Nascimento, o poeta da hora presente

Por Haroldo Saboia

José de Nascimento de Morais Filho, poeta e revolucionário, nasceu da convulsão das eras e trazia dentro de si a metamorfose das idades, quebrou as algemas dos milênios, escalou tenebrosas masmorras, ergueu seus braços de ferro aos céus. Todas estas aventuras ele nos confessou em seu Clamor do Petróleo. O mesmo poema em que confidenciou:

"Se tenho a cor do negro das noites negras,
trouxe o fulgor da luz de novos sóis!"

Tive a felicidade de conviver com o Poeta. Juntos, Nascimento, Raul Ximenes Galvão, Maria Aragão, Aldionor Salgado, Josefa Batista Lopes, Policarpo Costa, Célia Pires, Ananias Neto, João Otavio Malheiros, Josemar Pinheiro, Ribamar Bogea, Otho, Salcher e tantos, tantos outros como as irmãs missionárias Barbara e Anny, os professores Mauricio e Kazue, constituímos o Comitê de Defesa da Ilha que, primeiro, levantou a bandeira de resistência contra a implantação da Alcoa em São Luís.

O Comitê de Defesa da Ilha foi o mais belo e longo dos poemas que Nascimento escreveu sem conseguir finalizá-lo. Não tem problema... as novas gerações saberão tomar o lápis, levantar as bandeiras, escrever e cantar os poemas de lutas que ele nos ensinou a todos!

Com emoção, trechos do seu CLAMOR DA HORA PRESENTE:

Vinde a mim!/Vinde a mim, jovens de todo o mundo!
Sou o filho da Miséria e da Injustiça
- Revolução é o meu nome!
Rugem dentro de mim/os desejos recalcados das multidões!
Trago dentro em mim a angústia dos mártires
e arrastam-se comigo as vidas mutiladas!
Em cada lágrima de dor soluça uma inocência crucificada
e estorcem-se comigo as dores dos séculos!
Na minha boca faminta,
tenho a fome de todos os que morrem sem comida!
Empunho a destruição das castas
- a Justiça na minha destra heróica vibro!
Sou mais livre do que os ventos!
- trago dentro em mim todas as liberdades perdidas,
e vivem em minha vida todas as vidas não vividas
Vinde a mim! /Vinde a mim, jovens de todo o mundo!

Jovens,/A Liberdade é sol!
Mas antes de o sol relumbrar
Numa ofuscante hipérbole de luz,/ressurge no Horizonte
ainda ensangüentado de crepúsculo!...
- Rebelai-vos! Rebelai-vos
Quebrai, ó almas acorrentadas, quebrai /as Pesadas Cadeias da Opressão!
Destruí os Monstros Sagrados,/que vos devoram no Holocausto Social!...
A Lei Servil - Capanga dos Potentados - /queimai-a! queimai-a!
A Toga Corrupta rasgai-a em praça pública,/rasgai-a!
E entronizai na Liberdade o Povo destronado!

Em vez das profanadas imagens das igrejas
colocai uma letra do alfabeto em cada altar!
Ressuscitai a Fé,/erguendo o altar de Deus nos corações!
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Jovens,/vós que fostes Jesus, há dois mil anos,
expulsai do Sagrado Templo da Humanidade!
as Malditas Alcoas!
- Bestas-Feras,/que, fantasiadas de ilusões douradas,
acenam-vos com Esmeraldas da Esperança!...
- Alumar de Três Cabeças
(Billiton, Alcoa, Shell)!
Besta-Fera,/que, mascarada de Progresso,
Alu-mata
A Terra!... as Águas!... o Ar!...
Alu-mata
O Verde!... o Azul!...
Alu-mata a Vida
Expulsai as Malditas Alcoas!
- Alcoas, que alu-matam o corpo!
- Alcoas, que alu-matam a alma!
Expulsai-as/com o látego de vossa cólera divina
- Expulsai-as! Expulsai-as!
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Jovens,/O Novo Dia vos chama! /- Marchai! Marchai!
Condores,/O Infinito vos espera! /- Voai!