domingo, 8 de dezembro de 2013

Artigo João de Deus - Os problemas de Flávio Dino (ou: Já não se fazem mais comunistas como antigamente)




João de Deus Castro (*)

A pouco mais de dez meses das eleições gerais de 2014, o quadro político do Maranhão vai se complicando, apesar da aparência dualista expressada nas últimas pesquisas eleitorais. A última, da Amostragem/Jornal Pequeno, traz Flávio Dino (PCdoB) com 55,85% e o candidato da oligarquia, Luís Fernando (PMDB), com 16,54%, o que daria uma vitória folgada já no primeiro turno ao comunista. Parece fácil. Mas nem tanto. Dino teria que cometer muitos erros para não ganhar, diriam alguns. Mas já começou, diriam os mais céticos, os que nunca viram os Sarney perderem de verdade, isto é, perder sem levar.
A complicação vem de vários lados. Primeiramente, a deputada Eliziane Gama (PPS), que começa a despontar nas pesquisas, se aproximando dos dois pontos percentuais (8,15% na citada pesquisa). Parece pouco, mas não é. Principalmente se vier colada na candidatura nacional da dupla Campos/Marina. Este, contudo, está longe de ser o principal problema de Flávio Dino. Preocupado em sair vitorioso do pleito, seus movimentos vão numa única direção, ampliar pra todos os lados, principalmente à direita, trazendo oligarcas para o seu lado, sem preocupação visível com a construção de um núcleo programático politicamente expressivo da grande mudança que intenciona fazer enquanto governo, qual seja, tirar o Estado da miséria, colocando-o nos trilhos do desenvolvimento e da ascensão social para as massas populares.
Seus “Diálogos” pelo interior, reunindo lideranças políticas e sociais para o debate de um novo projeto, são formidáveis. Mas a aliança que se configura tende a afastar os setores mais críticos da sociedade, que, apesar de se colocarem ao lado da mudança nas intenções de voto, ou seja, nas pesquisas, veem com desconfiança opções preferenciais por Waldir Maranhão (Dep. Federal-PP) ou Raimundo Cutrim (ex-Sec. de Segurança de Roseana Sarney). Ou João Castelo (PSDB), derrotado em 2012 em São Luís pelas forças dinistas, mas cuja presença no palanque comunista seria, segundo o próprio Flávio, “uma honra”. Para quem já tinha o PDT (em frangalhos) de Weverton Rocha (ligado a Carlos Lupi, ambos de péssima lembrança), Zé Reinaldo (ex-governador eleito nos braços da oligarquia) e Roberto Rocha (ex-PSDB, ora no comando do PSB e de um grupo familiar que já prestou serviços a Sarney), dentre não poucos outros, a coisa não vai bem. Talvez não impeça a vitória, mas como se pretende governar assim, ao menos aqueles setores mais críticos querem saber. Pergunta-se: e o latifúndio ficará intocado? Ou é coisa do passado? E o oligopólio da comunicação no Estado? E...?
Chamar essa amplitude de aliados conservadores de “Partido do Maranhão” não passa de máscara para camuflar contradições. Depois, tem-se um governo engessado e ninguém sabe por quê! E o exemplo já não está longe. Veja-se quanto a isto o governo da capital, São Luís, de Edivaldo Holanda Jr. (PTC), eleito com o valioso peso de Flávio Dino. Ainda no seu primeiro ano de mandato, é verdade, mas sem sinais de avanços significativos nas áreas mais estratégicas – transporte, educação, saúde e infraestrutura – e com o aumento significativo da violência e do tráfico na cidade, caso não se faça mudanças firmes até meados de 2014, em vez de vitrine, a candidatura dinista terá um telhado de vidro.
É certo que esquerda mesmo, no Maranhão, tá difícil de achar. Afora os partidos sectários, cujo impacto sobre a realidade ainda não se faz sentir, não há partido da tradição dita democrático-popular (PDT, PT, PSB, PCdoB, etc.) sem problemas sérios. Mesmo o PCdoB não é nada sem o próprio Flávio, um egresso do PT. Mas é certo também que acenar para todos os presidenciáveis ao mesmo tempo – Dilma, Campos e até Aécio –, como vem fazendo o candidato, não ajuda. É preciso volver noutra direção do espectro político e construir um núcleo duro que garanta que uma vez no governo se possa dar conta das tão propaladas transformações. Por ora, aceitemos apenas o fato de que já não se fazem mais comunistas como antigamente.

PT
Nesta conjuntura, o PT ainda joga um papel central, para o bem ou para o mal (como, infelizmente, tem sido). Não pela sua força no Estado, que só fez diminuir com sua participação no governo da oligarquia, mas por governar a nação e ter um significativo tempo de TV e Rádio no horário eleitoral. Dividido, oficialmente no governo Roseana com o vice Washington Oliveira, que ora é nomeado para cargo vitalício como membro do Tribunal de Contas do Estado (este batizado com o próprio nome da governadora!), o partido é assim afastado da linha sucessória do governo do Estado para que este sirva melhor à candidatura Luís Fernando! O partido realizou recentemente um PED (o Processo de Eleições Diretas de seus dirigentes), que elegeu Luís Henrique Souza presidente estadual com o apoio, em segundo turno, da Resistência Petista. Henrique defende candidatura própria do PT, a Resistência propõe apoio a Flávio Dino logo no primeiro turno. Enquanto isso, o grupo de Monteiro, candidato de Washington, que divulgou para a imprensa vitória logo no primeiro turno baseado em apuração paralela própria (!), a despeito do resultado proclamado pelas instâncias partidárias e comissão organizadora do PED, tenta mais uma vez um golpe junto à direção nacional, que por sua vez ficou de discutir a situação ainda este ano. Se o golpe lograr êxito, o PT/MA perderá novamente a possibilidade de resgatar-se historicamente, além de tirar mais ainda opções à esquerda para Flávio Dino, seja no primeiro turno seja no segundo.

(*) João de Deus Castro - Servidor Público do MPF/SP, ex-Sec. de Juventude do PT/Ma e ex-Sec. Geral do DCE-UFMA (2000-2001).

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