quinta-feira, 12 de março de 2009

Poesia de Quinta

POESIA DE QUINTA - Número 23
Por Deila Maia


Sei que, em geral, o Projeto Poesia de Quinta é bem leve, um pequeno oásis poético semanal em meio a tantas atribulações da vida quotidiana. Este aqui é um pouco diferente, pois trata de um tema bem sério e atual, só que através de uma forma de poesia divertida, irreverente e popular, que é a poesia de cordel.

Sou uma grande apreciadora do cordel, com sua verborragia espontânea e simples, que derrama sobre nós versos como se fossem as lavas de um vulcão. Sua origem remota é de Portugal, que introduziu o gênero no Brasil, sendo que atualmente é um produto bem típico da região Nordeste (não exclusivo).

É, sem dúvida, uma belíssima forma de representação da cultura popular brasileira, tratando dos temas mais diversos e com esta recente polêmica, os cordelistas não perderam tempo e já elaboraram uma belíssima obra.

O autor desta poesia é MIGUEZIM DA PRINCESA, nome artístico de Miguel Lucena, que é delegado e jornalista, de 43 anos, residente em Brasília.

Espero que gostem, divulguem, reflitam e compartilhem com outras pessoas.

O Poesia de Quinta de hoje vai especialmente dedicado à minha querida amiga e companheira de aventuras KATIUSCIA DA COSTA PINHEIRO (mais conhecida como a Rainha Kat, para os íntimos) que foi classificada em primeiro lugar no I Prêmio Ieda Batista, um concurso de artigos científicos acerca das questões de gênero, abordando a intersexualidade. Parabéns!!!!! Você merece mais esta conquista.


A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
Miguezim de Princesa

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

Um comentário:

Anônimo disse...

REBU NO COLUNÃO DO SARNÊ


Ma'que tanto fuzuê,
lá na casa de Dadá.
Sem vinho bom,sem patê,
W R tá que tá!

"- Adalgisa tu não vê?
Aqui mandam o Murad,
Fefé e o Aziz Baculê.
Prá eu e tu não parar de mamar"