João de Deus Castro (*)
A pouco mais de dez meses das eleições
gerais de 2014, o quadro político do Maranhão vai se complicando, apesar da
aparência dualista expressada nas últimas pesquisas eleitorais. A última, da Amostragem/Jornal
Pequeno, traz Flávio Dino (PCdoB) com 55,85% e o candidato da oligarquia, Luís
Fernando (PMDB), com 16,54%, o que daria uma vitória folgada já no primeiro
turno ao comunista. Parece fácil. Mas nem tanto. Dino teria que
cometer muitos erros para não ganhar, diriam alguns. Mas já começou, diriam os
mais céticos, os que nunca viram os Sarney perderem de verdade, isto é, perder
sem levar.
A
complicação vem de vários lados. Primeiramente, a deputada Eliziane Gama (PPS),
que começa a despontar nas pesquisas, se aproximando dos dois pontos
percentuais (8,15% na citada pesquisa). Parece pouco, mas não é. Principalmente
se vier colada na candidatura nacional da dupla Campos/Marina. Este, contudo,
está longe de ser o principal problema de Flávio Dino. Preocupado em sair vitorioso do pleito, seus
movimentos vão numa única direção, ampliar pra todos os lados, principalmente à
direita, trazendo oligarcas para o seu lado, sem preocupação visível com a
construção de um núcleo programático politicamente expressivo da grande mudança
que intenciona fazer enquanto governo, qual seja, tirar o Estado da miséria,
colocando-o nos trilhos do desenvolvimento e da ascensão social para as massas
populares.
Seus “Diálogos” pelo interior, reunindo lideranças políticas e sociais
para o debate de um novo projeto, são formidáveis. Mas a aliança que se
configura tende a afastar os setores mais críticos da sociedade, que, apesar de
se colocarem ao lado da mudança nas intenções de voto, ou seja, nas pesquisas,
veem com desconfiança opções preferenciais por Waldir Maranhão (Dep.
Federal-PP) ou Raimundo Cutrim (ex-Sec. de Segurança de Roseana Sarney). Ou
João Castelo (PSDB), derrotado em 2012 em São Luís pelas forças
dinistas, mas cuja presença no palanque comunista seria, segundo o próprio
Flávio, “uma honra”. Para quem já tinha o PDT (em frangalhos) de Weverton Rocha
(ligado a Carlos Lupi, ambos de péssima lembrança), Zé Reinaldo (ex-governador
eleito nos braços da oligarquia) e Roberto Rocha (ex-PSDB, ora no comando do
PSB e de um grupo familiar que já prestou serviços a Sarney), dentre não poucos
outros, a coisa não vai bem. Talvez não impeça a vitória, mas como se pretende
governar assim, ao menos aqueles setores mais críticos querem saber. Pergunta-se: e o latifúndio
ficará intocado? Ou é coisa do passado? E o oligopólio da comunicação no
Estado? E...?
Chamar essa amplitude de aliados conservadores de “Partido do Maranhão”
não passa de máscara para camuflar contradições.
Depois, tem-se um governo engessado e ninguém sabe por quê! E o exemplo já não
está longe. Veja-se quanto a isto o governo da capital, São Luís, de Edivaldo Holanda Jr. (PTC), eleito
com o valioso peso de Flávio Dino. Ainda no seu primeiro ano de mandato, é
verdade, mas sem sinais de avanços significativos nas áreas mais estratégicas –
transporte, educação, saúde e infraestrutura – e com o aumento significativo da
violência e do tráfico na cidade, caso não se faça mudanças firmes até meados
de 2014, em vez de vitrine, a candidatura dinista terá um telhado de vidro.
É
certo que esquerda mesmo, no Maranhão, tá difícil de achar. Afora os partidos
sectários, cujo impacto sobre a realidade ainda não se faz sentir, não há
partido da tradição dita democrático-popular (PDT, PT, PSB, PCdoB, etc.) sem
problemas sérios. Mesmo o PCdoB não é nada sem o próprio Flávio, um egresso do
PT. Mas é certo também que acenar
para todos os presidenciáveis ao mesmo tempo – Dilma, Campos e até Aécio –,
como vem fazendo o candidato, não ajuda. É preciso volver noutra direção
do espectro político e construir um núcleo duro que garanta que uma vez no
governo se possa dar conta das tão propaladas transformações. Por ora, aceitemos apenas o fato de que já não se fazem
mais comunistas como antigamente.
PT
Nesta
conjuntura, o PT ainda joga um papel central, para o bem ou para o mal (como,
infelizmente, tem sido). Não pela sua força no Estado, que só fez diminuir com
sua participação no governo da oligarquia, mas por governar a nação e ter um
significativo tempo de TV e Rádio no horário eleitoral. Dividido, oficialmente
no governo Roseana com o vice Washington Oliveira, que ora é nomeado para cargo
vitalício como membro do Tribunal de Contas do Estado (este batizado com o
próprio nome da governadora!), o partido é assim afastado da linha sucessória
do governo do Estado para que este sirva melhor à candidatura Luís Fernando! O
partido realizou recentemente um PED (o Processo de Eleições Diretas de seus
dirigentes), que elegeu Luís Henrique Souza presidente estadual com o apoio, em
segundo turno, da Resistência Petista. Henrique defende candidatura própria do
PT, a Resistência propõe apoio a Flávio Dino logo no primeiro turno. Enquanto
isso, o grupo de Monteiro, candidato de Washington, que divulgou para a
imprensa vitória logo no primeiro turno baseado em apuração paralela própria
(!), a despeito do resultado proclamado pelas instâncias partidárias e comissão
organizadora do PED, tenta mais uma vez um golpe junto à direção nacional, que
por sua vez ficou de discutir a situação ainda este ano. Se o golpe lograr
êxito, o PT/MA perderá novamente a possibilidade de resgatar-se historicamente,
além de tirar mais ainda opções à esquerda para Flávio Dino, seja no primeiro
turno seja no segundo.
(*) João de Deus Castro - Servidor Público do MPF/SP,
ex-Sec. de Juventude do PT/Ma e ex-Sec. Geral do DCE-UFMA (2000-2001).
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