Professora Mary Ferreira, do Departamento de Biblioteconomia da UFMA:
"desde os meus tempos de estudante nesta universidade até hoje, como professora, mesmo tendo atravessado os anos de chumbo da ditadura, nunca presenciei tamanha intransigência dentro da UFMA como vejo hoje"
Carta da Professora Maristela ao reitor Natalino:
Ao Magnífico Reitor da UFMA
Prof. Dr. Natalino Salgado Filho
Magnífico Reitor,
Como professora aposentada desta instituição e docente/pesquisadora ainda vinculada à pós graduação e à formação de alunos de graduação no Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (GERUR), que coordeno desde 1992 e que sempre acolheu estudantes de origem camponesa, dirijo-me à Vossa Magnificência para expressar minha preocupação com a dramática situação do aluno do Curso de Ciências Sociais Josemiro e de outro colega seu da REUFMA, que tomaram a decisão de acorrentar-se na UFMA e de realizar greve de fome, como forma de chamar a atenção para a necessidade de resolução da questão da moradia estudantil.
A radicalidade dessa forma de protesto que expõe a saúde e a própria vida dos alunos, chama atenção pela causa que a motiva: o direito daqueles que vem do interior do estado à residência estudantil de qualidade e dentro do campus.
Várias universidades públicas do país abrigam esse tipo de moradia de estudantes dentro dos seus campi. Nesses espaços residem alunos do interior, assim como de outros estados e países. Por que a UFMA não pode adotar essa mesma política de acolhida, destinada a assegurar moradia àqueles que, apesar da origem social e condição econômica desfavoráveis, conseguiram ingressar nos cursos de graduação de nossa Universidade?
A UFMA ainda acolhe muitos estudantes cuja posição de classe, em outras situações, não lhes permitiria estudar, na capital, numa universidade de qualidade ou sequer chegar ao ensino superior. Muitos filhos de camponeses, como é o caso de Josemiro, ainda conseguem chegar até nós. Esses filhos de camponeses ou de outros extratos pobres do meio rural desafiam as estatísticas, confrontam as teorias relativas à reprodução das desigualdades sociais, na base da qual está a impossibilidade de aquisição de suficiente capital escolar e cultural. Vários deles, contrariando as regras, tornam-se ótimos alunos, nos quais temos, como universidade pública, o dever de investir. São pessoas que lutam com dificuldades financeiras extremas, contra a carência de capital escolar, o que não os impede, porém, de se sobressair como alunos e de demonstrar potencial para a pesquisa, como é o caso de Josemiro, aluno com quem tive oportunidade de conviver na preparação da I Jornada Internacional de Ciências Sociais que organizamos em nosso programa de pós graduação.
A UFMA possui inúmeros Josemiros, estudantes que cotidianamente enfrentam todo tipo de adversidades para realizar o sonho da conclusão do curso de graduação que, em muitos casos, não é objetivo apenas individual, mas familiar. Vários são os únicos membros da família a chegar até o ensino superior.
É lamentável que a situação tenha chegado a esse ponto. Custa-me crer, como professora que tenta formar outros alunos como Josemiro, que a UFMA, considere a residência estudantil algo menos importante, ou que avalie ser perigoso ter alunos residindo dentro do campus. Não é compreensível que a administração superior não valorize dar esse passo à frente, dando seguimento a um projeto que, segundo consta, é antigo.
Sendo assim, peço respeitosamente que a administração superior reconsidere sua posição, retome o diálogo com os estudantes, sem o que de nada valem os demais esforços de modernização da UFMA, já que a formação dos discentes é o fim primeiro e último de nosso ofício e a razão de existir de nossa instituição. Tenho certeza que Vossa Magnificência encontrará meios de atender as reivindicações dos estudantes acerca dessa situação que tanto os angustia, a ponto de jovens arriscarem sua saúde para chamar a atenção para o problema.
Atenciosamente,
Maristela de Paula Andrade
Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais
Grupo de Estudos Rurais e Urbanos
Universidade Federal do Maranhão
Prof. Dr. Natalino Salgado Filho
Magnífico Reitor,
Como professora aposentada desta instituição e docente/pesquisadora ainda vinculada à pós graduação e à formação de alunos de graduação no Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (GERUR), que coordeno desde 1992 e que sempre acolheu estudantes de origem camponesa, dirijo-me à Vossa Magnificência para expressar minha preocupação com a dramática situação do aluno do Curso de Ciências Sociais Josemiro e de outro colega seu da REUFMA, que tomaram a decisão de acorrentar-se na UFMA e de realizar greve de fome, como forma de chamar a atenção para a necessidade de resolução da questão da moradia estudantil.
A radicalidade dessa forma de protesto que expõe a saúde e a própria vida dos alunos, chama atenção pela causa que a motiva: o direito daqueles que vem do interior do estado à residência estudantil de qualidade e dentro do campus.
Várias universidades públicas do país abrigam esse tipo de moradia de estudantes dentro dos seus campi. Nesses espaços residem alunos do interior, assim como de outros estados e países. Por que a UFMA não pode adotar essa mesma política de acolhida, destinada a assegurar moradia àqueles que, apesar da origem social e condição econômica desfavoráveis, conseguiram ingressar nos cursos de graduação de nossa Universidade?
A UFMA ainda acolhe muitos estudantes cuja posição de classe, em outras situações, não lhes permitiria estudar, na capital, numa universidade de qualidade ou sequer chegar ao ensino superior. Muitos filhos de camponeses, como é o caso de Josemiro, ainda conseguem chegar até nós. Esses filhos de camponeses ou de outros extratos pobres do meio rural desafiam as estatísticas, confrontam as teorias relativas à reprodução das desigualdades sociais, na base da qual está a impossibilidade de aquisição de suficiente capital escolar e cultural. Vários deles, contrariando as regras, tornam-se ótimos alunos, nos quais temos, como universidade pública, o dever de investir. São pessoas que lutam com dificuldades financeiras extremas, contra a carência de capital escolar, o que não os impede, porém, de se sobressair como alunos e de demonstrar potencial para a pesquisa, como é o caso de Josemiro, aluno com quem tive oportunidade de conviver na preparação da I Jornada Internacional de Ciências Sociais que organizamos em nosso programa de pós graduação.
A UFMA possui inúmeros Josemiros, estudantes que cotidianamente enfrentam todo tipo de adversidades para realizar o sonho da conclusão do curso de graduação que, em muitos casos, não é objetivo apenas individual, mas familiar. Vários são os únicos membros da família a chegar até o ensino superior.
É lamentável que a situação tenha chegado a esse ponto. Custa-me crer, como professora que tenta formar outros alunos como Josemiro, que a UFMA, considere a residência estudantil algo menos importante, ou que avalie ser perigoso ter alunos residindo dentro do campus. Não é compreensível que a administração superior não valorize dar esse passo à frente, dando seguimento a um projeto que, segundo consta, é antigo.
Sendo assim, peço respeitosamente que a administração superior reconsidere sua posição, retome o diálogo com os estudantes, sem o que de nada valem os demais esforços de modernização da UFMA, já que a formação dos discentes é o fim primeiro e último de nosso ofício e a razão de existir de nossa instituição. Tenho certeza que Vossa Magnificência encontrará meios de atender as reivindicações dos estudantes acerca dessa situação que tanto os angustia, a ponto de jovens arriscarem sua saúde para chamar a atenção para o problema.
Atenciosamente,
Maristela de Paula Andrade
Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais
Grupo de Estudos Rurais e Urbanos
Universidade Federal do Maranhão
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