gomes Bogéa). Além de disponibilizar alimentação,
via Restaurante Universitário (R.U), e bolsas de pesquisa/extensão a esses
estudantes.
De tempos em tempos, os moradores
dessas residências universitárias, chamam a atenção da Administração da
Universidade para a calamidade delas: corte de água, luz, vazamento, goteiras,
falta de segurança etc.
Em 13 de julho de 2007, após uma
ocupação da reitoria, houve uma audiência de conciliação, firmando na Justiça
Federal um acordo pelo qual a UFMA comprometia-se a entregar a residência
universitária, no campus do Bacanga, que já estava em fase de conclusão.
Em 07 de maio de 2013, após nova
ocupação da reitoria, em outra reunião, com a presença da OAB, Defensoria
Pública da União, estudantes e reitoria, firmou-se o compromisso de agendamento
de um momento para tratar especificamente da entrega da Casa do Estudante. O que
até hoje não ocorreu.
Abruptamente, toma-se
conhecimento que o que seria a Casa do Estudante, será entregue, mas como sede
administrativa da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, um verdadeiro desvio de
finalidades dos recursos federais recebidos para tal obra, denunciam os
estudantes.
Hoje apenas 89 universitários são
assistidos pela moradia estudantil.
A residência universitária, uma
vez entregue, teria capacidade para receber 150 estudantes como Josemiro Oliveira:
nascido em São José dos Basílios, filho de camponeses, que cursou seu estudos em
escola pública e, pelo seu esforço e mérito próprios, alcançou a aprovação no
ENEM e se desloca a São Luís para fazer seu curso. E só poderá concluí-lo
mediante uma política de assistência estudantil que lhe garanta moradia,
alimentação e bolsa de estudo.
Quem é contra apoiar estudantes
como Josemiro?
Ante quase uma semana de greve de
fome, o reitor Natalino Salgado nada diz, nada se manifesta sobre, não
demonstrar qualquer sensibilidade ao caso. Logo ele que, dentre suas ações administrativas,
modificou o nome do "Campus do Bacanga" para "Cidade
Universitária".
Como alerta o GEDMMA, Grupo de
Estudos ao qual Josemiro está vinculado e faz pesquisa, "é uma incoerência pretender
a existência de uma cidade sem moradia e sem moradores".
Como cobra a Chefia de
Departamento de Ciências Sociais, curso que Josemiro faz, "Administração
Superior da UFMA não pode negar o direito desses alunos de terem uma moradia
digna e condições adequadas para desenvolverem os seus estudos".
Como contextualiza a ANEL, "as políticas
de Assistência Estudantil não atendem à demanda necessária para o inchaço das
universidades, fruto da política irresponsável do Governo Federal [...] a
criação de uma pró-reitoria não significa nada, se as ações mínimas para
garantir a permanência dos alunos durante seus estudos não forem garantidas de
fato".
Como denuncia a APRUMA, "nós,
professores da UFMA [...] manifestamos nosso mais veemente apoio ao ato extremo
de greve de fome do aluno Josemiro Ferreira de Oliveira. A luta pela construção
de uma casa de estudante dentro do Campus universitário do Bacanga já dura
vários anos, e tem sido tratada com total descaso pela administração Superior
da UFMA"
Como enfatiza o DCE da UFMA, o que acorrenta a Universidade é falta
de vagas nas casas de estudantes; é a falta de R.U ampliado e nos campi do
interior; é a falta de professores; é falta de laboratório; é A FALTA DE
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL!
Como exigem
movimentos sociais (a exemplo de Cáritas, MST, União de Luta por Moradia,
dentre outros), em carta ao reitor, "a
vida humana está acima de toda e qualquer negociação e o aluno Josemiro
Oliveira corre risco eminente de morte; Exigimos que a reitoria dessa
Universidade receba os estudantes e demais interessados para que seja
imediatamente estabelecido um diálogo que busque a resolução da situação
posta".
Somente o reitor Natalino está certo em não receber os
estudante? Acaso estarão todas essas organizações erradas?
Diversos gestores a UFMA realizaram ações administrativas a fim
de projetar no futuro como seriam lembrados.
Aldy Mello, em 1995, optou por realizar, pela primeira vez
no Maranhão, uma reunião nacional da SBPC. Othon Bastos, em 2000, por ter
implantado as bases da ensino à distância e de sua universidade virtual. Fernando
Ramos, em 2005, por ter sido o que implantou a política de cotas na UFMA, mesmo
quando ela ainda sequer era lei federal.
E Natalino Salgado, quer passar para história como o reitor
que deixou um cadáver no que seria a Casa do Estudante no campus?
Como questiona o professor Flávio Reis:
"Quanto tempo o corajoso
Josemiro ficará ainda lá, acorrentado, para que o Magnífico se digne a conceder
aos estudantes uma audiência, explicar as suas decisões e discutir uma
resolução rápida? Sim, porque o reitor deve explicações, não só aos estudantes,
mas a toda a comunidade acadêmica."
Explicações à comunidade
acadêmica, à sociedade e à História. Eis a diferença entre JOSEMIROS e
natalinos...
(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente.
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