sábado, 24 de janeiro de 2009

Sarney: sem consenso e sem Lula

Por Haroldo Saboia

O senador José Sarney, após meses fazendo campanha pelo consenso em torno de seu próprio nome para a presidência do Senado, acabou derrotado.

Foi uma campanha inovadora. Todos os dias, o velho coronel fazia publicar uma declaração sua negando ser candidato, tendo o cuidado sempre de lembrar que "se chamado por seus pares", para "evitar disputas inúteis", poderia pensar em aceitar ser "o nome de consenso".
E sempre, sempre, dava lá o seu jeito para que os jornalistas nunca esquecessem ser ele, Sarney, "o candidato preferido do presidente Lula".

Creio que muitos brasileiros (e brasileiras) foram convencidos de que o presidente Lula não pensou em outra coisa, em suas férias de fim de ano, na Ilha de Fernando de Noronha, a não ser em Sarney, presidente por consenso do Senado. É que do Natal ao Dia de Reis, não vi jornal que não lembrasse que a primeira coisa que faria o Lula quando voltasse a Brasília era falar com o Sarney.

O jornalista Kennedy Alencar, repórter especial da Folha de São Paulo, chegou mesmo a afirmar;
"Lula deseja uma conversa definitiva com José Sarney. Se ele disser sim, Lula falará com o senador Tião Viana (AC), candidato do PT a presidente do Senado, para que ele desista da candidatura" (Folha de São Paulo, 14/01/2009).

Sarney disse sim e Lula, não. (O primeiro, que era como sempre foi candidatíssimo; o segundo, que não o apoiaria nem tampouco pediria a desistência do senador Tião Viana).

O velho coronel Sarney acabou, assim, sem consenso e sem Lula; mas agarrado como nunca em suas ambições e interesses.

Derrotado, comete um gravíssimo erro na própria formulação de sua candidatura. Na matéria que citamos, o colunista da Folha de São Paulo afirma:
- "Sarney quer ser candidato para fortalecer o seu clã político no Maranhão";
- "a Presidência do Senado daria ao ex-presidente da República força para tentar frear eventual operação da Polícia Federal contra um filho dele"
Essas afirmações - não contestadas nem desmentidas - são reveladoras tanto quanto estarrecedoras.

Reveladoras, pois, informam ao país que um seu ex-presidente da República ao colocar, meses a fio, seu nome a disposição de seus pares para presidir o Senado e o Congresso Nacional, o fazia não por espírito público, por ideais republicanos, mas por mesquinhas motivações decorrentes de disputas regionais.

Estarrecedoras à medida que dão conta que o senador José Sarney busca o cargo também com propósitos confessadamente criminosos tais como o de obstruir investigações policiais e eventuais processos judiciais contra seu filho e sócio, Fernando Macieira Sarney, em liberdade por força de salvo conduto.

Deste episódio fica claro que o presidente Luis Inácio Lula da Silva não se deixou levar pela cantilena consensual do seu caríssimo aliado José Sarney (Ministério de Minas e Energia, Eletrobrás, Eletronorte, ANTAQ, Banco da Amazônia, todos os cargos federais no Maranhão e Amapá, etc. etc. etc.).

Enquanto José Dirceu, com certeza por afinidades éticas, acha natural apoiar Sarney e reitera em seu blog de 21/01/2009 "inclusive para lhe fortalecer frente às derrotas no Maranhão", Lula, inteligente, já percebe enfraquecimento de Sarney. (Não é a toa que Lula é presidente com 80 por cento de aprovação, e Dirceu não pode sequer freqüentar lugares públicos...)

Paciente e exímio negociador, amadurecido nos embates sindicais, Lula tem extraordinária intuição política e aguçado sentido de autoridade. Não se deixa pautar por matérias como aquelas que Sarney costuma tanto "plantar" na imprensa. Quantas vezes não lemos nos jornais que Lula iria oferecer o Ministério da Saúde em troca do apoio do senador Tião Viana a Sarney?
Sem Lula e sem consenso, Sarney caiu na vala comum e sua campanha no vale tudo.

Já voltou até mesmo, em outras escalas e graus, a oferecer troca-troca de votos. Agora, dizem correligionários seus nos quatro cantos de São Luis sem pedir segredo, Sarney estaria, enfim, disposto a negociar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vaga na Academia Brasileira de Letras em troca do apoio do PSDB a sua candidatura a presidência do Senado. (Nesse andar da carruagem, Sarney vai ter logo, logo, que propor aumento de cadeiras na ABL).

O certo é que não está fácil para o velho coronel da Maguary.

Como convencer o PSDB e o PFL, partidos de oposição a Lula, com forte presença no Senado a abrir mão da presidência de Comissões importantes como a de Justiça, a de Relações Exterior, e a de Economia? Esses cargos fariam parte de um protocolo a ser formalizado pelo senador Tião Viana, do PT, e as bancadas dos tucanos e pefelistas.

Apoiada por partidos de esquerda e centro esquerda, como o PSOL e o PDT, a candidatura do petista Tião Viana ganha força apesar de toda a influencia que Sarney ainda tem na grande imprensa. Mas é questão de tempo.

Derrotado na busca do consenso, derrotado na tentativa de conquistar o apoio de Lula, Sarney agora será derrotado no voto, como no voto foi derrotada sua filha Roseana pelos maranhenses que elegeram Jackson governador.

Nota:
Recebi do Secretario de Estado do Turismo, Sr.João Martins, carta tentando explicar a exclusão do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses na disputa pela escolha das 7 Maravilhas Naturais do Mundo . Nela o Dr. João Martins afirma:
... "pessoas, órgãos, comitês é que falharam em suas proposições inclusive assumindo sem a devida competência suas funções e gerando fracasso.
Como faço parte de uma equipe de Governo muitas vezes necessitamos ficar em silêncio para não gerar conflitos, porém o Senhor Governador tem conhecimento de todos estes fatos."

3 comentários:

Anônimo disse...

É inegável, que o desenvolvimento humano, se dê, sobretudo, através de debates, buscando saídas para os grandes dilemas sociais. Portanto, quem os ignora, remete-se à escuridão que durante séculos nos fez pensar que a terra era uma grande mesa quadrada. Alguns iluminados, chamados de “loucos” , foram duramente reprimidos, por ousarem contra os costumes impostos pelo clero em nome do “grande rei”.

Felizmente, a humanidade sobreviveu às trevas, e muitos reis, deram conta que estavam nus, alguns súditos tardiamente perceberam, mas não deixamos de evoluir por causa desses. Os seminários chegam num bom momento, quando nos preparamos para o Fórum Social em Belém.

Isso ae, grande Franklin, muito boa Haroldão!

Anônimo disse...

Veja isso dos palhaços da corte do JP Pinóquio

Os blogueiros do Jornal Pequeno(www.jornalpequeno.com.br), Robert Lobato, John Cutrim e Ricardo Santos, além de outros blogueiros companheiros como Eri Castro, Franklin Douglas, José Reinaldo Tavares, Ed Wilson, Edson Vidigal, Anselmo Raposo e demais, solicitam apoio daqueles que compartilham do entendimento de que a candidatura do senador Tião Viana (PT/AC) é a única que atende aos princípios republicanos e democráticos para qualificar as ações do Senado Federal.

Nesse sentido, estão sendo mobilizados todos que comungam dessa idéia para um café (bate-papo) da manhã na próxima terça-feira, às 8h no Hotel Abbeville, localizado na Avenida Castelo Branco,500,São Francisco. Essa é a idéia básica sujeita a sugestões que possam melhorá-la e enriquecê-la no sentido de transformar o 'café da manhã' num ato político de apoio a Tião Viana e "contra as chantagens e ameaças de Zé Sarney, uma ameaça iminente aos interesses do Maranhão caso "tome'' a presidência do Senado, diga-se de passagem sem o apoio do presidente Lula o qual preza pela alternância democrática de poder nas duas casas - PT (Senado) e PMDB (Câmara). No evento, será lançada a campanha "Quem conhece Sarney somos nós, Maranhenses".

http://www.jornalpequeno.com.br/2009/1/25/Pagina97279.htm

Frank Lima disse...

olá querido FRanklin, parece que o vovô já esta se frustrando com a sua velhice.

estou sentindo um cheiro de mudança.

sucesso.