O imortal Natalino, no traço de Caju |
Marizélia Ribeiro (*)
A Academia Maranhense de Letras (AML), representada
pelo seu atual presidente, o jornalista e advogado Benedito Buzar, em solene
posição corporativista e de desprezo à consideração dos vários lados envolvidos
na questão em foco, emitiu uma Moção de Desagravo a um de seus
pares, o reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Essa moção, a bem da verdade, não disse claramente
a que veio. Tão somente declara que a AML, “entidade cultural ciosa das altas
tradições de Civilização e Cultura que são glorioso apanágio de nosso povo,
e cônscia dos laços históricos que a aproximam da UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO, para cuja criação contribuiu diretamente, manifesta sua incondicional
solidariedade ao Professor Doutor NATALINO SALGADO FILHO, Reitor da mencionada
IES, e que foi vítima de tratamento incompatível com a dignidade universitária,
mormente em se tratando de gestor que vem realizando na UFMA administração
benemérita e por todos os títulos exemplar.”
Moção tão cega nos elogios ao "confrade" quanto
na inobservância sobre o que se passou na UFMA durante os dez dias em que
estudantes tiveram a coragem de colocar a própria vida em defesa do
direito à moradia, condição para uma vida digna.
Se isto não lhes sensibiliza, senhores imortais,
informo-lhes que essa luta também decorreu do não cumprimento, pela atual
administração da Universidade, de compromissos formais firmados entre o
ex-reitor da UFMA e os estudantes, desde 2007, com chancela, inclusive, do
Ministério Público Federal (MPF), para finalização do prédio que deveria ser a
residência estudantil no Campus do Bacanga. Na gestão desse mesmo ex-reitor, o
Plano Estratégico de Desenvolvimento Institucional (PEDI) foi aprovado na
reunião de 14/03/2005 do Conselho Universitário (CONSUN), através da Resolução
Nº 77. A UFMA se comprometia a elaborar projetos para construir Residências
Estudantis. O atual reitor, enquanto conselheiro pelo Hospital Universitário, deve
ter participado dessa reunião.
Em que se baseou a AML para se colocar em
“incondicional solidariedade” ao Magnífico Reitor da UFMA?
O presidente imortal Benedito Buzar, cassado pela
Ditadura Militar Brasileira (1964/1985) e recentemente homenageado pela Assembleia
Legislativa com “devolução” do seu mandato, não enviou qualquer representante
para ouvir os estudantes. Estranho para quem escreveu sobre politicalha –
exploração através do Estado para atender interesses de grupos em detrimento da
coletividade!
Nenhum representante dessa entidade observou que a
população de São Luís se colocou solidária aos estudantes, nas manifestações em
avenidas e na entrada do campus do Bacanga, nas redes sociais e em dezenas de
cartas de apoio. Por ocasião das duas paralisações na barragem do Bacanga, em
que pese terem suas vidas alteradas pelo movimento, a maioria dos que por lá
transitavam se
mostrava a favor da causa estudantil.
Certamente, o estudante Josemiro será mais lembrado
e reconhecido do que muitos imortais da AML, entidade que não divulga as
qualificações que precisam ter os candidatos à imortalidade acadêmica.
Quanto às manifestações de professores e alunos
ocorridas à porta do imóvel particular do Magnífico, no final da manhã do dia
30/11/2013, serem consideradas uma “prática de cafajestadas” pelo imortal Jomar
Moraes, é uma indicação de que ele parece ter esquecido que o público e o
privado sempre se misturaram na UFMA. Quando procurador dessa instituição,
Jomar Moraes deve ter ouvido falar sobre funcionários públicos federais serem
deslocados de suas funções para prestarem serviços em residências de gestores
da Universidade.
O que o acadêmico chama de “cafajestada” foi
uma decisão de assembleia, na busca de soluções urgentes para um movimento cuja
forma extremada preocupava a todos; foi uma manifestação pacífica para
solicitar ao Magnífico – cujo local de trabalho na UFMA foi mantido trancado
desde o início das manifestações – que tomasse atitudes para dar fim à greve de
fome de Josemiro.
Naquela manhã, por telefone, o reitor recusou o
pedido da deputada Eliziane Gama de incluir professores e alunos na Comissão
que tentou resolver o impasse, a qual teve como integrantes o defensor Público
Yuri Costa e o Deputado Bira do Pindaré, entre outros. Os dois deputados representavam
a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa no nosso estado.
O ex-procurador, a meu ver, tentou desqualificar
essa inesquecível luta social quando tentou reduzi-la a “expedientes de
politicalha” pela aproximação de pleitos eleitorais no Maranhão e na
UFMA. Quanto às eleições no âmbito da Universidade, ele não deve ter
sido informado sobre a ausência de uma “chapa branca” nas eleições do dia
18/12/2013 para a diretoria da Associação de Professores da UFMA (APRUMA).
Os organizadores dessa “chapa” não devem ter encontrado professores dispostos a
amargar uma terceira derrota consecutiva!
Para os que não me conhecem, me apresento como pediatra e professora da
UFMA que trabalha no Núcleo de Extensão da Vila Embratel, um bairro do entorno
da universidade. O meu certificado mais importante é uma Menção Honrosa dada
por entidades comunitárias por eu ter participado da luta pelas aquisições do
Centro de Saúde da Vila Embratel e do Adolescentro.
Finalizando, faço minhas as palavras do poeta Luis Augusto Cassas. Ele
critica a AML por se manter distante aos problemas sociais. O poema Diabetes,
que é bem representativo do meu pensamento, está em seu primeiro livro,
República dos Becos, de 1981.
DIABETES (Luis Augusto Cassas)
Os imortais da Academia
estão tomando chá:
gestos polidos unhas aparadas
bigodes tosados pernas cruzadas
no melhor estilo gótico
excedem-se no dietético
para adocicar a conversa
Não sabem que lá fora
a vida é amarga e má;
que a arte está é nas ruas
mercados feiras e prisões
— eles os imortais —
imobilizados em seus fardões
imortalizados imorredouros
mortos
(*) Marizélia Ribeiro – Doutora em Políticas Públicas
(UFMA), professora de pediatria (UFMA) e diretora da APRUMA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário