domingo, 5 de abril de 2009

Auto–retrato de um oligarca: fragmentos

Por Haroldo Saboia

Encontrei esta semana dois textos: um artigo de página inteira “O OLIGARCA DA LIBERDADE”, assinado por Gilberto Menezes, (OEMA, 04/11/1990); e, outro , a guisa de réplica: “AS ‘LIBERDADES’ DO OLIGARCA”,de autoria de Gilberto Menezes Jr. Muito bem redigido, o texto de Menezes Jr,esclarece:

“Causou-me espanto encontrar nas páginas sombrias de O Estado do Maranhão, de domingo, 4 de novembro do corrente ano, o artigo O Oligarca da Liberdade. Espanto e dissabor, na verdade, e explico aos maranhenses o porquê.(...) Assinava a página de lisonja Gilberto Menezes, meu pai, falecido a 31 de março de l964. Homem puro e simples, trabalhou de sol a sol como embarcadiço, entre Alcântara e São Luis, para sustentar sua vasta prole, que, orgulhosa, dele cultiva e defende a honra e a memória. Cumpre, portanto, que eu proclame aos quatro cantos: Gilberto Menezes, o meu pai, nunca foi serviçal da vaidade de ninguém, jamais navegou no norte das águas e não é o autor daquele panegíricos desafinado”.

Como afirma Menezes Jr., pelo estilo, “o artigo foi escrito com a caneta de José Sarney”. É que a máscara do pseudônimo não consegue esconder o enorme ego do José Sarney, feliz, ao proclamar-se Oligarca da Liberdade.

Metódico como um serial killer e com a precisão de um ourives, o velho coronel Sarney tem uma obsessão, verdadeira idéia fixa: transformar uma história construída de espertezas, uma vida medíocre em uma biografia ilustre e honrada.

A leitura de passagens do texto de “Gilberto Menezes” permitirá aos leitores visualizar um verdadeiro auto-retrato de José Sarney desenhado com as tintas e os pincéis com que ele próprio agride seus aliados/desafetos. O tom e a crueldade são do senhor de escravos e seus feitores. A seguir, trechos do Acadêmico de Curupu, verdadeiro Manual de Redação do sistema mirante e seu satélite marrom.

1 Jose Sarney (“G. Menezes”) sobre João Castelo - “Vai daí, no capítulo, o exemplo mais patético de uma obra mal feita, que foi precisamente João Castelo. Sarney pegou o rapaz, que vegetava na condição de obscuro barnabé, arrancou-lhe a casca grossa, deu-lhe um polimento, um banho de loja e soltou-o nos grandes itinerários. (...) Esse rapazinho percorreu os escalões superiores das administrações diversas até chegar ao Governo do Estado, sempre pela mão de seu fundador político.” (OEMA, 4/11/90)

“Aí, presa da vertigem de seu próprio personagem, Castelo se esculpiu uma máscara. Examinado com boa vontade e por certos ângulos e cortes de luz, o fenômeno se revelou inusitado. Perturbador. Em suma, a nova criatura se investiu nas aparências mais notável do seu criador, das entonações de voz algo evangélica aos bigodes e jaquetões talhados dentro das mesmas simetrias.” (...) “Tudo que restou da clamorosa pantomima foi a imagem do desertor e do ingrato que agora flagela nas brumas televisivas, vociferando a “oligarquia” que o faz gente.” (OEMA, 4/11/90)

2 Jose Sarney (“G. Menezes”) sobre Cafeteira - “Se as obras, os empreendimentos efetuados no Maranhão, nos últimos cinco anos, tivessem dependido apenas dos recursos do Estado – como pretende o antigo Governador Cafeteira – estaríamos diante de um milagre sem precedente no mundo. Um simples dado serve para demonstrar a inconsistência burlesca da pretensão do ex-governador Cafeteira.”

