domingo, 1 de dezembro de 2013

MAIS JOSEMIROS, MENOS NATALINOS


Franklin Douglas (*) 



A comunidade universitária da UFMA está estarrecida com um fato: um estudante precisou recorrer a uma greve de fome para reivindicar uma reunião com o reitor Natalino Salgado. Isso mesmo, acorrentando-se ao que seria as instalações da Casa do Estudante dentro do campus do Bacanga, desde o dia 26/11 (terça-feira passada), Josemiro Oliveira reivindica, não para si, mas para os estudantes, de hoje e das gerações futuras, uma única coisa: que seja entregue a Casa do Estudante aos estudantes dos municípios do estado que se deslocam para São Luís a fim de cursarem suas graduações. Já pronta, faltando poucos acabamentos, ela está sendo transformada em prédio administrativo de uma Pró-Reitoria.
Para melhor entender, cara leitora, caro leitor. Há anos, a Universidade mantém uma política estudantil de apoio aos estudantes que vêm para capital fazer seus cursos, após aprovados no vestibular/ENEM. No tocante à moradia, a UFMA apoia as residências universitárias: duas masculinas, REUFMA (Residência Universitária da UFMA) e CEUMA (Casa do Estudante Universitário do Maranhão), e uma feminina (LURAGB - Lar Universitário Rosa Amélia Gomes Bogéa). Além de disponibilizar alimentação, via Restaurante Universitário (R.U), e bolsas de pesquisa/extensão a esses estudantes.
De tempos em tempos, os moradores dessas residências universitárias, chamam a atenção da Administração da Universidade para a calamidade delas: corte de água, luz, vazamento, goteiras, falta de segurança etc.
Em 13 de julho de 2007, após uma ocupação da reitoria, houve uma audiência de conciliação, firmando na Justiça Federal um acordo pelo qual a UFMA comprometia-se a entregar a residência universitária, no campus do Bacanga, que já estava em fase de conclusão.
Em 07 de maio de 2013, após nova ocupação da reitoria, em outra reunião, com a presença da OAB, Defensoria Pública da União, estudantes e reitoria, firmou-se o compromisso de agendamento de um momento para tratar especificamente da entrega da Casa do Estudante. O que até hoje não ocorreu.
Abruptamente, toma-se conhecimento que o que seria a Casa do Estudante, será entregue, mas como sede administrativa da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, um verdadeiro desvio de finalidades dos recursos federais recebidos para tal obra, denunciam os estudantes.
Hoje apenas 89 universitários são assistidos pela moradia estudantil.
A residência universitária, uma vez entregue, teria capacidade para receber 150 estudantes como Josemiro Oliveira: nascido em São José dos Basílios, filho de camponeses, que cursou seu estudos em escola pública e, pelo seu esforço e mérito próprios, alcançou a aprovação no ENEM e se desloca a São Luís para fazer seu curso. E só poderá concluí-lo mediante uma política de assistência estudantil que lhe garanta moradia, alimentação e bolsa de estudo.
Quem é contra apoiar estudantes como Josemiro?
Ante quase uma semana de greve de fome, o reitor Natalino Salgado nada diz, nada se manifesta sobre, não demonstrar qualquer sensibilidade ao caso. Logo ele que, dentre suas ações administrativas, modificou o nome do "Campus do Bacanga" para "Cidade Universitária".
Como alerta o GEDMMA, Grupo de Estudos ao qual Josemiro está vinculado e faz pesquisa, "é uma incoerência pretender a existência de uma cidade sem moradia e sem moradores".
Como cobra a Chefia de Departamento de Ciências Sociais, curso que Josemiro faz, "Administração Superior da UFMA não pode negar o direito desses alunos de terem uma moradia digna e condições adequadas para desenvolverem os seus estudos".
Como contextualiza a ANEL, "as políticas de Assistência Estudantil não atendem à demanda necessária para o inchaço das universidades, fruto da política irresponsável do Governo Federal [...] a criação de uma pró-reitoria não significa nada, se as ações mínimas para garantir a permanência dos alunos durante seus estudos não forem garantidas de fato".
Como denuncia a APRUMA, "nós, professores da UFMA [...] manifestamos nosso mais veemente apoio ao ato extremo de greve de fome do aluno Josemiro Ferreira de Oliveira. A luta pela construção de uma casa de estudante dentro do Campus universitário do Bacanga já dura vários anos, e tem sido tratada com total descaso pela administração Superior da UFMA"
Como enfatiza o DCE da UFMA, o que acorrenta a Universidade é falta de vagas nas casas de estudantes; é a falta de R.U ampliado e nos campi do interior; é a falta de professores; é falta de laboratório; é A FALTA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL!
Como exigem movimentos sociais (a exemplo de Cáritas, MST, União de Luta por Moradia, dentre outros), em carta ao reitor, "a vida humana está acima de toda e qualquer negociação e o aluno Josemiro Oliveira corre risco eminente de morte; Exigimos que a reitoria dessa Universidade receba os estudantes e demais interessados para que seja imediatamente estabelecido um diálogo que busque a resolução da situação posta".
Somente o reitor Natalino está certo em não receber os estudante? Acaso estarão todas essas organizações erradas?
Diversos gestores a UFMA realizaram ações administrativas a fim de projetar no futuro como seriam lembrados.
Aldy Mello, em 1995, optou por realizar, pela primeira vez no Maranhão, uma reunião nacional da SBPC. Othon Bastos, em 2000, por ter implantado as bases da ensino à distância e de sua universidade virtual. Fernando Ramos, em 2005, por ter sido o que implantou a política de cotas na UFMA, mesmo quando ela ainda sequer era lei federal.
E Natalino Salgado, quer passar para história como o reitor que deixou um cadáver no que seria a Casa do Estudante no campus?
Como questiona o professor Flávio Reis:
"Quanto tempo o corajoso Josemiro ficará ainda lá, acorrentado, para que o Magnífico se digne a conceder aos estudantes uma audiência, explicar as suas decisões e discutir uma resolução rápida? Sim, porque o reitor deve explicações, não só aos estudantes, mas a toda a comunidade acadêmica."
Explicações à comunidade acadêmica, à sociedade e à História. Eis a diferença entre JOSEMIROS e natalinos...



(*) Franklin Douglas - jornalista, professor e doutorando em Políticas Públicas (UFMA), escreve para o Jornal Pequeno aos domingos,  quinzenalmente.

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