“Na linha telefônica direta que Cafeteira manteve com Sarney durante 5 anos está a resposta banal que explica o mistério ou “milagre”. Milagre que foi simbolizado por milhares de placas açambarcadas de paternidade, contendo no meio de um desenho sanguinolento as letras “F E”, certamente extraídas – por um lapso significativo do massacre usurpador, freudiano toda a vida – da palavra FEDERAL! ” (OEMA, 4/11/90)

3 Jose Sarney sobre José Reinaldo - “Nunca, na história do Maranhão, viu-se um governante de tamanha miséria moral. A começar pelo exemplo familiar. Não se trata de entrar na privacidade de ninguém. O Sr. José Reinaldo deu exemplo de mau filho, mau esposo, mau pai, mau parente e degradou-se na submissão conjugal, sem o mínimo respeito pela nobreza da função governamental, de onde deve sair o exemplo”(OEMA 01/01/2007)

“Vamos libertar o Maranhão dos Melos marqueteiros pagos a peso de ouro e das Melas que estão sugando as tetas do Maranhão. Vamos nos libertar de Zé Reinaldo, o traidor que perdeu o caráter e todos os valores. Vamos nos libertar desse Judas andrajoso e repugnante, que vai arder na fogueira de sua própria consciência.” (OEMA, 29/10/2006)

“Em 1967 levei-o para o DER, em 1970, o fiz secretário de Planejamento. Em 1990, o elegi deputado federal, em 1994, vice-governador. Repeti a dose em 1998, embora todos me advertissem de que ele não era mais o mesmo, depois de um casamento que todos sabem o bufônico fim que tomou. Lutei para fazê-lo candidato a governador, cargo que ocupou duas vezes. Nunca passou um dia na vida fora de um cargo que não tivesse sido dado por mim. Assim, o maior beneficiário desses 40 anos foi ele” (OEMA, 01/01/2007).

4 Jose Sarney sobre Jackson Lago - “O Maranhão de 40 anos atrás, dos tempos do vitorinismo a que Jackson e sua família pertenciam, era o tempo da chibata, das surras e prisões de jornalistas, da falta de liberdade, dos bandos de Papai Noel a espancar todos os que se opunham àquele mandonismo” (OEMA, 29/10/2006)

“Jackson tem uma história política e familiar respeitável, ao contrário de José Reinaldo” (OEMA,01/01/2007).

“A mentalidade de Jackson é do século XIX. Sua cabeça está impregnada do ódio e da vingança de um tempo que já passou”. (OEMA, 29/10/2006)

5 Jose Sarney (“G. Menezes”) sobre José Sarney - “Por uma disposição inexcedível de sua índole tolerante e perseverante na indulgência, Sarney nunca soube usar da crueldade na apreciação dessa matéria complexa, plena de ambivalências, sujeita a mutações tão imprevisíveis, que é a natureza humana.” (OEMA, 4/11/90). (...) “Com a virtuosidade de todo verdadeiro artista da política, Sarney prosseguiu em sua rota, sem se deixar abater pelas misérias e fraquezas dos homens, convicto de que “na vida pública a mais ruinosa e nefasta das posturas é ser pequeno”. (OEMA, 04/11/90)

O ataque à família de seus desafetos é nota constante na abjeta linguagem de Sarney. Seus adversários são todos desprovidos de qualquer mérito. Seus antigos aliados, todos “cascas grossas” que tiveram que receber do velho coronel “polimento e banho de loja”. Os cargos públicos que porventura tenham ocupado - por eleição ou nomeação - foram prebendas e sinecuras concedidas pela vontade pessoal do Velho Coronel.

Ao desqualificar antigos aliados e colaboradores com tal vileza, baixeza e ignomínia, Sarney ou desvela a fragilidade de espírito de seus aliados de hoje ou está a ameaçá-los com o açoite e o chicote em caso de futuro rompimento. E isto vale para todos os seus domínios: para o Maranhão, o Amapá e..., agora, mais uma vez, para o Senado da República.

Desde que traiu Vitorino, Sarney - em sua expressão tão predileta - cospe sempre no prato que come. Fez isto com Maluf, com Ulisses e com os militares que tanto e por tanto tempo bajulou. Que o Lula tenha cuidado...

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente artigo.
Franklin, veja o artigo do Roberto Pompeu de Toledo na revista Veja que saiu hoje, domingo. Tem um artigo também execelente sobre o Sarney: "O Oligarca perfeito".